EXPOSIÇÃO DE DESENHO E ESCULTURA: “Revisitar Jorge Vieira”
Curadoria | Noémia Cruz
Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, Estremoz
11 Fev > 30 Abr 2023
“ (...) eu tinha uma certa propensão para o surrealismo. A lírica e a mística do surrealismo seduziam-me na altura e seduzem-me ainda. Sentia-me irmanado com aquela gente e comecei a fazer coisas, se calhar sem muita consciência, que podiam já filiar-se numa atitude surrealista (...)”.
Jorge Vieira
Apesar de ter já chegado ao fim, não posso deixar de falar da revisitação de uma parte da obra de Jorge Vieira, escultor pertencente à terceira geração de artistas modernistas portugueses, considerado por José Augusto França como o mais importante escultor português da década de 1950. A mostra esteve patente no Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, em Estremoz, reunindo desenhos e esculturas representativos do seu percurso artístico de cinco décadas, dando a ver as técnicas e materiais mais utilizados, assim como as suas principais influências, do primitivismo ao classicismo, do surrealismo ao abstracionismo.
Noémia Cruz, viúva do artista e curadora desta exposição, quis que as obras mostrassem, não apenas o artista, mas também o homem. Por isso nos fala de si e de Jorge Vieira como um só, das muitas viagens que fizeram e que foram a todos os títulos enriquecedoras, das “histórias deliciosas, irónicas, surrealistas, e também as que mostram o lado negro da humanidade”. Exemplo disto é a obra escolhida para cartaz da exposição e que tem um historial ligado a este lado negro do ser humano: “1970, a PIDE invade e destrói a sede da revista Seara Nova. Um grupo de artistas cria originais, alusivos a esse acto de barbárie, para edição de serigrafias, cuja venda será para ajudar à recuperação da sede da referida revista. Apesar desse lado negro Jorge Vieira dá-nos este grito de esperança”, lembra.
A citação de Jorge Vieira, que introduz este pequeno texto, poderá levar, quem estiver menos familiarizado com a sua obra, a intuir que é um escultor surrealista. Não é, “tenho uma ética surrealista”, afirmava quando o queriam meter na “gaveta” dos surrealistas, no entanto a vertente surrealista é predominante, o que é normal para quem tem uma ética surrealista, o que se pode constatar nesta exposição. Percorrer, com olhos de sentir, estas esculturas e desenhos, é um convite a uma viagem sensorial, a inesperados saltos no tempo / espaço, a um mergulho inebriado em mundos passados, presentes e futuros, por onde Jorge Vieira terá andado, no seu processo criativo, até chegarmos, num passo de mágica, ao seu universo. Porque “a arte também é magia e sonho.”
[Baseado no texto curatorial da autoria de Noémia Cruz]
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