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quinta-feira, 26 de maio de 2022

CONCERTO: "A Estranha Beleza da Vida"



CONCERTO: “A Estranha Beleza da Vida”
Rodrigo Leão Cinema Project
Coro da Academia de Música do Orfeão de Ovar
Maestrina | Laura Rui
Centro de Arte de Ovar 
21 Mai 2022 | sab | 21:30


Foi com casa cheia que Ovar recebeu o Rodrigo Leão Cinema Project no Auditório do seu Centro de Arte. O caso não era para menos. Se por um lado o público reconhece em Rodrigo Leão um compositor de excelência, sempre aberto à exploração de diferentes géneros, capaz de fazer de cada música uma viagem através das paisagens mais íntimas, por outro havia a particularidade de poder ver em palco, ao lado dos músicos que habitualmente o acompanham - Ângela Silva (voz, sintetizador e metalofone), Viviena Tupikova (voz, violino e piano), Carlos Tony Gomes (violoncelo) e João Eleutério (guitarra, baixo, sintetizador, percussão, harmónio indiano e coros) -, o Coro da Academia de Música do Orfeão de Ovar, composto por Joana Pinho, Leonor Almeida, Luana Sousa, Giovanna Goette, Lara Santiago, Leonor Barbas, Lara Cid, Margarida Andrade, Carolina Vilela e Joana Veiros, sob a direcção da talentosa Laura Rui. Uns e outros não defraudaram as expectativas e a noite foi mágica.

É interessante perceber o quanto o cinema e os imaginários que convoca estão ligados à música de Rodrigo Leão. Escutá-la é mergulhar num mar de celulóide, entre “belas e monstros”, “lágrimas e suspiros”, “grandes ditadores” e “homens tranquilos”. Foi assim com o tema de abertura, “Who Can Resist”, extraído do álbum que deu o nome ao concerto e que é, todo ele, uma homenagem ao grande cinema italiano do pós-guerra. Nino Rota e Federico Fellini desprendem-se do seu tom dolente, melodiosamente belo, e é com deleite que escutamos os acordes enquanto abraçamos Gelsomina e a puxamos mais para junto de nós. O concerto prosseguiu dentro de uma mesma toada, desde logo com “O Maestro” (Fellini, lá está!) e “A Valsa da Petra”, para acabar em “Voz de Sal”, oito temas mais tarde. Pelo meio, tempo para revisitar duas músicas incontormáveis de Rodrigo Leão, o inebriante “Tardes de Bolonha” e o poderoso “Pasión” (a fazer-me recordar o quanto gosto da Lula Pena). Tempo também para escutar “O Método” e “Red Poem”, do álbum “O Método”, que viria a preencher toda a parte final do concerto.

Foi já com o Coro da Academia de Música do Orfeão de Ovar em palco que escutámos “Dresden” e “O Cigarro”. E se no primeiro tema as muito jovens cantoras pareceram acusar em demasia o peso da responsabilidade, não conseguindo tirar o melhor partido da força e a beleza das suas vozes, já “O Cigarro” foi bem diferente, com o coro a servir de contraponto perfeito à voz carregada de Viviena Tupikova, cantando na sua língua natal, o russo, uma letra composta por si. “A Bailarina”, tema que pôs fim ao alinhamento do concerto, foi um momento sublime, a harmonia das vozes e dos instrumentos a fazer-nos acreditar na beleza da vida, por muito estranha que possa ser. O encore, generoso, trouxe-nos mais três temas, o último dos quais, “Ave Mundi Luminar”, foi apoteótico. Foi um recuar de quase três décadas no tempo, revisitando o trabalho de estreia a solo de Rodrigo Leão - escudado com o Vox Ensemble - e esse verdadeiro pilar do universo do compositor, simultaneamente sujeito e objecto de um percurso que sabe combinar, da melhor forma, a modernidade e a universalidade. Ângela Silva e o Coro estiveram perfeitos. Uma noite memorável!

[Foto: Ovar/Cultura | https://www.facebook.com/ovarcultura/photos/]

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