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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

CONCERTO: Vamos a Bailar un Son | Eliades Ochoa



CONCERTO: Eliades Ochoa
Teatro Tivoli BBVA
24 Fev 2020 | seg | 21:30


Ao lado de Omara Portuondo, Guajiro Mirabel, Barbarito Torres e Jesus “Aguaje” Ramos, Eliades Ochoa visitou Portugal no início de Julho de 2014. Já sem Compay Segundo, Rubén González e Ibrahim Ferrer, os míticos Buena Vista Social Club faziam a digressão mundial de despedida dos palcos e o Festival EDP Cool Jazz abria as portas dos Jardins Marquês de Pombal, em Oeiras, com lotação esgotada para uma noite de festa e de celebração. Quase seis anos volvidos sobre esse evento memorável, Eliades Ochoa regressou ao nosso país, apresentando-se pela primeira vez a solo. No repertório do concerto trouxe as canções de “Vamos A Bailar Un Son”, o seu mais recente álbum, a par de alguns dos temas maiores dos seus projectos anteriores, nomeadamente da fase Buena Vista. Mas trouxe sobretudo o seu estilo único de guitarra e voz e que fazem dele o “Johnny Cash cubano”, como disse Benício del Toro, ou mesmo “o melhor guitarrista da sua geração”, como afirmou o The Guardian.

Envergando o habitual chapéu de cowboy, Eliades Ochoa subiu ao palco do Teatro Tivoli com uma banda de suporte que nem sempre se mostrou à altura das exigências, sobretudo pelos teclados demasiado discretos e por um trompete cujo som se esperava mais límpido. Mergulhando nas suas raízes campesinas, o cantor começou por lembrar os “guajiros” nesse bem ritmado “El Carretero”. Seguiram-se “Pregón Santiaguero” –  uma viagem à tradição dos pregoeiros que percorrem as ruas de Santiago de Cuba anunciando “yucas, berengenas e mazorcas de maíz” –, “No Quiero Celos”, “Para Ti Nengón” e esse delicioso trava-línguas que é “Que Lío Compay Andrés” e que narra a história da “perra de Parra”. Pelo meio ficaram palavras que arrancaram sonoras gargalhadas à plateia, quer quando disse que a sua convidada estava atrasada porque tinha ficado a prender o cavalo, quer quando, ao promover pessoalmente o seu novo disco e um póster autografado, se mostrou impressionado com o trabalho de photoshop e com os anos que lhe tiraram de cima: “Que maquillaje, caray!...”, exclamou.

Já com Flamenco Argentina ao seu lado, o momento que se seguiu foi de magia, primeiro com “Un Bolero Para Ti”, tema do álbum com o mesmo nome e que deu ao músico cubano o Prémio Grammy Latino 2012, e depois com “Lágrimas Negras”, a modulação do flamenco na voz da cantora e a guitarra de três de Eliades Ochoa fundidas num sonoro beijo. A segunda surpresa da noite foi-nos oferecida com a presença em palco dos bailarinos Francesca Negro e Maximo Zequeira, dançando primeiro ao compasso de “Vamos A Bailar Un Son”, o tema que dá nome ao novo álbum, e depois “En Casa De Pedro El Cojo”. Com a sala ao rubro, Eliades Ochoa interpretou “Como La Nube Se Impone Al Sol”, um bolero de recorte tradicional composto pelo mexicano Agustín Lara e que surge a duas vozes neste novo álbum, de um lado Ochoa e do outro essa verdadeira lenda da música cubana que dá pelo nome de Pablo Milanez.

O concerto entra na recta final e é chegado o momento mais esperado, aquele em que são recuperados alguns dos temas-chave do projecto Buena Vista Social Club, verdadeiros ícones do património da música cubana e universal. Chamado a pronunciar-se, o público revelou uma notável uniformidade nas escolhas e Eliades Ochoa fez-lhe a vontade. “Candela”, o incontornável “Chan Chan” – “de Alto Cedro voy para Marcané / llego a Cueto, voy para Mayarí” – e “El Cuarto De Tula” colocaram um ponto final num alinhamento com tudo para agradar a todos, a sala inteira a menear ancas, ombros e cabeça ao som do Son. O “encore” não trouxe novidades e Ochoa retomou a fórmula ganhadora com “Pintate Los Labios, Maria”, os solos de guitarra mais estimulantes que nunca, bem acompanhados pelo trabalho de percussão de Jorge Naturell Romero o qual, a par do contrabaixista José Ángel Martínez, tiveram apontamentos de enorme qualidade. Memorável!

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