CONCERTO: “Pour Le Tombeau de
Claude Debussy”,
de Judith Jáuregui
Porto Pianofest 2019
Porto Pianofest 2019
Palácio da Bolsa – Salão Árabe
09 Ago 2019 | sex | 21:00
O Salão Árabe do Palácio da Bolsa
foi o palco escolhido para o encerramento da quarta edição do Porto
Pianofest, certame que, ao longo de nove dias, espalhou a grande
música pela cidade, com uma série de concertos, recitais,
conferências e masterclasses em vários locais históricos e
criteriosamente seleccionados. Numa das mais emblemáticas salas da
Invicta, coube à pianista espanhola Judith Jáuregui encerrar tão
vasto e ambicioso programa, oferecendo ao público que esgotou
completamente o espaço um recital intitulado “Pour Le Tombeau de
Claude Debussy”, homenageando o compositor francês com obras suas
e de artistas com ele relacionados.
Peça de abertura do concerto, “Pour
Le Tombeau de Claude Debussy” foi escrita originalmente para
guitarra por Manuel de Falla e revelou-se uma escolha feliz da
pianista, evocando uma calma e luminosa “siesta” em Granada, com
recurso a fragmentos de “La Soirée dans Grenade” e “La Puerta
del Vino” a vincar a forte ligação entre os dois compositores.
Seguiu-se “Balada nº 2 em Si menor”, de Franz Liszt, uma das
suas mais conhecidas e interpretadas obras, trazendo para um nível superior o virtuosismo de Judith Jáuregui, irrepreensível no
domínio dos vários planos da peça e na forma como soube evidenciar
o dramatismo de muitas das suas passagens. Antes ainda de um breve
intervalo, a música do próprio Debussy fez-se ouvir no Salão,
primeiro com “Estampes” e os seus três movimentos - “Pagodes”,
“La Soirée dans Grenade” e “Jardins sous la Pluie” - a
proporem uma viagem entre o extremo oriente, a muito árabe cidade de
Granada e a chuvosa Orbec, na Normandia, e depois com
“L'Isle Joyeuse”, peça inspirada numa pintura de Watteau e que
sugere, também ela, uma viagem através duma paisagem carregada de
nostalgia, com tanto de real como de imaginário.
Intensa e muito bela, a peça “Valses
Nobles et Sentimentales”, de Maurice Ravel, abriu de forma radiosa
a segunda parte do concerto, oferecendo um “blend” eclético de
música impressionista e modernista que deixou o público
completamente rendido. “Andante Spianato et Grande Polonaise
Brillante op. 22”, uma das mais luminosas e chamativas obras do
início de carreira de Fréderic Chopin, foi como que “a cereja no
topo do bolo”, um momento inesquecível, sensível e delicado. Já
no “encore”, Judith Jáuregui ofereceu mais um belo trecho
musical, “Jeunes Filles aux Jardins”, de Federico Mompou,
encerrando uma noite de sonho. De um concerto
desta natureza sai-se “de alma cheia”. Mais do que um recital de
grande nível, este foi um momento muito pessoal de reconciliação com o piano,
numa altura em que só o desempenho técnico parece contar. Judith
Jáuregui mostrou que a música é sobretudo um apelo aos sentidos e
que o virtuosismo pode igualmente ser medido numa escala de emoções.
Memorável!
[Foto: facebook.com/portopianofest/]
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