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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “São
Pessoas”,
de Paulo Pimenta e Adriano Miranda
Mira Forum
11 Jan > 15 Fev 2020
“Sabes o que é abrir o frigorífico
e não ter nada lá dentro? Não sair de casa porque não tenho
dinheiro para um café? Ir ao supermercado comprar um litro de leite
e um pão, pois não tenho dinheiro para mais?”
Forma de arte com um enorme potencial
expressivo, a Fotografia tem essa capacidade de transmitir emoções
e sensações. É, nessa medida, uma arma poderosa, usada e
manipulada para alcançar todo o tipo de objectivos, marcando vidas e
dirigindo pessoas. Paulo Pimenta e Adriano Miranda sabem isso muito
bem. Tal como sabem que os indicadores de pobreza no nosso país
dizem que uma em cada cinco pessoas são pobres. Conscientes da
enorme dimensão social que a solidão, a exclusão e a pobreza representam numa sociedade consumista e centrada no lucro e na descriminação,
abraçaram um projecto assente em dois pilares fundamentais –
solidariedade e combate. Ao longo de um ano recolheram histórias de
pessoas que deram a cara pela “fragilidade do ser humano”,
expondo depois as suas imagens, ao mesmo tempo que lançaram um livro
e editaram um vídeo. A tudo isso disseram, convictamente e em tom de
desafio: “São Pessoas”.
O Monteiro, o Tiago, o Francisco, a
Maria, o Bento, a Isabel, a Arlinda, a Laurinda, a Ângela, a
Conceição, a Neide, o Higínio, o Bráulio, a Natália, a Sara, o
Ismael, o Mauro, o Aurélio, o Paulo, a Graça, o Alexandre, a
Albina, o António, a Carolina, o Antunes, o Sérgio, o Renato, o
Joaquim, a Lúcia, a Rita, o Igor, o Jaime, a Sandra, o Alex, o
Rafael, o Dior, a Teresa, a São, a Ana, o Mário, a Alice, a Celeste
e a Cristina são essas pessoas. Pessoas que recebem às 8 e meia o
RSI, às 9 pagam o quarto e ficam logo sem dinheiro para o resto do
mês. Pessoas que pedem por necessidade, uma ferida a abrir-se mais e
mais dentro de si. Pessoas que só gostariam de parar o eterno
sofrimento da incerteza e poder acordar no dia seguinte com um pouco
mais de tranquilidade. Pessoas que se perguntam porque é que têm
que ter vergonha de ser pobres e os ricos não têm vergonha de ser
ricos. Pessoas que podiam ser qualquer um de nós.
Condensando um aturado trabalho
desenvolvido entre Trás-os-Montes e o Algarve, este ensaio
fotográfico não se desvia um milímetro da ideia inicial, os
retratados contribuindo com a sua identidade. O resultado é um
magnífico conjunto de imagens que, para além do seu valor estético,
nos lembra que há ainda um longo caminho a percorrer neste país de
dez milhões com mais de dois milhões de pobres dentro. Num dos
textos que complementam o livro, Camilo Soldado escreve:
“Gradualmente, a pobreza vai abandonando os cabeçalhos dos jornais
que a força dos números lhe tinha feito valer. Afinal, há uma nova
convergência com a boa Europa. Também aos poucos, vamo-nos
esquecendo de quem foi arrastado nessa voragem a que demos o nome de
crise, de quem não conseguiu voltar a levantar-se ou de quem,
simplesmente, nunca conheceu outra vida que não de privação.” É
por isso que estas imagens fazem todo o sentido, resgatando vidas que
clamam por direitos e por dignidade. É esse o mérito de Paulo Pimenta e de Adriano
Miranda. É sobretudo esse o mérito de todos aqueles que nos olham. O Monteiro, o Tiago, o Francisco, a Maria, o Bento, a Isabel...
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