Mantendo uma aposta forte na promoção da cidade e na sua dinamização cultural, o Município de Amarante levou a cabo, pelo segundo ano consecutivo, a realização do f/est – Festival Internacional de Fotografia de Amarante. Depois da uma edição zero subordinada ao tema “Ver com olhos de ficar”, o f/est Amarante espalhou-se no último fim de semana pelos mais diversos espaços da urbe, apostado em “rever, repensar, reunir, reflectir, reagir, recomeçar e refotografar”. Desta forma, o certame procurou chamar a atenção para a forma como percepcionamos um mundo em constante mutação, quer olhando-o de um ponto de vista estético, quer buscando nele o nosso próprio espaço, físico, ético e moral. Com curadoria de Lino Santos, o programa teve para oferecer quatro exposições (as quais se irão manter durante as próximas semanas), duas conversas, uma palestra e dois workshops, e ainda um conjunto de iniciativas viradas para os mais novos, bem como a recuperação da fotografia “à la minute”, uma espécie em vias de extinção.
Na expectativa de tirar o máximo partido de um dia em Amarante em torno do f/est, o primeiro momento foi dedicado a uma visita livre à exposição de Paolo Pellegrin, “As I Was Dying”, patente no Museu Municipal Amadeo Souza-Cardoso e sobre a qual falarei proximamente aqui no blogue. Seguiu-se uma visita à exposição de rua “Magnum Photos 75 Years”, orientada por Lino Silva. Ao longo de duas horas, os participantes subiram e desceram ruas e vielas, visitaram praças e caminharam à beira rio, escutando estórias, partilhando experiências e reflectindo sobre os contextos de algumas das setenta e cinco imagens que compõem esta exposição. Ao visitante é oferecido um mapa de Amarante no qual estão assinalados os locais onde as várias imagens podem ser vistas, na sua grande maioria apenas de forma virtual (abrindo-as num smartphone mediante a leitura do respetivo QR Code). Há, no entanto, quinze imagens de grande formato espalhadas pela cidade, a pedirem toda a atenção, não apenas pelo seu valor intrínseco, pelo simbolismo e contexto histórico, mas pelos diálogos que estabelecem com o espaço envolvente. Esta exposição estará patente até ao dia 28 de Agosto e é absolutamente imperdível.
A parte da tarde foi, toda ela, passada nos claustros do Museu Municipal Amadeo Souza-Cardoso, para assistir a duas propostas de grande interesse e alcance. Num primeiro momento, a polaca Agata Kay veio falar do livro “Agata”, resultado de um projecto colaborativo de longo prazo com a fotógrafa belga Bieke Depoorter. Tratou-se, sobretudo, de um testemunho de grande coragem, abordando temas como o poder, a responsabilidade e o controlo, e que permitiu perceber o quanto de criativo (mas também de tóxico) pode haver na relação entre fotógrafo e sujeito fotografado. O último momento, uma conversa moderada pelo jornalista Ricardo Alexandre, permitiu escutar as ideias da jornalista Violeta Moura, da activista Carolina Pereira e da psicóloga Ângela Maia, em torno de um tema extraordinariamente actual: “Fotografia e Conflito”. Do conforto de ser detentor de um bilhete de regresso quando se está a cobrir um conflito ao stress pós-traumático que pode afectar um em cada três destes jornalistas, do desgaste que os sucessivos avanços e recuos nos processos de direitos humanos provocam aos riscos e benefícios associados à proliferação das redes sociais, foram muitos e muito importantes os assuntos abordados, numa óptica realista e iminentemente formativa. Um grande momento de partilha e de aprendizagem.
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