TEATRO: “Porque É Infinito”
Direcção artística | Victor Hugo Pontes
Texto | Joana Craveiro, a partir de uma releitura de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare
Cenografia | F. Ribeiro
Música original | Rui Lima e Sérgio Martins
Direcção técnica e desenho de luz | Wilma Moutinho
Desenho de som | Leandro Leitão
Figurinos | Cristina Cunha, Victor Hugo Pontes
Interpretação | António Júlio, Benedito José, Inês Azedo, Ivo Santos, José Ferreira, Luísa Guerra, Pedro Frias, Rui Pedro Silva, Santiago Mateus, Sofia Montenegro, Vera Santos
Produção | Nome Próprio
Duração 90 minutos | Maiores de 12 anos
Teatro Nacional São João
01 Dez 2021 | qua | 19:00
Escrita entre 1591 e 1595, nos primórdios da carreira literária de William Shakespeare, “Romeu e Julieta” é uma das mais belas e trágicas histórias de amor de todos os tempos. Através dela se imortaliza Romeu, filho único da família Montéquio, e Julieta, filha única da família Capuleto, que se conhecem durante um baile de máscaras em Verona e se apaixonam perdidamente um pelo outro. O seu amor proibido e o desenlace fatal da relação levam a que a história seja um arquétipo do amor juvenil, com as suas deslumbrantes paixões e os seus desgostos viscerais. Foi este o foco da releitura que Joana Craveiro fez da peça, colocando a adolescência em pano de fundo e questionando o amor e os seus limites. Victor Hugo Pontes acrescentou-lhe uma linguagem coreográfica que exalta o turbilhão de emoções em “tempo de excessos adolescentes e de madrugadas longas”. O resultado é este “Porque É Infinito” e é genial.
Há aspectos neste trabalho que importa realçar. Comecemos por onde normalmente ninguém começa, pela direcção técnica e desenho de luz, assinados por Wilma Moutinho. Só com aquela luz, os “quadros vivos” poderiam atingir tais níveis de beleza, as sombras destacarem-se na imensidão do palco, a amálgama de objectos materializarem-se ou os corpos ganharem a dimensão pretendida. Depois há o texto e a forma como é tornado actual sem se desviar do cânone. Vertidas sobre a linguagem do quotidiano, as palavras brotam em diálogos ricos de significado, explorando a ambiguidade e o equívoco, temperados com generosas doses de humor. Assente no ritmo e na batida forte da música original de Rui Lima e Sérgio Martins, a dança vem dar expressão à riqueza do texto, transpondo o torvelinho de emoções para os corpos que, em palco, se apartam ou se enleiam, se multiplicam em gestos, se desgarram, se recompõem.
“Já te aconteceu?” Informal, a interrogação suceder-se-á ao longo da peça, como se um comentador viesse à boca de cena convidar-nos a escavar mais fundo, a romper a espessura das aparências. Aos actores é dada liberdade para, sempre que se justifique, fazerem uma pausa e meditarem na origem ou consequências dos actos que as suas personagens acabam de praticar. Por arrasto, o público é levado a reflectir também, tornando-se cúmplice da trama. Assim nasce um muito útil “manual de instruções”, espécie de guia para sobreviver a corações despedaçados e afins. Dando vida às personagens, oito jovens, com idades entre os 15 e os 20 anos, puseram à prova a sua capacidade de representação e mostraram saber estar em cima de um palco, algo que aconteceu pela primeira vez para a maioria deles. Chapelada da boa para o Ivo, a Inês, o Benedito, a Ana Luísa, o José, o Santiago, a Sofia e o Rui Pedro (e também para os menos novos Pedro, Vera e António Júlio), pela sua generosidade e enorme cumplicidade. Isso foi muito visível da plateia. Parabéns para todos eles.
[Foto: José Caldeira | https://www.nomeproprio.pt/]
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