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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

EXPOSIÇÃO: "Viagem"


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EXPOSIÇÃO: “Viagem”,
de Paulo Neves
Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira
14 Dez 2019 > 25 Jan 2020


“Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente”
Álvaro de Campos, in “Poemas”

Nesta VIAGEM, Paulo Neves conduz-nos pela natureza e pelo espírito, que são a sua casa e a sua matéria-prima, reencontrando-se com a Terra, com a vida, com o público e com o seu próprio vocabulário artístico. O escultor transporta-nos para formas e lugares passados, reais e imaginários, com a sua linguagem compositiva humanizada e figurativa, e fixa-nos num presente em que a delicadeza transformativa das peças expostas se sobrepõem à incógnita do futuro.

Seja nas linhas, nos círculos, nas espirais, nos troncos, nos painéis, nas escadas, nas figuras aureadas, nos rostos mais ou menos (in)definidos que encontramos nesta exposição e na sua vasta obra, o artista ressuscita naturezas mortas e reenquadra-se no contexto telúrico que não abandona. Dedilha seres que dialogam serenamente entre si e não apenas com quem os observa. Confronta-nos com os movimentos circulares e cíclicos e com as metamorfoses que compõem o ciclo da vida. Mostra-nos uma ligação entre a dimensão humana, entre aquilo que se emana e o transcendente, entre o espaço terreno e o espaço de Deus. Expressa o mistério e, em paralelo, a transparência. Exalta o divino, com a simplicidade de que ele próprio é expressão. Transporta para a Arte a sua personalidade complexa e profunda, mas simultaneamente singela, humilde e adorável, convocando-nos a ler a Arte enquanto expressão da identidade individual.

No universo poético de Paulo Neves, composto pela madeira, pela pedra, pelo ferro, pelo aço, pelo bronze, por materiais plásticos e sintéticos, vivem construções miméticas e estilizadas, em que obras e artista imitam-se mutuamente, mas desafiando-se sempre numa reinvenção de si mesmos, numa nova expressão física, num novo caminho explorado. O escultor e as suas obras são, por isso, intemporais, ao mesmo tempo que acrescentam novas formas de ler a Escultura contemporânea. Porque cada VIAGEM é a forma das coisas em movimento, é uma experiência estética inacabada e uma contemplação atenta, porque cada VIAGEM pode ser um ponto de partida para um retorno a casa, para um regresso às origens e ao berço onde demos os primeiros passos, para uma redescoberta interior, para um amadurecimento e aperfeiçoamento pessoal, usufruamos das contradições do mundo, da natureza e dos seres!

[Retirado do texto de Fátima Araújo, inserto na catálogo da exposição]

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