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sábado, 10 de agosto de 2019

EXPOSIÇÃO DE DESENHO E PINTURA: "Metamorfoses da Humanidade"


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EXPOSIÇÃO DE DESENHO E PINTURA: “Metamorfoses da Humanidade”,
de Graça Morais
Museu Nacional de Soares dos Reis
25 Jul > 29 Set 2019


Estranho e perturbador, assim podemos classificar “Metamorfoses da Humanidade”, o notável conjunto de oito dezenas de desenhos e pinturas, da autoria da artista plástica Graça Morais e que por estes dias pode ser apreciado no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto. Mais do que uma exposição, porém, esta é uma reflexão da artista sobre o espaço em que nos inserimos e aquilo em que nos estamos a transformar. Usando as palavras da apresentação desta mostra, estamos aqui perante “um olhar muito particular sobre a humanidade”, que resulta em obras “grandemente comprometidas com a sociedade contemporânea”, o homem a cair sobre si próprio como uma praga de gafanhotos, ele próprio um ser em mutação, a cabeça couraçada, as pinças em lugar dos dedos, avançando em hordas, sem destino definido.

Realizados em 2018, estes trabalhos espelham, de forma contundente, a figura humana e a sua condição num mundo em convulsão. Os rostos, quase só esboçados, mostram recorrentemente as mordaças, as cadeias ou os arames que impedem as bocas de se abrirem, de se expressarem, de clamarem por justiça ou, sequer, por auxílio. Alinhadas contra um muro, humilhadas, com os braços estendidos ou seguindo em filas intermináveis, com as crianças pela mão ou ao colo, estas figuras representam as ondas de migrantes e refugiados forçados a abandonarem a sua casa e o seu país, fugindo da fome, da pobreza, das guerras, da violência e da morte, empurrados para um futuro onde reina a incerteza e o medo.

“Tão intrigantes como grotescas, tão serenas como inquietas, tão densas como etéreas”, as figuras e os rostos que se abrem ao olhar do visitante espelham uma complexa trama de emoções e acções humanas. Elas são “a materialização de um universo desconcertante, transgressor, apartado de qualquer organização racional e lógica de sentidos”. Em cada um dos trabalhos apresentados, como se em pequenos pedaços de um mundo estilhaçado, reconhecemos emoções que nos são íntimas. A voragem, a capacidade de destruir, a vontade de recusar ao outro a sua humanidade e dignidade, ou o desejo de domínio, tudo isso encontramos aí, a par do sofrimento das vítimas na sua silenciosa e derradeira resistência, na sua resiliente exigência de dignidade. Tudo para ver, com entrada gratuita, até ao próximo dia 29 de Setembro.

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