de Joel Neto
Ed. Porto Editora, Abril de 2012
“Que se lixe. Um homem muda de mulher, muda de partido, muda de religião, muda de tudo aquilo que quiser, até de sexo, mas de clube é que não muda nunca. Portanto, viva o Sporting!”
Quem já leu Joel Neto e, em particular, “A Vida no Campo”, conhece um pouco da vida deste homem, desde as suas origens terceirenses à intensa actividade como cronista em alguns dos mais importantes jornais portugueses e ao seu amor filial ao Sporting. Daí o sorriso instalado na cara do leitor ao tomar nota do “anúncio” que ocupa as duas primeiras páginas do livro, ao mesmo tempo disponível para aceitar aquilo que não pode passar de um devaneio e expectante quanto ao que irá dali sair. O caso não é para menos. Se mudar de clube é uma impossibilidade, virar as costas ao clube de sempre e abraçar o emblema rival é do domínio do imponderável, do impensável, do ignominioso. É matéria apenas aceitável às criancinhas e aos pobres de espírito. Ou à ficção, digo eu, terreno fértil para o sonho, onde céu e terra se fundem e onde se operam milagres com um simples estalar dos dedos.
Joel Neto sabe, como poucos, pegar em pequenos pedaços de vida e transformá-los em deliciosas histórias, ora repletas de humor, ora amargas ou rudes, mas sempre poéticas, pautadas pela simplicidade do olhar, pela nobreza do gesto e pelo bater do coração. Talvez por isso as expectativas em torno de “Os Sítios Sem Resposta” saiam um pouco frustradas. Necessário será adentrar no livro até ao quinto e penúltimo capítulo para se reconhecer o autor naquilo que há de melhor na sua escrita. A descrição do pequeno lugar onde vive, do primeiro jogo de futebol no pelado do Lusitânia, da bondade da Maria Carminda ou da sabedoria do José Corvelo, da cumplicidade com o pai ou de um Sporting-Benfica no pequeno televisor do salão social da Casa do Povo de São Bartolomeu, são preciosas parcelas do domínio da emoção e da memória que preenchem e confortam o leitor.
Um livro, porém, é muito mais do que um capítulo e “Os Sítios Sem Resposta” é também a vida naquilo que ela pode ter de mais rotineiro e vulgar, o dinheiro, as mulheres ou a bebida a porem a nu a solidão de uma existência oscilando entre as quatro paredes de um modesto apartamento e as quatro paredes de um vulgar escritório. Embora possa parecer fraca matéria-prima para grande literatura, a verdade é que há escritores que fizeram muito mais com muito menos. Não será o caso de Joel Neto, pouco hábil na construção destas personagens à deriva, inconsistentes, reféns das emoções mais primárias, sem espessura que as sustente para além do cliché. Usando a gíria do futebol, infelizmente pouco presente neste romance, é como se tivéssemos “dois terços da equipa em gestão de esforços e a totalidade do meio-campo de volta de um losango demasiado estático para permitir uma adequada basculação ofensiva”. Para a história fica o golo solitário, surgido quase ao cair do pano. Um autogolo, acrescente-se, precedido de fora-de-jogo.
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