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domingo, 5 de julho de 2020

CONCERTO: Marco Rodrigues



CONCERTO: Marco Rodrigues
Cine-Teatro de Estarreja
04 Jul 2020 | sab | 21:30


“Às vezes olho as luzes da cidade / Mas não consigo dar um passo em frente / Há dias em que é tanta a claridade / Que a gente fica cega de repente”. Os músicos já se tinham instalado em palco e foi com a sala na penumbra e em silêncio que, do meio dos espectadores, rompeu a voz de Marco Rodrigues entoando “Tantas Lisboas”. A escolha deste tema não terá sido inocente, desde logo porque se trata de um dos seus maiores êxitos (o fado dá nome ao segundo álbum de originais do cantor, lançado há precisamente uma década), mas sobretudo porque, depois do confinamento a que fomos obrigados, subir ao palco é, para qualquer artista, como sair das trevas e abraçar a luz. Um choque, mas um choque bom, como Marco Rodrigues fez questão de sublinhar em variadíssimos momentos deste concerto, a emoção a desprender-se das suas palavras ao “abraçar” o público de Estarreja e ao confessar: “Já tinha saudades disto!”

Acompanhado em palco por Pedro Viana na guitarra portuguesa, Nélson Aleixo na viola, Frederico Gato no baixo e Sertório Calado na bateria e percussões, Marco Rodrigues desfiou, ao longo de quase uma hora e meia, dezena e meia de temas extraídos maioritariamente do seu mais recente álbum, “Copo Meio Cheio”, um trabalho que data de Setembro de 2017. Dele se escutaram os bem conhecidos “Fado do Cobarde” e “O Tempo”, este último com letra e música de Diogo Piçarra, mas também “Mal Dormido”, sobre um divertido poema de Pedro da Silva Martins, “Vapores”, escrito por Carlão, o incontornável “Copo Meio Cheio”, com assinatura de Marisa Liz e “Não Podia Estar Melhor”, letra de Boss AC, os sublinhados do público às palavras do cantor: “Tudo se compõe / É preciso ter calma / Deixem-me cantar / Só assim sou feliz”.

O resto do concerto seguiu a onda da emoção, tanto na revisitação de alguns “clássicos”, quanto pela presença do cantor em palco e pela forma como soube interagir com o público e pôr toda a gente a cantar. Exemplos disso foram os momentos de salutar partilha à roda de “O Homem do Saldanha”, “Rosinha dos Limões” ou “Fado do Estudante”, Estarreja a revelar-se uma afinada cantadeira, o brilho dos seus olhos mais expressivo do que nunca, agora que uma máscara a impede de revelar o bonito sorriso. O “Fado Corrido” que fechou o concerto terá sido, quiçá, o seu momento alto, o exemplar trio de fado a tocar em acústico, a irrepreensível capacidade interpretativa de Marco Rodrigues a mostrar-se na sua real dimensão, o ambiente de casa de fado a tomar conta do auditório do CTE, meio vazio para um copo meio cheio. Noite de regresso, noite de emoções, uma noite que ficará marcada na vida de todos quantos tiveram o ensejo de brindar, nesta noite, à música e ao fado, à cultura e à vida.

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