TEATRO: “O Convidador de
Pirilampos”,
Texto | Ondjaki
Encenação | António Jorge
Gonçalves
Co-realização plástica e
manipulação ao vivo de objectos | António Jorge Gonçalves, Paula
Delecave
Interpretação | Cláudia Semedo
(narradora) e José Conde (clarinete baixo e música original)
Co-Produção | Centro Cultural Vila
Flor, Teatro Nacional S. João, Culturproject, São Luiz Teatro
Municipal
40 Minutos | Maiores de 6 anos
Teatro Carlos Alberto
12 Dez 2019 | qui | 15:00
“ - Porque é que fizeste um monstro com
dez cabeças? - Porque é que as patas da girafa pareciam as de um
cavalo? - Que barulhos eram aqueles no “saxofone”? - Onde é que
foste arranjar essas pedras? - Porque é que descascaste a laranja? -
Como é que se chama o menino?” A peça chegara ao fim e “O
Convidador de Pirilampos” abria-se agora a uma estimulante conversa
com os espectadores. Em palco, Cláudia Semedo, José Conde, Paula
Delecave e António Jorge Gonçalves esforçavam-se por atender às mil e uma questões que, entre o divertido e o pertinente, surgiam em catadupa. Com mais ou
menos certezas, o quarteto lá ia respondendo como podia e sabia,
pondo cobro às dúvidas de um público de palmo e meio que, de
pergunta em pergunta, se revelou conhecedor, atento e apreciador deste “sonho
sonhado em palavras, imagens e sons, num palco coberto por uma
escuridão assustadora e bonita”.
Baseado no livro homónimo de Ondjaki,
a peça que se apresenta por estes dias no Teatro Carlos Alberto
parte de um sonho. António Jorge Gonçalves teve de dar tempo ao
tempo até se ver a si próprio a sonhar com o texto, a enroscar-se
na história, a experimentar muitos tipos de desenhos diferentes
abraçados a tipos de letras diferentes, até que o livro nascesse. O
tempo passou, “O Convidador de Pirilampos” foi fazendo o seu
percurso junto dos leitores e António Jorge Gonçalves voltou a
sonhar. Nesse sonho, “meninos e meninas entravam numa sala de
teatro segurando na mão pequeninos ramos que colocavam em palco,
formando uma pequena grande floresta”. Quando acordou, sabia que o
espectáculo iria ser feito. Ouvidos músicos e instrumentos
diferentes, escutadas várias actrizes, partilhadas conversas,
desenhos e ideias com outra desenhadora, encontrado quem ajudasse a
organizar tudo, dos grandes aos pequenos detalhes, reuniu-se este
quarteto mágico, “no qual cada um faz uma coisa diferente para
chegar a um resultado único”.
São estas pessoas que, em palco, fazem
a magia acontecer, dando vida a um menino que gostava de passear com o Avô na
Floresta Grande, “mesmo quando já fazia quase-escuro. Ou quando era noite de lua nova”. Não é
um menino qualquer, antes é um menino muito curioso, que gosta de
cientistar coisas, verbo que designa o que os cientistas e os
inventores e as crianças fazem: cientistam as coisas, os animais, o
mundo. Este menino inventou, por exemplo, um “unóculo”, um “aumentador de
caminhos” e um “convidador de pirilampos”. Enquanto isso, vai
aprender a ser amigo do escuro. Com enorme expressividade e uma grande ternura na voz, a actriz Cláudia Semedo é exímia na forma como reproduz o texto, a sua respiração embalada pelo clarinete
baixo de José Conde, que assina a música original. A António Jorge Gonçalves cabe “animar” a
história com a sua imaginação incrível a debitar na tela maravilhosos desenhos, projectados sobre não menos maravilhosos acetatos, recortes e
efeitos da autoria de Paula Delecave. O resultado é
delicioso, mostrando quanta paixão e arte pode haver na forma de contar uma
história. Terminada a representação, uma questão colocada pelas crianças
teima em bailar-me na mente: “ - Esta história é real?”
[Foto: António Jorge Gonçalves |
facebook.com/antoniojorge.goncalves]
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