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CERTAME: Festival Literário de Ovar
Alice Brito, Andreia Azevedo
Moreira, António Mota, António Vilhena, Bruno Henriques, Carlos
Nuno Granja, Cristina Marques, Evelina Oliveira, Fedra Santos, Filipe
Homem Fonseca, Gisela Casimiro, Henrique Manuel Bento Fialho, Isabel
Nery, Isabel Rio Novo, Isabel Tallysha-Soares, João Cunha Silva,
João Morales, José Viale Moutinho, Júlia Nery, Luís Filipe
Sarmento, Manuella Bezerra de Melo, Marco Neves, Maria Almira Soares,
Maria da Conceição Vicente, Maria João Cantinho, Mariana Machado,
Marlene Ferraz, Nuno Costa Santos, Pedro Guilherme-Moreira, Pedro
Teixeira Neves, Renato Filipe Cardoso, Rui Zink, Sandra Catarino,
Sérgio Almeida, Susana Moreira Marques, Teresa Moure, Tiago Alves
Costa, Wagner Merije, Yara Monteiro, Zetho Cunha Gonçalves
Jardim do Cáster, Ovar
12 Set > 15 Set 2019
Desenganem-se, mesmo os mais cépticos:
Embora concedendo que o Carnaval, o Azulejo e o Pão de Ló também
são cultura, o grande evento cultural do Concelho é, cada vez mais,
o Festival Literário de Ovar. Marcando a “rentrée” da melhor
forma, o evento tem para oferecer quatro jubilosos dias de celebração
da literatura, mediante um amplo conjunto de mesas de análise e
debate, apresentações de livros, workshops de ilustração,
performances de poesia, sessões de contos e ainda espaços
destinados ao convívio entre escritores e leitores. Juntemos a isto
nomes como os de Filipe Homem Fonseca, Isabel Nery, Alice Brito,
Isabel Rio Novo, Yara Monteiro, José Viale Moutinho, António Mota
ou Rui Zink, entre muitos outros, e rapidamente se percebe o quanto
de bom o Festival Literário de Ovar teve para oferecer nesta que foi
a sua quinta edição.
Fortemente ancoradas na poesia de
Sophia de Mello Breyner, as várias mesas discutiram temas como a
liberdade e a justiça, a passagem do tempo, as coisas simples e
verdadeiras, o desespero da ausência, a saudade ou os designios de
Deus, situando-os num tempo hoje e analisando detalhadamente as suas
mais variadas implicações. Certamente que nem todas as mesas
tiveram o mesmo tipo de abordagem e houve-as mais “ligeiras”, mas
nem por isso menos enriquecedoras. António Mota, na mesa que
encerrou o Festival, é disto um exemplo paradigmático, ao centrar
as suas intervenções, de forma bem humorada, na intensa actividade
literária de quatro décadas, Em contrapartida, intervenções houve
que, pelo seu significado e alcance, se ofereceram de forma mais
intensa à reflexão, permitindo-me destacar a galega Teresa Moure e
a sua dissecção – e de certa forma desmistificação – da frase
posta em cima da Mesa 6 (“Por maior que seja o desespero, nenhuma
ausência é mais funda do que a tua”).
Sem pretender alongar-me em demasia,
deixo para memória futura algumas frases que puderam ser escutadas
nesta edição do Festival Literário de Ovar. Ainda que
descontextualizadas, não deixam de ser significativas e merecedoras
da maior reflexão: “A literatura de resistência não nos confere
a felicidade; antes é um caminho para a felicidade” (José Viale
Moutinho); “Encontro mais poesia em muitos rappers do que em muitos
poetas que publicam hoje em dia” (Gisela Casimiro); “Escrever
implica reposicionar o ego” (Yara Monteiro); “A escrita é uma
tentativa de pôr alguma ordem num mundo em desordem” (Sérgio
Almeida); “A
literatura não é para pedantes, não é uma massagem ao ego”
(Pedro Guilherme-Moreira); “Os livros são contra este tempo e este
tempo é contra os livros” (Nuno Costa Santos); “Parto do
princípio que não sei nada; é um bom princípio para começar a
escrever” (Filipe Homem Fonseca). “A língua portuguesa não é
uma caixa, não é estanque, muda de terra para terra, de rua para
rua, de família para família; e isso é o mais bonito, o que cada
um faz com a língua” (Marco Neves).
Duas notas muito breves para finalizar,
a primeira pegando nas palavras de Henrique Manuel Bento Fialho e na
sua perspectiva sobre os Festivais Literários: “Estes encontros”,
diz ele, “são muito importantes para passarmos a mensagem como
forma de combate ao que não queremos, como por exemplo termos uma
Feira com fiscais a recolheram os livros onde são representados dois
homens a beijarem-se na boca”. Para o final deixo o grande, enorme
momento que foi o “manifesto” lido por Pedro Guilherme-Moreira e
que, assinalando os cinco anos da acção de protesto contra o fim da
Feira do Livro do Porto, organizada pela APEL - “Eu, o Miranda, o
Marmelo e o Rocha!” -, foi também uma forma de render uma sentida
homenagem a esse “acto de liberdade” que é o Festival Literário
de Ovar, e ao seu grande obreiro, Carlos Nuno Granja – “um gajo
ainda mais bondoso do que eu”, nas palavras de PG-M (e aqui caía bem um “puta que pariu!”).
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