EXPOSIÇÃO: “Geografias Construídas: Paulo Mendes da Rocha”
Curadoria | Jean-Louis Cohen, Vanessa Grossman
Consultadoria científica | Catherine Otondo
Projeto expositivo | Eduardo Souto de Moura, Nuno Graça Moura
Casa da Arquitectura
26 Mai 2023 > Fevereiro 2024
Primeiro Associado Honorário da Casa da Arquitectura e amigo de longa data da instituição, Paulo Mendes da Rocha é agora objeto de um tributo alargado que percorre sete décadas de actividade e convoca várias dimensões da sua pessoa, do homem que pensa o mundo ao arquiteto que o constrói. A exposição assenta no acervo doado pelo arquitecto à Casa da Arquitectura, representando parte significativa da sua produção profissional, desde finais dos anos 50, logo após a sua formação académica, concluída em 1954. Trata-se de um conjunto documental extenso e riquíssimo, constituído por desenhos, textos, fotografias e maquetes, quer dos seus primeiros projetos, ainda em co-autoria com o arquiteto João Eduardo de Gennaro, quer de obras emblemáticas como a sua própria casa em São Paulo, denominada Casa Butantã, a Casa Gerber em Angra dos Reis, o Estádio Municipal Serra Dourada em Goiânia, o Museu Nacional dos Coches em Lisboa ou o Museu Brasileiro de Escultura em São Paulo, entre outros.
O arquitecto estreou-se em 1958, em S. Paulo, com a construção do Ginásio do Clube Atlético Paulistano, um marco emocionante para o modernismo brasileiro. A partir dos seus primeiros projetos, como este anel de betão combinado com finos cabos de aço, até às suas últimas obras, e desde moradias privadas a programas de grande escala, a exposição reformula, na sua complexidade, um contributo muitas vezes catalogado, de forma simplista, como brutalismo. As principais obras de Mendes da Rocha inscrevem-se na rede variável e transgeracional de parceiros e colaboradores, entre estudantes, arquitetos, artistas e engenheiros, com quem trabalhou desde os anos 1960 até à década de 2010. Inseridas na cultura urbana do Brasil, exprimem uma preocupação constante com os recursos naturais e os materiais da Terra. A exposição reúne uma consciência geográfica de trabalho à escala das casas e prédios que estabelecem diálogo com a topografia de São Paulo e de grandes volumes que abordam as majestosas paisagens do Brasil e o maior litoral inter e subtropical do mundo.
Uma seleção de materiais de arquivo documenta a imaginação e os métodos de concepção do arquitecto, desde os seus impressionantes esquissos conceituais até ao desenho preciso de detalhes de construção que ele dispôs em folhas de grandes dimensões. Um espaço criativo dentro da exposição combina fotografias e imagens antigas de edifícios com as sombras e o movimento das contemporâneas incursões de vídeo dentro deles e à sua volta. As lendárias delicadas maquetas de estudo do arquiteto, de pequena escala e em papel, dialogam com grandes maquetas produzidas especialmente para a exposição. Concebida por Eduardo Souto de Moura e Nuno Graça Moura, a instalação orquestra uma intensa relação entre os materiais de arquivo, apresentados numa mesa central, e as paredes pontuadas por grandes projecções que mostram aos visitantes a vida quotidiana dos edifícios. Passo a passo, o percurso desvela as geografias expandidas da obra de Mendes da Rocha, desde os confins mais íntimos das casas que ele projetou e construiu ao longo da sua vida até às suas vastas visões, que se estendem desde São Paulo até ao continente americano e ao cosmos.
Num segundo momento, a Galeria da Casa acolhe a exposição “Paulo: Para além do Desenho – Conversando com Paulo Mendes da Rocha”, com curadoria de Marta Moreira e Rui Furtado e projeto expositivo de Ricardo Bak Gordon. À espera do visitante está um vídeo composto por dez entrevistas e palestras de Paulo Mendes da Rocha, disponível em cinco ecrãs de forma assíncrona e acompanhado de uma seleção de cento e sessenta imagens exibidas em tablets. Desta forma, propõe-se um diálogo entre o arquitecto e o visitante para que, de uma forma íntima, sem filtros ou interpretações, sejam abordados os mais variados temas, expondo o que pensava, o que o movia e por que lutava Mendes da Rocha. Espera-se que o que resultar desse encontro possa contribuir para que melhor se compreenda o pensamento que está por detrás das obras que realizou, dos projectos que propôs e da concepção do mundo por que lutou.
[Texto composto a partir do Dossier de Imprensa que acompanha a exposição]
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