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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "São Pessoas"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “São Pessoas”,
de Paulo Pimenta e Adriano Miranda
Mira Forum
11 Jan > 15 Fev 2020


“Sabes o que é abrir o frigorífico e não ter nada lá dentro? Não sair de casa porque não tenho dinheiro para um café? Ir ao supermercado comprar um litro de leite e um pão, pois não tenho dinheiro para mais?”

Forma de arte com um enorme potencial expressivo, a Fotografia tem essa capacidade de transmitir emoções e sensações. É, nessa medida, uma arma poderosa, usada e manipulada para alcançar todo o tipo de objectivos, marcando vidas e dirigindo pessoas. Paulo Pimenta e Adriano Miranda sabem isso muito bem. Tal como sabem que os indicadores de pobreza no nosso país dizem que uma em cada cinco pessoas são pobres. Conscientes da enorme dimensão social que a solidão, a exclusão e a pobreza representam numa sociedade consumista e centrada no lucro e na descriminação, abraçaram um projecto assente em dois pilares fundamentais – solidariedade e combate. Ao longo de um ano recolheram histórias de pessoas que deram a cara pela “fragilidade do ser humano”, expondo depois as suas imagens, ao mesmo tempo que lançaram um livro e editaram um vídeo. A tudo isso disseram, convictamente e em tom de desafio: “São Pessoas”.

O Monteiro, o Tiago, o Francisco, a Maria, o Bento, a Isabel, a Arlinda, a Laurinda, a Ângela, a Conceição, a Neide, o Higínio, o Bráulio, a Natália, a Sara, o Ismael, o Mauro, o Aurélio, o Paulo, a Graça, o Alexandre, a Albina, o António, a Carolina, o Antunes, o Sérgio, o Renato, o Joaquim, a Lúcia, a Rita, o Igor, o Jaime, a Sandra, o Alex, o Rafael, o Dior, a Teresa, a São, a Ana, o Mário, a Alice, a Celeste e a Cristina são essas pessoas. Pessoas que recebem às 8 e meia o RSI, às 9 pagam o quarto e ficam logo sem dinheiro para o resto do mês. Pessoas que pedem por necessidade, uma ferida a abrir-se mais e mais dentro de si. Pessoas que só gostariam de parar o eterno sofrimento da incerteza e poder acordar no dia seguinte com um pouco mais de tranquilidade. Pessoas que se perguntam porque é que têm que ter vergonha de ser pobres e os ricos não têm vergonha de ser ricos. Pessoas que podiam ser qualquer um de nós.

Condensando um aturado trabalho desenvolvido entre Trás-os-Montes e o Algarve, este ensaio fotográfico não se desvia um milímetro da ideia inicial, os retratados contribuindo com a sua identidade. O resultado é um magnífico conjunto de imagens que, para além do seu valor estético, nos lembra que há ainda um longo caminho a percorrer neste país de dez milhões com mais de dois milhões de pobres dentro. Num dos textos que complementam o livro, Camilo Soldado escreve: “Gradualmente, a pobreza vai abandonando os cabeçalhos dos jornais que a força dos números lhe tinha feito valer. Afinal, há uma nova convergência com a boa Europa. Também aos poucos, vamo-nos esquecendo de quem foi arrastado nessa voragem a que demos o nome de crise, de quem não conseguiu voltar a levantar-se ou de quem, simplesmente, nunca conheceu outra vida que não de privação.” É por isso que estas imagens fazem todo o sentido, resgatando vidas que clamam por direitos e por dignidade. É esse o mérito de Paulo Pimenta e de Adriano Miranda. É sobretudo esse o mérito de todos aqueles que nos olham. O Monteiro, o Tiago, o Francisco, a Maria, o Bento, a Isabel...

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