TEATRO: “Um Plano do
Labirinto”
Texto | Francisco Luís Parreira
Direcção e
espaço cénico | João Garcia Miguel
Interpretação | Sara
Ribeiro, Paulo Mota, João Lagarto
Coreografia | Lara
Guidetti
Figurinos | Rute Osório de Castro
Produção |
Companhia João Garcia Miguel
80 Minutos | Maiores de 12
Anos
Teatro Carlos Alberto
15 Jan 2020 | qua | 19:00
Reforçando uma estreita e duradoura relação criativa, João Garcia Miguel volta a encenar um texto de Francisco Luís Parreira, para quem a reprodução das situações históricas ou dos textos antigos que elege é um revelador do que somos hoje. Depois de “Lilith”, associado à crise na Grécia, de “Três Parábolas de Possessão”, impregnado de referências bíblicas e do conflito israelo-árabe, e de uma versão livre de “Medeia”, vez agora a “Um Plano do Labirinto”, polifónico conto mitológico sobre a diáspora portuguesa no século XX, no Oriente e em África, reflectindo sobre a verdade e a mentira de muitas histórias recolhidas da Guerra do Ultramar.
Em termos narrativos e de forma
sintética, a peça é a história de um Super Camões que atravessa
o Rio Tejo para fugir do amor de um continente perdido que nunca
conheceu. Esse continente é tanto interior como o amor que ele viveu
com uma mulata que alimentava antílopes. Engravidou-a, abandonou-a
e, de seguida, com a maior urgência, dedicou-se a escrever poemas.
Dos destroços desse amor, resultou uma Atlântida plantada no meio
do coração que se afunda, dia-a-dia. Para escapar ao afogamento,
apaixona-se por uma e outra mulher todos os dias. Mas a mulata não
lhe sai de detrás dos olhos desde a primeira vez que a viu.
Em “Um Plano do Labirinto”, as
histórias continuam por dentro e por fora da história. O texto é
exímio em mostrar que, ao contrário da poesia de Camões – toda
ela baseada na realização externa e extrema de uma acção que se
transforma em pensamento, depois de ter crescido como uma
sensibilidade -, a poesia deste poeta com quem vivemos hoje é toda
ela uma laceração interior e um terror. João Garcia Miguel
chama-lhe “o regresso do mistério” para nos dizer que o que
fazemos agora contém um movimento em forma de arrependimento. Como
aquele sentimento íntimo, envergonhado e escondido, de quando vemos
uma africana a limpar os despojos de uma festa onde a loucura passeou
por entre corpos despossuídos. Haverá alguém que nos possa ensinar
a desaprender de viver e fugir de África?
[Foto: TNSJ |
facebook.com/TeatroNacionalSaoJoao/]
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