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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

TEATRO: "Um Plano do Labirinto"



TEATRO: “Um Plano do Labirinto”
Texto | Francisco Luís Parreira
Direcção e espaço cénico | João Garcia Miguel
Interpretação | Sara Ribeiro, Paulo Mota, João Lagarto
Coreografia | Lara Guidetti
Figurinos | Rute Osório de Castro
Produção | Companhia João Garcia Miguel
80 Minutos | Maiores de 12 Anos
Teatro Carlos Alberto
15 Jan 2020 | qua | 19:00


Reforçando uma estreita e duradoura relação criativa, João Garcia Miguel volta a encenar um texto de Francisco Luís Parreira, para quem a reprodução das situações históricas ou dos textos antigos que elege é um revelador do que somos hoje. Depois de “Lilith”, associado à crise na Grécia, de “Três Parábolas de Possessão”, impregnado de referências bíblicas e do conflito israelo-árabe, e de uma versão livre de “Medeia”, vez agora a “Um Plano do Labirinto”, polifónico conto mitológico sobre a diáspora portuguesa no século XX, no Oriente e em África, reflectindo sobre a verdade e a mentira de muitas histórias recolhidas da Guerra do Ultramar.

Em termos narrativos e de forma sintética, a peça é a história de um Super Camões que atravessa o Rio Tejo para fugir do amor de um continente perdido que nunca conheceu. Esse continente é tanto interior como o amor que ele viveu com uma mulata que alimentava antílopes. Engravidou-a, abandonou-a e, de seguida, com a maior urgência, dedicou-se a escrever poemas. Dos destroços desse amor, resultou uma Atlântida plantada no meio do coração que se afunda, dia-a-dia. Para escapar ao afogamento, apaixona-se por uma e outra mulher todos os dias. Mas a mulata não lhe sai de detrás dos olhos desde a primeira vez que a viu.

Em “Um Plano do Labirinto”, as histórias continuam por dentro e por fora da história. O texto é exímio em mostrar que, ao contrário da poesia de Camões – toda ela baseada na realização externa e extrema de uma acção que se transforma em pensamento, depois de ter crescido como uma sensibilidade -, a poesia deste poeta com quem vivemos hoje é toda ela uma laceração interior e um terror. João Garcia Miguel chama-lhe “o regresso do mistério” para nos dizer que o que fazemos agora contém um movimento em forma de arrependimento. Como aquele sentimento íntimo, envergonhado e escondido, de quando vemos uma africana a limpar os despojos de uma festa onde a loucura passeou por entre corpos despossuídos. Haverá alguém que nos possa ensinar a desaprender de viver e fugir de África?

[Foto: TNSJ | facebook.com/TeatroNacionalSaoJoao/]

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