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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

CERTAME: Festival Literário de Ovar 2019


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CERTAME: Festival Literário de Ovar
Alice Brito, Andreia Azevedo Moreira, António Mota, António Vilhena, Bruno Henriques, Carlos Nuno Granja, Cristina Marques, Evelina Oliveira, Fedra Santos, Filipe Homem Fonseca, Gisela Casimiro, Henrique Manuel Bento Fialho, Isabel Nery, Isabel Rio Novo, Isabel Tallysha-Soares, João Cunha Silva, João Morales, José Viale Moutinho, Júlia Nery, Luís Filipe Sarmento, Manuella Bezerra de Melo, Marco Neves, Maria Almira Soares, Maria da Conceição Vicente, Maria João Cantinho, Mariana Machado, Marlene Ferraz, Nuno Costa Santos, Pedro Guilherme-Moreira, Pedro Teixeira Neves, Renato Filipe Cardoso, Rui Zink, Sandra Catarino, Sérgio Almeida, Susana Moreira Marques, Teresa Moure, Tiago Alves Costa, Wagner Merije, Yara Monteiro, Zetho Cunha Gonçalves
Jardim do Cáster, Ovar
12 Set > 15 Set 2019


Desenganem-se, mesmo os mais cépticos: Embora concedendo que o Carnaval, o Azulejo e o Pão de Ló também são cultura, o grande evento cultural do Concelho é, cada vez mais, o Festival Literário de Ovar. Marcando a “rentrée” da melhor forma, o evento tem para oferecer quatro jubilosos dias de celebração da literatura, mediante um amplo conjunto de mesas de análise e debate, apresentações de livros, workshops de ilustração, performances de poesia, sessões de contos e ainda espaços destinados ao convívio entre escritores e leitores. Juntemos a isto nomes como os de Filipe Homem Fonseca, Isabel Nery, Alice Brito, Isabel Rio Novo, Yara Monteiro, José Viale Moutinho, António Mota ou Rui Zink, entre muitos outros, e rapidamente se percebe o quanto de bom o Festival Literário de Ovar teve para oferecer nesta que foi a sua quinta edição.

Fortemente ancoradas na poesia de Sophia de Mello Breyner, as várias mesas discutiram temas como a liberdade e a justiça, a passagem do tempo, as coisas simples e verdadeiras, o desespero da ausência, a saudade ou os designios de Deus, situando-os num tempo hoje e analisando detalhadamente as suas mais variadas implicações. Certamente que nem todas as mesas tiveram o mesmo tipo de abordagem e houve-as mais “ligeiras”, mas nem por isso menos enriquecedoras. António Mota, na mesa que encerrou o Festival, é disto um exemplo paradigmático, ao centrar as suas intervenções, de forma bem humorada, na intensa actividade literária de quatro décadas, Em contrapartida, intervenções houve que, pelo seu significado e alcance, se ofereceram de forma mais intensa à reflexão, permitindo-me destacar a galega Teresa Moure e a sua dissecção – e de certa forma desmistificação – da frase posta em cima da Mesa 6 (“Por maior que seja o desespero, nenhuma ausência é mais funda do que a tua”).

Sem pretender alongar-me em demasia, deixo para memória futura algumas frases que puderam ser escutadas nesta edição do Festival Literário de Ovar. Ainda que descontextualizadas, não deixam de ser significativas e merecedoras da maior reflexão: “A literatura de resistência não nos confere a felicidade; antes é um caminho para a felicidade” (José Viale Moutinho); “Encontro mais poesia em muitos rappers do que em muitos poetas que publicam hoje em dia” (Gisela Casimiro); “Escrever implica reposicionar o ego” (Yara Monteiro); “A escrita é uma tentativa de pôr alguma ordem num mundo em desordem” (Sérgio Almeida); “A literatura não é para pedantes, não é uma massagem ao ego” (Pedro Guilherme-Moreira); “Os livros são contra este tempo e este tempo é contra os livros” (Nuno Costa Santos); “Parto do princípio que não sei nada; é um bom princípio para começar a escrever” (Filipe Homem Fonseca). “A língua portuguesa não é uma caixa, não é estanque, muda de terra para terra, de rua para rua, de família para família; e isso é o mais bonito, o que cada um faz com a língua” (Marco Neves).

Duas notas muito breves para finalizar, a primeira pegando nas palavras de Henrique Manuel Bento Fialho e na sua perspectiva sobre os Festivais Literários: “Estes encontros”, diz ele, “são muito importantes para passarmos a mensagem como forma de combate ao que não queremos, como por exemplo termos uma Feira com fiscais a recolheram os livros onde são representados dois homens a beijarem-se na boca”. Para o final deixo o grande, enorme momento que foi o “manifesto” lido por Pedro Guilherme-Moreira e que, assinalando os cinco anos da acção de protesto contra o fim da Feira do Livro do Porto, organizada pela APEL - “Eu, o Miranda, o Marmelo e o Rocha!” -, foi também uma forma de render uma sentida homenagem a esse “acto de liberdade” que é o Festival Literário de Ovar, e ao seu grande obreiro, Carlos Nuno Granja – “um gajo ainda mais bondoso do que eu”, nas palavras de PG-M (e aqui caía bem um “puta que pariu!”). 

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