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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

TEATRO: "O Convidador de Pirilampos"



TEATRO: “O Convidador de Pirilampos”,
Texto | Ondjaki
Encenação | António Jorge Gonçalves
Co-realização plástica e manipulação ao vivo de objectos | António Jorge Gonçalves, Paula Delecave
Interpretação | Cláudia Semedo (narradora) e José Conde (clarinete baixo e música original)
Co-Produção | Centro Cultural Vila Flor, Teatro Nacional S. João, Culturproject, São Luiz Teatro Municipal
40 Minutos | Maiores de 6 anos
Teatro Carlos Alberto
12 Dez 2019 | qui | 15:00


“ - Porque é que fizeste um monstro com dez cabeças? - Porque é que as patas da girafa pareciam as de um cavalo? - Que barulhos eram aqueles no “saxofone”? - Onde é que foste arranjar essas pedras? - Porque é que descascaste a laranja? - Como é que se chama o menino? A peça chegara ao fim e “O Convidador de Pirilampos” abria-se agora a uma estimulante conversa com os espectadores. Em palco, Cláudia Semedo, José Conde, Paula Delecave e António Jorge Gonçalves esforçavam-se por atender às mil e uma questões que, entre o divertido e o pertinente, surgiam em catadupa. Com mais ou menos certezas, o quarteto lá ia respondendo como podia e sabia, pondo cobro às dúvidas de um público de palmo e meio que, de pergunta em pergunta, se revelou conhecedor, atento e apreciador deste “sonho sonhado em palavras, imagens e sons, num palco coberto por uma escuridão assustadora e bonita”.

Baseado no livro homónimo de Ondjaki, a peça que se apresenta por estes dias no Teatro Carlos Alberto parte de um sonho. António Jorge Gonçalves teve de dar tempo ao tempo até se ver a si próprio a sonhar com o texto, a enroscar-se na história, a experimentar muitos tipos de desenhos diferentes abraçados a tipos de letras diferentes, até que o livro nascesse. O tempo passou, “O Convidador de Pirilampos” foi fazendo o seu percurso junto dos leitores e António Jorge Gonçalves voltou a sonhar. Nesse sonho, “meninos e meninas entravam numa sala de teatro segurando na mão pequeninos ramos que colocavam em palco, formando uma pequena grande floresta”. Quando acordou, sabia que o espectáculo iria ser feito. Ouvidos músicos e instrumentos diferentes, escutadas várias actrizes, partilhadas conversas, desenhos e ideias com outra desenhadora, encontrado quem ajudasse a organizar tudo, dos grandes aos pequenos detalhes, reuniu-se este quarteto mágico, “no qual cada um faz uma coisa diferente para chegar a um resultado único”.

São estas pessoas que, em palco, fazem a magia acontecer, dando vida a um menino que gostava de passear com o Avô na Floresta Grande, “mesmo quando já fazia quase-escuro. Ou quando era noite de lua nova”. Não é um menino qualquer, antes é um menino muito curioso, que gosta de cientistar coisas, verbo que designa o que os cientistas e os inventores e as crianças fazem: cientistam as coisas, os animais, o mundo. Este menino inventou, por exemplo, um “unóculo”, um “aumentador de caminhos” e um “convidador de pirilampos”. Enquanto isso, vai aprender a ser amigo do escuro. Com enorme expressividade e uma grande ternura na voz, a actriz Cláudia Semedo é exímia na forma como reproduz o texto, a sua respiração embalada pelo clarinete baixo de José Conde, que assina a música original. A António Jorge Gonçalves cabe “animar” a história com a sua imaginação incrível a debitar na tela maravilhosos desenhos, projectados sobre não menos maravilhosos acetatos, recortes e efeitos da autoria de Paula Delecave. O resultado é delicioso, mostrando quanta paixão e arte pode haver na forma de contar uma história. Terminada a representação, uma questão colocada pelas crianças teima em bailar-me na mente: “ - Esta história é real?

[Foto: António Jorge Gonçalves | facebook.com/antoniojorge.goncalves]

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