CERTAME: FIMO – Festival Internacional de Marionetas de Ovar 2023
Bruno Gama (POR), Companhia Beto Hinça (BRA), Companhia da Oficina (POR), Contacto (POR), Daria Ivanova-Hololobova (UCR), Grupo Mosaico Cultural (BRA), La Pajarera Puppet Show (ARG), Marionetas Rui Sousa (POR), S.A. Marionetas (POR), Títeres Cachirulo (ESP), Twisted Fairground (ESP), Urdime (ESP), Vate (POR)
Organização | União das Freguesias de Ovar, S. João, Arada e S. Vicente de Pereira
Ovar, vários locais
09 Jun > 11 Jun 2023
Oeiras, Espinho, Alcobaça, Sintra, Ílhavo, Faro, Caminha, Lousã, Gondomar, Évora, Montemor-o-Novo, Lisboa, Porto, Ovar… É um clube restrito, o dos certames que, em Portugal, elegem as Marionetas, nas mais variadas formas, como fulcro da sua atenção. “Poucos, mas bons”, parece-me escutar, ao que eu contraporia que deveriam ser mais, de tal forma o carácter popular desta arte se funde com a tradição, constituindo uma forma de espalhar cultura pelos mais diversos espaços, junto de um público que, normalmente, a ela não tem o devido acesso. Os marionetistas sabem, pois, da responsabilidade acrescida que sobre eles pesa. Por esse motivo, na construção das formas animadas e na sua manipulação, no desenho dos cenários, na escrita dos textos e na interpretação das peças, colocam o melhor de si, transformando cada espectáculo num momento de arte e engenho, de sonho e fantasia, um momento simultaneamente lúdico e divertido, capaz de tocar a criança de tenra idade ou o mais provecto dos anciãos com histórias de encanto e espanto.
Ao longo de três dias, Ovar foi o epicentro nacional do Teatro de Marionetas graças à 16ª edição do FIMO – Festival Internacional de Marionetas de Ovar 2023. Trazendo com ele 23 espectáculos produzidos por treze companhias de cinco países, o certame teve ainda para oferecer vários workshops de marionetas, uma Feira de Artesanato e espaços de diversão espalhados pelo centro da cidade, mobilizando um número elevado de espectadores de todas as idades. Falando exclusivamente daquilo a que tive oportunidade de assistir, na manhã e parte da tarde do último dia, começaria precisamente pelo workshop de marionetas “Vertep”, levado a cabo pela ucraniana Daria Ivanova-Hololobova. Parte integrante do património cultural ucraniano com quase quatro séculos de existência, o vertep é um teatro de marionetas portátil que remete para as cenas da natividade. Convidadas a recriar as figuras de Maria e do menino, dos anjos ou do Rei Herodes, as crianças mostraram a sua destreza no domínio de tesouras e cartolinas, colas e tecidos. Quem sabe, no próximo 25 de dezembro um vertep possa abrigar-se debaixo do pinheirinho de uma casa ovarense, unindo portugueses e ucranianos naquilo que é o verdadeiro espírito natalício.
No Parque Urbano de Ovar, o Teatro de Marionetas provou a sua abrangência com uma peça conduzida por Márcia Leite, da Companhia da Oficina. Dirigida essencialmente a um público de tenra idade, “O Urso Que Não Era” conta a história de um urso que, ao ver aproximar-se o Inverno, se prepara para hibernar. Enquanto isso acontece, porém, a floresta onde habita dá lugar a uma grande fábrica e, ao acordar, espera-o uma grande surpresa. Com delicadeza e expressividade, Márcia Leite socorre-se de um vasto conjunto de formas animadas para nos falar da dificuldade crescente em mantermos a nossa identidade num mundo cada vez mais compartimentado, dominado pela burocracia, espoliado nos seus recursos e ameaçado de extinção. Um mundo de “homens tontos”. Do Brasil, o Grupo Mosaico Cultural trouxe “Lampião e Maria Bonita”, a história de um amor que acabou em tragédia e que tem como protagonistas os dois cangaceiros mais famosos de todos os tempos. A música e a boa disposição foram uma constante nesta peça interpretada por Nando Rossa, Ludmila Flores e Rafa Cambará, interagindo com um animado “bando de cangaceiros” (ou seja, o “público”) e arrancando dele os mais entusiásticos aplausos.
Nas sessões da tarde, a Companhia de Títeres Cachirulo apresentou “Camiño de Aventuras”, dando a ver o encontro, no Caminho de Santiago, entre o peregrino Gaiferos, a quem a Rainha Isabel de Castela incumbiu a “missão impossível” de buscar a paz com os mouros, e o Diabo, que tudo faz para o desviar dos seus objectivos. Bruno Gama apresentou “Zé Pastel”, dando plasticidade e vida a um conjunto de objectos que, manipulados com destreza, arrancaram saborosas gargalhadas ao público. A companhia catalã “Twisted Fairground” trouxe um conjunto de marionetas em grande formato, mesclando o teatro físico com os autómatos e a manipulação de fios. Com uma abordagem próxima aos filmes de terror de série B, onde não faltou sequer um Dr. Frankenstein recrutado entre o público, “Los Secretos de Ecdisis” teve em Matt Knight e Azucena Desparpajo Zuk dois terríficos anfitriões. Termino com Beto Hinça, cuja companhia é presença assídua no certame vareiro desde a primeira hora. A forma descontraída como interage com o público, a nota de provocação a arrancar longos “nãos” à pequenada, faz de Beto Hinça um marionetista de excelência e deste “Magia Musical” um espectáculo super-divertido, pleno de suspense, onde cachorros e trapezistas, bailarinas e esqueletos percorrem o palco, arrastando com eles a marca da surpresa e do insólito.
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