Cine-Teatro de Estarreja
07 Fev 2020 | sex | 21:30
07 Fev 2020 | sex | 21:30
Tó Trips e Pedro Gonçalves
conheceram-se em 2001, no final de um concerto de Howe Gelb. Da
amizade entre os dois músicos acabaria por nascer uma banda, cujo
álbum de estreia, “Vol. 1”, conheceu a luz do dia em 2004. Desde
então, os Dead Combo afinaram processos, orientaram interesses e
acabaram patenteando uma sonoridade ecléctica e altamente
reconhecível, registada numa dezena de trabalhos, o mais recente dos
quais “Odeon Hotel”, editado em 2018, com assinatura de Alain
Johannes (PJ Harvey e Queens of the Stone Age, entre outros) na
produção. Mas se o encontro entre os dois músicos, para além da
descoberta e de uma grande amizade, resultou num diálogo musical
intenso e num universo que se foi adensando e clarificando, se todos
estes anos foram uma grande festa nas vidas de ambos, não poderia
ser de outra forma o final. Sim, porque é de “Fim” que falamos,
o fim desta banda única e também o nome da digressão que marca o
adeus.
Recriando os momentos iniciais dos Dead
Combo, Tó Trips e Pedro Gonçalves subiram sozinhos ao palco do
Cine-Teatro de Estarreja, num passeio pela história da sua carreira ao longo do qual fizeram questão de desvendar o “esqueleto das canções” que lhes reservaram um
lugar de destaque no panorama da música portuguesa. Foi assim que um
público indefectível visitou os cantos recônditos dos seus
primeiros discos em temas como “Janela”, “Rumbero” ou “Sopa
de Cavalo Cansado”, mas também estrondosos êxitos,
do intimista “Quando a Alma Não é Pequena” ao frenético “Deus Me Dê Grana”, do clássico “A Menina Dança” ao
inspirado “Putos a Roubar
Maçãs”, do delicado “Lisboa Berlim” (que tem o dedo de Carlos Bica) ao icónico “Lisboa Mulata”. Houve ainda direito a
dedicatórias às filhas de Tó e Pedro – com os temas “Zoe
Llorando” e “Welcome Simone” –, tal como a uma figura
histórica da emblemática Zé dos Bois, “Dona Emília”. Num muito reclamado e aclamado “encore”, os Dead Combo
brindaram o público com “Povo Que Cais Descalço” e “Esse
Olhar Que Era Só Teu”, dois “fados mudos” a selarem hora e
meia da melhor música.
Numa apresentação marcadamente
intimista, ao ponto do quase silêncio, notou-se uma enorme candura na
troca de energias entre o público e o palco, a emoção do adeus
sempre presente. Um certo ar nostálgico tomou conta da sala, daí
resultando alguma contenção no momento do aplauso, o coração
apertado, a mente a viajar por dezasseis anos recheados de histórias e de
momentos de vida, sempre lembrados com afecto e gratidão. Aqueles dois vultos debruçados sobre uma guitarra
e um contrabaixo vão deixar de ser vistos juntos em palco e isso é tudo menos fácil de aceitar.
Quem tocará agora o fado sombrio no cinema de Morricone? Quem desvendará as notas duma Lisboa taciturna, do quotidiano corriqueiro e da portugalidade
mais entranhada? Quem ligará à corrente a guitarra de
Paredes para, num espaço cinematográfico, cruzar as paisagens
sonoras de uma cidade, do amolador de facas aos assobios bairrista? Na hora do adeus, resta a consolação de que partem os Dead Combo mas a sua obra perdurará para sempre. Os diamantes são eternos!
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