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quarta-feira, 14 de junho de 2023

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “À Luz ou à Sombra do que Foi e Continua a Ser”


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “À Luz ou à Sombra do que Foi e Continua a Ser”,
de vários artistas
Curadoria | Betty Ketchedjian, Roger Mokbel, Tarek Haddad
Bienal ’23 Fotografia do Porto
Casa Comum - Reitoria da Universidade do Porto
18 Mai > 02 Jul 2023


Em contexto local ou mais global, de que grandes acontecimentos nos recordamos nos últimos anos? Nessa lista que fazemos mentalmente cabe a explosão no porto de Beirute? Como processámos as notícias desse tempo e como as vemos à distância de quase três anos? Há algo de semelhante entre as sociedades libanesa e portuguesa? Proposta integrada no Caderno de Ativação — dispositivo de mediação desenvolvido para a Bienal'23 Fotografia do Porto pelo coletivo ARISCA —, “À Luz ou à Sombra do que Foi e Continua a Ser” é uma exposição de um colectivo de doze fotógrafos libaneses que aborda uma miríade de acontecimentos dos quais foram testemunhas ao longo dos últimos anos. O desenho da exposição sugere um carácter cíclico da própria História do Líbano através de abordagens visuais e intimistas que passam pelo documentário, storytelling e instalação, evocando reflexões sobre como narrativas de maior escala persistem colectivamente e moldam várias gerações.

“Tell the Trees to Smile”, de Myriam Boulos, é um dos projectos que integra a exposição. Usando a fotografia como forma de aproximação à realidade, enquanto meio de questionamento da cidade, das pessoas e do seu próprio lugar no mundo, a artista combina imagens, testemunhos e fragmentos do seu diário para documentar as repercussões da explosão que abalou Beirute a 04 de Agosto de 2020. “Still Life”, de Tarek Haddad, foca-se na relação entre humanos e o seu ambiente, convidando-nos a contemplar a desaceleração do tempo instilada pela degradação da situação económica e política no Líbano seguida pela pandemia. Em “The Trees Before Last”, Ieva Saudargaite explora a forma como materiais, gestos e cenas aparentemente mundanos se relacionam com o status quo. Este projecto retrata os últimos habitantes de Beirute, onde árvores solitárias parecem seres míticos que saem das sombras para partilhar as suas histórias de luta e sobrevivência, à semelhança dos habitantes humanos da cidade. Laura Menassa, em “A Quest of Identity”, partilha uma deriva pela história da sua própria timeline, revelando o impacto das circunstâncias sociopolíticas do Líbano na sua vida pessoal.

“The Disrupt”, de Elsie Haddad, documenta os eventos recentes do Líbano através da mera observação do estado dos painéis publicitários ao longo dos tempos. Numa sociedade que revolve em torno da imagem, o esvaziamento gradual do conteúdo visual alerta-nos para as diferentes problemáticas que assolam o país, corrompido desde há décadas. “While Standing My Ground” acompanha o percurso estático de Rima Maroun por diferentes lugares de Beirute, em busca da conexão com a terra num mundo de caos e incertezas. Edifícios devastados pela explosão relembram-nos dos valores que importam ser definidos, sublinhando a urgência pela estabilidade. “The Shadow of this World” revela o olhar de Paul Gorra sobre Beirute após a explosão que devastou a cidade. Posicionando-se como um estranho desconectado que observa a paisagem numa tentativa de imaginar o mundo novamente, evita a visão insustentável do horror que definiu uma nova ordem social e política naquele lugar.

Com “And Then, it’s Oh so Quiet”, Roger Mokbel percorre em 2019 uma cidade carregada de revolta e esperança, ao mesmo tempo que lida com os tumultos pessoais de uma separação amorosa. A série “Unsettled”, de Manu Ferneini, explora o conceito de identidade social, seja real, construída ou imposta, evocando o sentimento de viver num país em colapso social, económico e ambiental, e a aceitação da tensão instalada enquanto prisma natural através do qual se orienta a vida no Líbano. Omar Gabriel convida-nos, em “Four Walls”, a entrar dentro do seu círculo seguro , onde quatro paredes se tornam refúgio para a comunidade queer libanesa, protegendo-a da rejeição vivida na cidade. Através de um olhar intimista, Gabriel retrata amigos e amantes explorando os seus corpos e as suas identidades, tornando-se veículos para a resistência e revolução. Finalmente, “Out of Hand” confronta-nos com uma situação inesperada que se impõe como gatilho de uma profunda sensação de impotência. Este desconforto é exacerbado pela instalação sonora que Betty Ketchedjian integra na obra, materializando e tornando consciente a ausência de controlo do espectador.

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