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EXPOSIÇÃO: “Só a Imaginação Transforma”,
de Vários Autores
Museu da Fundação Cupertino de Miranda | Centro Português do Surrealismo, Vila Nova de Famalicão
03 Jul > 31 Out 2020
Pela primeira vez visitei o Museu da Fundação Cupertino de Miranda | Centro Português do Surrealismo, em Vila Nova de Famalicão. Ao olhar para aquele edifício, com a sua torre de dez andares revestidas pelos monumentais painéis azulejados de Charters de Almeida, não consigo deixar de pensar na enorme “pedrada no charco” que obra tão “sui generis” terá representado para Famalicão e para o próprio país à data da sua inauguração, ainda em tempos do Estado Novo. Arquitectonicamente, é uma obra que sempre foi belíssima e continuará a sê-lo. É lá que se abriga hoje uma das mais importantes colecções do movimento surrealista em Portugal, num processo que teve um incremento importante com o lançamento do Centro de Estudos do Surrealismo, em Junho de 1999 e que, dezanove anos mais tarde, em 1 de Junho de 2018, viria a dar lugar ao Centro Português do Surrealismo. Desde então, o novo Museu acolheu cinco exposições de enorme significado e alcance, a última das quais, “Só a Imaginação Transforma”, foi inaugurada no passado dia 03 de Julho e se encontra patente ao público.
A mostra constitui-se ponto de encontro e diálogo entre trinta e três artistas, cuja produção é das mais relevantes para a Arte Portuguesa e, em particular, para o movimento surrealista, mais de meio século volvido sobre o seu desaparecimento. O percurso da exposição abre com cinco obras de Júlio (o artista que também foi o poeta Saúl Dias e de quem o Centro Português do Surrealismo detém um conjunto doado de mais de quatro centenas de peças), belíssimas na sua policromia viva e na graciosidade e significado das suas linhas. Pelo meio encontramos esculturas, objectos, colagens, pinturas e desenhos com a assinatura de Alexandre O'Neill, António Areal, António Pedro, António Quadros, Cruzeiro Seixas, Escada, Eurico Gonçalves, Isabel Meyrelles, Marcelino Vespeira, Mário Botas, Mário Eloy, Mário Henrique Leiria, Paula Rego e Risques Pereira, entre outros. De Mário Cesariny, imensamente belas, as portadas do atelier do pintor constituem uma peça única, perante a qual ninguém fica indiferente.
“Só a imaginação transforma, só a imaginação transtorna”, disse Cesariny, no que pode ser visto como uma mensagem plena de actualidade face à pandemia que vivemos. Esta é, aliás, a primeira exposição presencial do Centro Português do Surrealismo, após o aliviar das medidas restritivas impostas desde o passado mês de Março e a mensagem surrealista da imaginação como forma de “alcançar, pouco importa em que margens, o objecto real de um irreal conquistado no espírito “ diz-nos que há todo um mundo à nossa volta que merece ser vivido em toda a sua plenitude, independentemente das amarras que nos querem impor. Aliás, melhor que ninguém, os surrealistas portugueses sabiam do que falavam, nunca deixando, em tempos de ditadura, de, ironicamente, homenagear os “que só estão vivos porque não têm onde cair mortos”. Por todos os motivos assinalados, este é o momento ideal de celebrar o regresso à vida do Centro Português do Surrealismo, rendendo-lhe uma visita. A exposição manter-se-á patente até ao dia 31 de Outubro e a entrada é livre. A não perder!
de Vários Autores
Museu da Fundação Cupertino de Miranda | Centro Português do Surrealismo, Vila Nova de Famalicão
03 Jul > 31 Out 2020
“Só a imaginação transforma, só a imaginação transtorna. É a imaginação o livre exercício do espírito que servindo-se de um ou mais aspectos do “real” passa lenta ou rapidamente ao extremo limite deste para alcançar, pouco importa em que margens, o objecto real de um irreal conquistado no espírito.”
CESARINY, Mário. A Intervenção Surrealista. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997. p. 89.
CESARINY, Mário. A Intervenção Surrealista. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997. p. 89.
Pela primeira vez visitei o Museu da Fundação Cupertino de Miranda | Centro Português do Surrealismo, em Vila Nova de Famalicão. Ao olhar para aquele edifício, com a sua torre de dez andares revestidas pelos monumentais painéis azulejados de Charters de Almeida, não consigo deixar de pensar na enorme “pedrada no charco” que obra tão “sui generis” terá representado para Famalicão e para o próprio país à data da sua inauguração, ainda em tempos do Estado Novo. Arquitectonicamente, é uma obra que sempre foi belíssima e continuará a sê-lo. É lá que se abriga hoje uma das mais importantes colecções do movimento surrealista em Portugal, num processo que teve um incremento importante com o lançamento do Centro de Estudos do Surrealismo, em Junho de 1999 e que, dezanove anos mais tarde, em 1 de Junho de 2018, viria a dar lugar ao Centro Português do Surrealismo. Desde então, o novo Museu acolheu cinco exposições de enorme significado e alcance, a última das quais, “Só a Imaginação Transforma”, foi inaugurada no passado dia 03 de Julho e se encontra patente ao público.
A mostra constitui-se ponto de encontro e diálogo entre trinta e três artistas, cuja produção é das mais relevantes para a Arte Portuguesa e, em particular, para o movimento surrealista, mais de meio século volvido sobre o seu desaparecimento. O percurso da exposição abre com cinco obras de Júlio (o artista que também foi o poeta Saúl Dias e de quem o Centro Português do Surrealismo detém um conjunto doado de mais de quatro centenas de peças), belíssimas na sua policromia viva e na graciosidade e significado das suas linhas. Pelo meio encontramos esculturas, objectos, colagens, pinturas e desenhos com a assinatura de Alexandre O'Neill, António Areal, António Pedro, António Quadros, Cruzeiro Seixas, Escada, Eurico Gonçalves, Isabel Meyrelles, Marcelino Vespeira, Mário Botas, Mário Eloy, Mário Henrique Leiria, Paula Rego e Risques Pereira, entre outros. De Mário Cesariny, imensamente belas, as portadas do atelier do pintor constituem uma peça única, perante a qual ninguém fica indiferente.
“Só a imaginação transforma, só a imaginação transtorna”, disse Cesariny, no que pode ser visto como uma mensagem plena de actualidade face à pandemia que vivemos. Esta é, aliás, a primeira exposição presencial do Centro Português do Surrealismo, após o aliviar das medidas restritivas impostas desde o passado mês de Março e a mensagem surrealista da imaginação como forma de “alcançar, pouco importa em que margens, o objecto real de um irreal conquistado no espírito “ diz-nos que há todo um mundo à nossa volta que merece ser vivido em toda a sua plenitude, independentemente das amarras que nos querem impor. Aliás, melhor que ninguém, os surrealistas portugueses sabiam do que falavam, nunca deixando, em tempos de ditadura, de, ironicamente, homenagear os “que só estão vivos porque não têm onde cair mortos”. Por todos os motivos assinalados, este é o momento ideal de celebrar o regresso à vida do Centro Português do Surrealismo, rendendo-lhe uma visita. A exposição manter-se-á patente até ao dia 31 de Outubro e a entrada é livre. A não perder!
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