EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Quatro Tempos e Mais Um”,
de Alfredo Cunha
Museu Municipal de Espinho / FACE
27 Nov 2020 > 29 Jan 2021
“Este Alfredo Cunha de quem se fala é o homem com a sua câmara e o seu olhar. Qualquer bom fotojornalista, e é assim que o conhecemos, intui, antes de o saber claramente, que uma imagem, que deve encerrar todo um conteúdo e uma sedução, é, sempre foi, um momento decisivo. (…) Na longa carreira de 50 anos de Alfredo Cunha, muita coisa mudou: o país que fotografa; o equipamento que usa – já longe da primeiríssima Petri FT, da Leica M3, que começou a usar em 1973, e das Leicas que se seguiram e a que se manteve sempre fiel; o suporte – do analógico, maioritariamente preto e branco, ao digital, que pratica desde 2003. A sua prática estendeu-se à edição, o que lhe permitiu olhar para os outros e definir com clareza o seu próprio caminho. Mas o fotojornalismo continua a ser a sua linguagem preferencial: o seu olhar depurou-se, mas não se alterou substancialmente.”
Teresa Siza
Abrindo uma janela sobre o mundo que habitamos, em particular sobre o nosso país e a sua diáspora de influência, Alfredo Cunha toca-nos pela sua forma de ver atenta e sensível. Das festas religiosas à vida monástica, das lidas da terra à faina do mar, das grandes massas de gente ao ensimesmamento de quem vive a sós consigo próprio, é a alma da gente que se abre ao nosso olhar, entre rostos e gestos belos e únicos. Como escreveu António Barreto, em Alfredo Cunha temos “a fotografia cara-a-cara, olhos nos olhos (...) que inclui os sinais do ambiente, as montanhas vinhateiras, o mobiliário urbano, a sucata, a charrua, o andor de procissão e o cesto de uvas. É quase imperceptível, mas o essencial está lá, em cada imagem: tudo o que é preciso para que se perceba o homem e a sua condição.”
Ao longo de mais de duas centenas de imagens, revivemos as emblemáticas séries de fotografias dedicadas ao 25 de Abril de 1974, o doloroso processo da descolonização portuguesa ou os impactos do PREC, ao mesmo tempo que regressamos a 1989 e à queda do ditador Ceausescu ou acompanhamos as tropas portuguesas na guerra do Iraque. E porque o espaço o permite, esta mostra é complementada com uma “galeria de retratos” cedida pela Sociedade Portuguesa de Autores, onde encontramos muitas das personagens que são parte importante da nossa História recente e que se submeteram ao escrutínio da lente do artista. Interrompida de forma extemporânea graças às medidas governamentais que esqueceram que “a cultura é segura”, a exposição retomará (ou não) o seu ciclo normal após o levantamento do Estado de Emergência. É nisso que pomos “toda a esperança do mundo”.
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