EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Alfredo Cunha | 50 anos de fotografia 1970-2020”
Centro Português de Fotografia
17 Out 2020 > 02 Mai 2021
Seleccionadas pelo próprio autor, que é também um dos produtores da mostra, as imagens encontram-se distribuídas por oito núcleos: “América América”, “Toda a Esperança do Mundo”, “O Tempo das Mulheres”, “Retratos”, “A Cidade que não Existe”, “Os Rapazes dos Tanques”, “Páscoa / Braga” e “Uma Noite no Mar”. Ora, basta pensar que a grande maioria destes títulos correspondem a momentos de vida e de carreira que Alfredo Cunha levou ao encontro do público sob a forma de um livro ou de uma exposição, para perceber o quão ciclópico e, porventura, dilacerante, terá sido o exercício de escolher alguns temas em detrimento de tantos outros. Quem conhece a obra do mestre, congratular-se-á com cada uma das imagens expostas, sabendo de antemão que alargar a exposição a ponto de abarcar toda a carreira do fotógrafo implicaria termos uma dúzia de “cadeias da relação” à nossa disposição (e mesmo assim julgo que não bastariam). Mas que fazem falta “núcleos” como “A Norte”, “A Cidade das Pontes”, “Fátima – Enquanto Houver Portugueses”, “Felicidade” ou “A Cortina dos Dias”, lá isso fazem.
Regressando à exposição, atente-se na imagem da mulher que segura na mão aquilo que parece ser uma pescada, o pregão quase audível na pose atrevida. Ou no coveiro que, em frente à objectiva, ergue os braços como que a dizer basta. Ou ainda no grupo de transeuntes que se cruzam na cidade, os óculos escuros como uma imagem de marca. Mas a imagem de marca, mesmo, é a máscara nos rostos de todos os retratados, adereço elevado à categoria essencial por força dum vírus que virou a vida de todos do avesso. E isto é em Portugal (mais concretamente na Amadora), como poderia ser em Itália ou na Guiné, em Nova Iorque ou no Sri Lanka. O Alfredo Cunha que nos dá a ver, ouvir e sentir o mundo que nos rodeia no momento “agora”, é o mesmo que perseguimos através dos cliques da sua Leica, numa viagem de meio século ao mais fundo de nós. É quase redundante dizer que esta é uma exposição imperdível, mas atrevo-me a dizer que é urgente vê-la. É que, quanto mais cedo a virmos, mais tempo teremos para a ver de novo.
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