Não me é fácil gostar da música de Armandinho. Mas é ainda mais difícil não gostar de Armandinho. Nesta aparente contradição radica o que de mais intrigante e de mais fascinante me foi dado ver e sentir num Cine-Teatro de Estarreja repleto de um público que, desde o primeiro momento, fez da sua presença um acto de festa e de celebração. E começaria precisamente por falar do público, um público muito diferente daquele que habitualmente preenche a sala de espectáculos de Estarreja, um público maioritariamente jovem e com um travo a canela na voz. Um público brasileiro, portanto, altamente motivado para escutar um dos seus, disposto a fazer do tempo de um concerto um tempo de histórias e memórias plantados no hemisfério sul, na margem direita do grande lago atlântico. Armandinho percebeu isso desde o primeiro momento. Espalhou a sua música como quem desfralda uma bandeira. O Brasil fez-se presente, misturando a batida pop e o reggae com o fado e a saudade. E a “galera” vibrou.
Porque é que não me é fácil gostar da música de Armandinho? Porque é, como ouço dizer desde que me lembro, “vira o disco e toca o mesmo". Há ritmo e cor e vida na música do cantor, mas escuta-se uma música e estão todas escutadas. Da mesma forma, as letras não primam pela originalidade. “Quando chegar o entardecer / é impossível não lembrar de você”, que encontramos em “Casa do Sol”, poderia muito bem ser o refrão de “Rosa Norte”, “Semente” ou “Desenho de Deus”. Mas que importância é que isso tem quando há centenas de gargantas na sala a entoar música após música, a preencherem os largos momentos em que Armandinho se debruça sobre o violão e se entrega, solto e livre, nas mãos do público? Sem nunca ter ouvido uma música sequer das mais de vinte que o artista cantou, sinto-me à margem de uma festa que apenas posso tentar compreender. Mas que me emociona e me faz acreditar ainda mais na música e no poder que tem de unir as pessoas em torno dos mais variados ideais.
Num registo praticamente “non stop”, Armandinho foi desfiando os seus maiores êxitos e abrindo espaço à participação do público. A chamada de “dois casais ao palco para dançarem um forró” resultou num momento de controlada euforia, que se foi descontrolando à medida que o concerto caminhava para o final. O público percebeu que em frente ao palco é que era bom e o Cine-Teatro de Estarreja transformou-se num enorme salão de festas onde dançar era a palavra de ordem. Quem, como eu, deixou de poder apreciar tranquilamente o espectáculo, vendo algumas dezenas de pessoas a saltar à sua frente, passou a ter uma de duas soluções: ou vencê-los ou juntar-se a eles. Escolhi a primeira opção e bati em retirada. A caminho de casa uma música parecia não me querer deixar. “Fuma fuma fuma folha de bananeira / Fuma na boa só de brincadeira”. Logo a mim, que nem fumo!
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