CINEMA: Shortcutz Ovar 2020 | Sessão #36
Escola de Artes e Ofícios
90 Minutos | Maiores de 16 anos
18 Jun 2020 | qui | 22:00
Três meses após o último momento em Sala, o Shortcutz Ovar regressou ao convívio dos amantes de cinema, de forma presencial, na noite de ontem. Numa sessão marcada pela emoção, o primeiro aplauso foi para o público, “pelo acto de coragem”, nas palavras de Tiago Alves, co-organizador e apresentador do evento. “Eu confio” foi a grande mensagem que quis passar, transmitida com optimismo moderado porque, apesar do elevado grau de confiança em como vai ficar tudo bem, é preciso estar atento e cumprir com as normas. O distanciamento entre o público, as máscaras no rosto e a ausência de abraços ou beijos mostram uma nova normalidade, mas se tem de ser assim, pois que assim seja. Até porque... “The show must go on!”. E o espectáculo começou com “Equinox”, de Bruno Carnide, nele se destacando o cuidado e a delicadeza da animação, mas sobretudo o argumento da autoria de Carlos Salvador. Nomeado para os Prémios da Academia Portuguesa de Cinema na categoria de Animação, são só três minutos de filme mas que se vêem com imenso prazer, o azedume nas relações entre um homem e uma mulher a atingirem o paroxismo, a noite de Tóquio em pano de fundo.
Os três filmes seguintes, de imagem real, seguiram por caminhos idênticos, os altos e baixos das relações a pontuarem as respetivas narrativas, os amantes confinados ao espaço de um quarto ou de uma casa. Desse ponto de vista, quase poderíamos falar de uma sessão temática, tal o cuidado do programador em alinhar um leque de obras muito próximas entre si, que se completam de forma extraordinária, apesar das particularidades estéticas e formais que as distinguem. Com “Um Retrato de Borboletas”, Henrique Prudêncio dá-nos a ver as tensões que antecedem o decisivo momento da separação, tal como sucede com “Lisboa, 2018.”, de Francisco Valente. Entre o “provisório” e o “definitivo”, ambos os filmes olham para o futuro, abrindo espaço à reflexão. São obras assentes em argumentos muito fortes e em diálogos intensos, fazendo brilhar o trabalho de actor - um enorme aplauso para a Mariana, de “Lisboa, 2018.”, superiormente interpretada por Beatriz Brás -, e remetendo para o teatro, a quem rendem homenagem.
Para o final estava guardado o melhor desta sessão, com a exibição de “Cenas de Uma Vida Amorosa”, um filme de Miguel Afonso Carranca. No espaço redutor de uma pequena casa, a vida de um casal – Marta (Beatriz Godinho) e Luís (Filipe Sambado) – é posta à prova dia após dia, minuto após minuto. Tal como a vida, “feita de pequenos nadas”, também o filme vive de momentos banais, tornados sublimes por uma fotografia de excelência na forma como joga com o espaço e a luz, pela mestria da montagem e pela narrativa paralela gerada pelos entretítulos que introduzem as várias cenas e que são a afirmação de que o amor não se rege por cronologias (particularmente significativa uma cena amorosa numerada de “infinito”). Uma palavra ainda para os dois actores, pela dinâmica gerada em torno da sua relação e pela forma como conferem a necessária intensidade a cada uma das cenas, sejam elas tão elementares como escovar os dentes ou tão intensas, mesmo brutais, na forma do insulto ou da agressão. Muito bom!
Escola de Artes e Ofícios
90 Minutos | Maiores de 16 anos
18 Jun 2020 | qui | 22:00
Três meses após o último momento em Sala, o Shortcutz Ovar regressou ao convívio dos amantes de cinema, de forma presencial, na noite de ontem. Numa sessão marcada pela emoção, o primeiro aplauso foi para o público, “pelo acto de coragem”, nas palavras de Tiago Alves, co-organizador e apresentador do evento. “Eu confio” foi a grande mensagem que quis passar, transmitida com optimismo moderado porque, apesar do elevado grau de confiança em como vai ficar tudo bem, é preciso estar atento e cumprir com as normas. O distanciamento entre o público, as máscaras no rosto e a ausência de abraços ou beijos mostram uma nova normalidade, mas se tem de ser assim, pois que assim seja. Até porque... “The show must go on!”. E o espectáculo começou com “Equinox”, de Bruno Carnide, nele se destacando o cuidado e a delicadeza da animação, mas sobretudo o argumento da autoria de Carlos Salvador. Nomeado para os Prémios da Academia Portuguesa de Cinema na categoria de Animação, são só três minutos de filme mas que se vêem com imenso prazer, o azedume nas relações entre um homem e uma mulher a atingirem o paroxismo, a noite de Tóquio em pano de fundo.
Os três filmes seguintes, de imagem real, seguiram por caminhos idênticos, os altos e baixos das relações a pontuarem as respetivas narrativas, os amantes confinados ao espaço de um quarto ou de uma casa. Desse ponto de vista, quase poderíamos falar de uma sessão temática, tal o cuidado do programador em alinhar um leque de obras muito próximas entre si, que se completam de forma extraordinária, apesar das particularidades estéticas e formais que as distinguem. Com “Um Retrato de Borboletas”, Henrique Prudêncio dá-nos a ver as tensões que antecedem o decisivo momento da separação, tal como sucede com “Lisboa, 2018.”, de Francisco Valente. Entre o “provisório” e o “definitivo”, ambos os filmes olham para o futuro, abrindo espaço à reflexão. São obras assentes em argumentos muito fortes e em diálogos intensos, fazendo brilhar o trabalho de actor - um enorme aplauso para a Mariana, de “Lisboa, 2018.”, superiormente interpretada por Beatriz Brás -, e remetendo para o teatro, a quem rendem homenagem.
Para o final estava guardado o melhor desta sessão, com a exibição de “Cenas de Uma Vida Amorosa”, um filme de Miguel Afonso Carranca. No espaço redutor de uma pequena casa, a vida de um casal – Marta (Beatriz Godinho) e Luís (Filipe Sambado) – é posta à prova dia após dia, minuto após minuto. Tal como a vida, “feita de pequenos nadas”, também o filme vive de momentos banais, tornados sublimes por uma fotografia de excelência na forma como joga com o espaço e a luz, pela mestria da montagem e pela narrativa paralela gerada pelos entretítulos que introduzem as várias cenas e que são a afirmação de que o amor não se rege por cronologias (particularmente significativa uma cena amorosa numerada de “infinito”). Uma palavra ainda para os dois actores, pela dinâmica gerada em torno da sua relação e pela forma como conferem a necessária intensidade a cada uma das cenas, sejam elas tão elementares como escovar os dentes ou tão intensas, mesmo brutais, na forma do insulto ou da agressão. Muito bom!
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