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sábado, 8 de fevereiro de 2020

CONCERTO: Fim | Dead Combo



CONCERTO: Dead Combo | “Fim”
Cine-Teatro de Estarreja
07 Fev 2020 | sex | 21:30


Tó Trips e Pedro Gonçalves conheceram-se em 2001, no final de um concerto de Howe Gelb. Da amizade entre os dois músicos acabaria por nascer uma banda, cujo álbum de estreia, “Vol. 1”, conheceu a luz do dia em 2004. Desde então, os Dead Combo afinaram processos, orientaram interesses e acabaram patenteando uma sonoridade ecléctica e altamente reconhecível, registada numa dezena de trabalhos, o mais recente dos quais “Odeon Hotel”, editado em 2018, com assinatura de Alain Johannes (PJ Harvey e Queens of the Stone Age, entre outros) na produção. Mas se o encontro entre os dois músicos, para além da descoberta e de uma grande amizade, resultou num diálogo musical intenso e num universo que se foi adensando e clarificando, se todos estes anos foram uma grande festa nas vidas de ambos, não poderia ser de outra forma o final. Sim, porque é de “Fim” que falamos, o fim desta banda única e também o nome da digressão que marca o adeus.

Recriando os momentos iniciais dos Dead Combo, Tó Trips e Pedro Gonçalves subiram sozinhos ao palco do Cine-Teatro de Estarreja, num passeio pela história da sua carreira ao longo do qual fizeram questão de desvendar o “esqueleto das canções” que lhes reservaram um lugar de destaque no panorama da música portuguesa. Foi assim que um público indefectível visitou os cantos recônditos dos seus primeiros discos em temas como “Janela”, “Rumbero” ou “Sopa de Cavalo Cansado”, mas também estrondosos êxitos, do intimista “Quando a Alma Não é Pequena” ao frenético “Deus Me Dê Grana”, do clássico “A Menina Dança” ao inspirado “Putos a Roubar Maçãs”, do delicado “Lisboa Berlim” (que tem o dedo de Carlos Bica) ao icónico “Lisboa Mulata”. Houve ainda direito a dedicatórias às filhas de Tó e Pedro – com os temas “Zoe Llorando” e “Welcome Simone” –, tal como a uma figura histórica da emblemática Zé dos Bois, “Dona Emília”. Num muito reclamado e aclamado “encore”, os Dead Combo brindaram o público com “Povo Que Cais Descalço” e “Esse Olhar Que Era Só Teu”, dois “fados mudos” a selarem hora e meia da melhor música.

Numa apresentação marcadamente intimista, ao ponto do quase silêncio, notou-se uma enorme candura na troca de energias entre o público e o palco, a emoção do adeus sempre presente. Um certo ar nostálgico tomou conta da sala, daí resultando alguma contenção no momento do aplauso, o coração apertado, a mente a viajar por dezasseis anos recheados de histórias e de momentos de vida, sempre lembrados com afecto e gratidão. Aqueles dois vultos debruçados sobre uma guitarra e um contrabaixo vão deixar de ser vistos juntos em palco e isso é tudo menos fácil de aceitar. Quem tocará agora o fado sombrio no cinema de Morricone? Quem desvendará as notas duma Lisboa taciturna, do quotidiano corriqueiro e da portugalidade mais entranhada? Quem ligará à corrente a guitarra de Paredes para, num espaço cinematográfico, cruzar as paisagens sonoras de uma cidade, do amolador de facas aos assobios bairrista? Na hora do adeus, resta a consolação de que partem os Dead Combo mas a sua obra perdurará para sempre. Os diamantes são eternos!

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