LIVRO: “A Saga de Selma Lagerlöf”,
de Cristina Carvalho
Ed. Relógio D'Água Editores,
Outubro de 2018
“Tive sempre presente em mim a ideia
e a certeza de que toda a literatura deverá ser simples e
compreensível como uma correnteza de água, como um estremecer de
folhas de árvore.”
Primeiro surgiu a ideia de escrever um
livro que pudesse evocar a figura de Selma Lagerlöf, nascida na
Suécia em 20 de Novembro de 1858 e desaparecida aos 81 anos, na
mesma casa onde nasceu. Depois veio a viagem à Suécia e aos locais
marcantes da vida da escritora – de Mårbacka, a sua casa, e das
incríveis florestas ao longo do Lago Fryken, na província de
Värmland, à cidade de Falun, onde Selma Lagerlöf viveu treze anos
e escreveu alguns dos livros que compõem a sua notável obra. O
resultado é este “A Saga de Selma Lagerlöf”, de Cristina
Carvalho, um livro onde se procura descrever o quotidiano desta
professora, política, sufragista e feminista, uma verdadeira mulher
de causas e a primeira escritora a ser distinguida com o Prémio
Nobel da Literatura, em 1909.
Se há aspecto que marca este “romance
biográfico” é a honestidade da proposta, da qual resulta uma
escrita intensa e emotiva. Relato vivo das múltiplas impressões e
apontamentos de viagem ao país natal de Selma Lagerlöf, esta “saga”
vai muito além do registo evocativo, repleto de imagens plenas de
força e beleza. Ela é, sobretudo, um gesto de humildade perante a
dimensão humanista e o exemplo de coragem da escritora sueca, por
parte de quem com ela se identifica fortemente. Daí esta tão grande
cumplicidade entre biógrafa e biografada expressa em palavras, daí
este afago ao leitor que, guiado pelas mãos de ambas, se deixa
introduzir num universo onde o onírico, o fantasmagórico e o
misterioso transformam a vida em festa e a morte em surpresa.
Face a tão rica história de vida, é
natural que o leitor possa sentir alguma frustração por não ver
desenvolvidos certos tópicos, nomeadamente a relação amorosa que
manteve com duas mulheres ou o embate com a ala conservadora da
Academia Sueca e em particular com August Strindberg. A curiosidade
pode sempre ser satisfeita com a consulta das fontes de pesquisa
certas, mas seria muito mais interessante de ver tratados estes aspectos pela “voz” de
Selma Lagerlöf. Também os momentos finais do livro e a descrição
pormenorizada de Mårbacka, em jeito de visita guiada, destoam do
conjunto da obra, mas no geral este é um livro que se lê com enorme
interesse, contendo passagens primorosas do ponto de vista narrativo
e de onde ressaltam os valores da grande escrita.
Agradeço muito a sua boa leitura e o comentário que faz ao meu livro.
ResponderEliminarFico reconhecida e sensibilizada.
Cristina Carvalho