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sábado, 10 de agosto de 2019

LIVRO: "A Saga de Selma Lagerlöf"



LIVRO: “A Saga de Selma Lagerlöf”,
de Cristina Carvalho
Ed. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2018


“Tive sempre presente em mim a ideia e a certeza de que toda a literatura deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de água, como um estremecer de folhas de árvore.”

Primeiro surgiu a ideia de escrever um livro que pudesse evocar a figura de Selma Lagerlöf, nascida na Suécia em 20 de Novembro de 1858 e desaparecida aos 81 anos, na mesma casa onde nasceu. Depois veio a viagem à Suécia e aos locais marcantes da vida da escritora – de Mårbacka, a sua casa, e das incríveis florestas ao longo do Lago Fryken, na província de Värmland, à cidade de Falun, onde Selma Lagerlöf viveu treze anos e escreveu alguns dos livros que compõem a sua notável obra. O resultado é este “A Saga de Selma Lagerlöf”, de Cristina Carvalho, um livro onde se procura descrever o quotidiano desta professora, política, sufragista e feminista, uma verdadeira mulher de causas e a primeira escritora a ser distinguida com o Prémio Nobel da Literatura, em 1909.

Se há aspecto que marca este “romance biográfico” é a honestidade da proposta, da qual resulta uma escrita intensa e emotiva. Relato vivo das múltiplas impressões e apontamentos de viagem ao país natal de Selma Lagerlöf, esta “saga” vai muito além do registo evocativo, repleto de imagens plenas de força e beleza. Ela é, sobretudo, um gesto de humildade perante a dimensão humanista e o exemplo de coragem da escritora sueca, por parte de quem com ela se identifica fortemente. Daí esta tão grande cumplicidade entre biógrafa e biografada expressa em palavras, daí este afago ao leitor que, guiado pelas mãos de ambas, se deixa introduzir num universo onde o onírico, o fantasmagórico e o misterioso transformam a vida em festa e a morte em surpresa.

Face a tão rica história de vida, é natural que o leitor possa sentir alguma frustração por não ver desenvolvidos certos tópicos, nomeadamente a relação amorosa que manteve com duas mulheres ou o embate com a ala conservadora da Academia Sueca e em particular com August Strindberg. A curiosidade pode sempre ser satisfeita com a consulta das fontes de pesquisa certas, mas seria muito mais interessante de ver tratados estes aspectos pela “voz” de Selma Lagerlöf. Também os momentos finais do livro e a descrição pormenorizada de Mårbacka, em jeito de visita guiada, destoam do conjunto da obra, mas no geral este é um livro que se lê com enorme interesse, contendo passagens primorosas do ponto de vista narrativo e de onde ressaltam os valores da grande escrita.

1 comentário:

  1. Agradeço muito a sua boa leitura e o comentário que faz ao meu livro.
    Fico reconhecida e sensibilizada.

    Cristina Carvalho

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