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EXPOSIÇÃO: “Viagem”,
de Paulo Neves
Biblioteca Municipal de Santa Maria
da Feira
14 Dez 2019 > 25 Jan 2020
“Afinal, a melhor maneira de viajar é
sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo
excessivamente”
Álvaro de Campos, in “Poemas”
Nesta VIAGEM, Paulo Neves conduz-nos
pela natureza e pelo espírito, que são a sua casa e a sua
matéria-prima, reencontrando-se com a Terra, com a vida, com o
público e com o seu próprio vocabulário artístico. O escultor
transporta-nos para formas e lugares passados, reais e imaginários,
com a sua linguagem compositiva humanizada e figurativa, e fixa-nos
num presente em que a delicadeza transformativa das peças expostas se
sobrepõem à incógnita do futuro.
Seja nas linhas, nos círculos, nas
espirais, nos troncos, nos painéis, nas escadas, nas figuras
aureadas, nos rostos mais ou menos (in)definidos que encontramos
nesta exposição e na sua vasta obra, o artista ressuscita naturezas
mortas e reenquadra-se no contexto telúrico que não abandona.
Dedilha seres que dialogam serenamente entre si e não apenas com
quem os observa. Confronta-nos com os movimentos circulares e
cíclicos e com as metamorfoses que compõem o ciclo da vida.
Mostra-nos uma ligação entre a dimensão humana, entre aquilo que
se emana e o transcendente, entre o espaço terreno e o espaço de
Deus. Expressa o mistério e, em paralelo, a transparência. Exalta o
divino, com a simplicidade de que ele próprio é expressão.
Transporta para a Arte a sua personalidade complexa e profunda, mas
simultaneamente singela, humilde e adorável, convocando-nos a ler a
Arte enquanto expressão da identidade individual.
No universo poético de Paulo Neves,
composto pela madeira, pela pedra, pelo ferro, pelo aço, pelo
bronze, por materiais plásticos e sintéticos, vivem construções
miméticas e estilizadas, em que obras e artista imitam-se
mutuamente, mas desafiando-se sempre numa reinvenção de si mesmos,
numa nova expressão física, num novo caminho explorado. O escultor
e as suas obras são, por isso, intemporais, ao mesmo tempo que
acrescentam novas formas de ler a Escultura contemporânea. Porque cada VIAGEM é a forma das
coisas em movimento, é uma experiência estética inacabada e uma
contemplação atenta, porque cada VIAGEM pode ser um ponto de
partida para um retorno a casa, para um regresso às origens e ao
berço onde demos os primeiros passos, para uma redescoberta
interior, para um amadurecimento e aperfeiçoamento pessoal,
usufruamos das contradições do mundo, da natureza e dos seres!
[Retirado do texto de Fátima Araújo,
inserto na catálogo da exposição]
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