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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Alfredo Cunha | 50 Anos de Fotografia 1970 - 2020"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Alfredo Cunha | 50 anos de fotografia 1970-2020”
Centro Português de Fotografia
17 Out 2020 > 02 Mai 2021


Nome incontornável do fotojornalismo em Portugal, Alfredo Cunha está a festejar cinco décadas de carreira e o Centro Português de Fotografia abre os seus espaços ao público dando a ver uma parte da obra do fotógrafo ao longo deste tempo. Para os indefectíveis do artista, a exposição encerra uma formidável revisitação dos lugares da memória, tornados palpáveis graças à sua arte em captar o momento decisivo. Os menos sintonizados com o seu nome, descobrirão, não sem surpresa, que afinal Alfredo Cunha não lhes será assim tão indiferente. As suas imagens do “dia inicial inteiro e limpo”, têm o cunho de nos devolver a nossa história colectiva. E o mesmo se poderia dizer da série de retratos de pessoas marcantes da nossa sociedade, do fervor que encerram as celebrações religiosas, da vida com máscara em tempos de pandemia ou da faina da pesca a bordo de uma traineira.

Seleccionadas pelo próprio autor, que é também um dos produtores da mostra, as imagens encontram-se distribuídas por oito núcleos: “América América”, “Toda a Esperança do Mundo”, “O Tempo das Mulheres”, “Retratos”, “A Cidade que não Existe”, “Os Rapazes dos Tanques”, “Páscoa / Braga” e “Uma Noite no Mar”. Ora, basta pensar que a grande maioria destes títulos correspondem a momentos de vida e de carreira que Alfredo Cunha levou ao encontro do público sob a forma de um livro ou de uma exposição, para perceber o quão ciclópico e, porventura, dilacerante, terá sido o exercício de escolher alguns temas em detrimento de tantos outros. Quem conhece a obra do mestre, congratular-se-á com cada uma das imagens expostas, sabendo de antemão que alargar a exposição a ponto de abarcar toda a carreira do fotógrafo implicaria termos uma dúzia de “cadeias da relação” à nossa disposição (e mesmo assim julgo que não bastariam). Mas que fazem falta “núcleos” como “A Norte”, “A Cidade das Pontes”, “Fátima – Enquanto Houver Portugueses”, “Felicidade” ou “A Cortina dos Dias”, lá isso fazem.

Regressando à exposição, atente-se na imagem da mulher que segura na mão aquilo que parece ser uma pescada, o pregão quase audível na pose atrevida. Ou no coveiro que, em frente à objectiva, ergue os braços como que a dizer basta. Ou ainda no grupo de transeuntes que se cruzam na cidade, os óculos escuros como uma imagem de marca. Mas a imagem de marca, mesmo, é a máscara nos rostos de todos os retratados, adereço elevado à categoria essencial por força dum vírus que virou a vida de todos do avesso. E isto é em Portugal (mais concretamente na Amadora), como poderia ser em Itália ou na Guiné, em Nova Iorque ou no Sri Lanka. O Alfredo Cunha que nos dá a ver, ouvir e sentir o mundo que nos rodeia no momento “agora”, é o mesmo que perseguimos através dos cliques da sua Leica, numa viagem de meio século ao mais fundo de nós. É quase redundante dizer que esta é uma exposição imperdível, mas atrevo-me a dizer que é urgente vê-la. É que, quanto mais cedo a virmos, mais tempo teremos para a ver de novo.

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