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terça-feira, 18 de julho de 2023

CONCERTO: Stanley Clarke "N'4 EVER"



CONCERTO: Stanley Clarke “N’4 EVER”
FIME - 49.º Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório de Espinho
17 Jul 2023 | seg | 21:30


Nascido em Filadélfia em 1951, Stanley Clarke desenvolveu desde muito novo um enorme interesse pela música. Começou por tocar acordeão e violino mas, aos onze anos de idade, decidiu agarrar-se a um instrumento mais consonante com o seu metro e oitenta de altura, acabando por se fixar no contrabaixo. Embora a sua formação musical fosse essencialmente clássica, ter assistido a um concerto com o saxofonista Byard Lancaster, ainda na década de 60 do século passado, levou-o a enveredar pelos caminhos do jazz. Não tardaria a conhecer Chick Corea e o resto é aquilo que se sabe: Com o teclista fundou a inovadora banda de fusão Return to Forever, ajudando a redefinir o som do jazz. Também embarcou numa bem sucedida carreira a solo, editando mais de 40 álbuns nos quais explorou uma vasta gama de sons, desde o funk e R&B ao post-bop e ao jazz modal. Foi distinguido com quatro prémios Grammy, tendo pisado o palco com Quincy Jones, Stan Getz, Art Blakey, Paul McCartney, Jeff Beck, Keith Richards, Aretha Franklin, Stevie Wonder, Chaka Khan, The Police, Herbie Hancock, Bob Marley, Miles Davis, entre muitos outros.

Foi esta verdadeira “lenda viva” que se apresentou na noite de ontem no Auditório de Espinho, trazendo consigo o prodigioso pianista georgiano Beka Gochiashvili e os não menos prodigiosos Emilio Modeste, no saxofone, Colin Cook, na guitarra e Jeremiah Collier, na bateria. Fazendo justiça ao jazz de fusão, a sua imagem de marca, Clarke centrou o alinhamento do concerto em “Romantic Warrior”, álbum de 1976 gravado ao lado de Chico Corea, Al di Meola e Lenny White, tendo para oferecer uma mistura de rock e funk, R&B e hip-hop, a vibração do samba, os ritmos quentes do Caribe, os sons urbanos de Chicago ou Nova Iorque e um toque vibrátil de electrónica. Levando ao limite as potencialidades da banda, Stanley Clarke fez do tempo do concerto uma experiência musical imersiva, vibrante e livre, capaz de arrancar entusiásticos aplausos ao espectador mais empedernido. Foi assim que vimos os corpos debruçados para a frente num balancear irrefreável, as mentes rendidas ao fascínio de uma música que não se escuta todos os dias, as gargantas prontas para transformar o gozo em grito, as mãos num tremular constante dispostas a retribuir toda a força e energia que crescia do palco.

Nomear os pontos altos do concerto será sempre tarefa ingrata, tantos e tão intensos eles foram. Mas fica na memória a felicidade de Stanley Clarke quando o público aplaudia um solo de um dos jovens membros da banda, estimulando-os a “mostrarem-se” mais, visto o seu valor ser indiscutível. De igual modo, é incrível o desempenho do próprio Clarke tanto no contrabaixo como no baixo eléctrico, tocados com igual força e alegria. A energia de Jeremiah Collier é outro aspecto marcante do concerto, ele que “perdeu” o seu chapéu “LA” mas “ganhou” uns óculos espelhados. Há ainda um diálogo incrível entre o contrabaixo e a bateria no último tema do alinhamento, um solo de guitarra acústica de Colin Cook também nesta última peça e ainda um momento único de Gochiashvili na sua Yamaha, num tema de Charlie Mingus, “Goodbye Pork Pie Hat”, escrito em memória de Lester Young. As últimas palavras diferem do tom geral de entusiasmo deste apontamento e têm a ver com a chamada da jovem Natasha Agrama ao palco, para cantar “You’re Everything”, um tema escrito por Chick Corea. Um verdadeiro equívoco já que, sem voz e sem alma, da cantora ficaram os esgares e uma falta de presença indisfarçável. Cinco minutos confrangedores, verdadeira nódoa caída no melhor pano.

[Foto: Festival Internacional de Música de Espinho | https://www.facebook.com/fimespinho]

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