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domingo, 4 de agosto de 2019

CINEMA: "Pássaros de Verão"



CINEMA: “Pássaros de Verão” / “Pájaros de Verano”
Realização | Cristina Gallego, Ciro Guerra
Argumento | Maria Camila Arias, Jacques Toulemonde Vidal
Fotografia | David Gallego
Montagem | Miguel Schverdfinger
Interpretação | Carmiña Martínez, José Acosta, Natalia Reyes, Jhon Narváez, Greider Meza, José Vicente, Juan Bautista Martínez, Miguel Viera, Sergio Coen, Aslenis Márquez, José Naider
Produção | Cristina Gallego, Katrin Pors
Colômbia, Dinamarca, México, Alemanha, Suiça, França | 2018 | Drama | 125 Minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
03 Ago 2019 | sab | 16:00


Baseado numa história real que explica a origem do narcotráfico na Colômbia, o filme situa-se nos anos 70, momento em que a juventude norte-americana abraça a cultura hippie e, com ela, a marijuana. Tal facto, fez com que os agricultores colombianos se convertessem, do dia para a noite, em empresários de sucesso. No deserto de Guajira, uma família indígena Wayuu vai assumir um papel de liderança neste negócio completamente novo e cheio de riscos. Mas a inesperada riqueza e a sede de poder irão desencadear uma guerra fratricida, colocando em perigo as tradições ancestrais, os valores da família e as vidas de cada um.

Com ponto de partida num aturado trabalho de investigação, “Pássaros de Verão” é uma viagem à cultura colombiana, levando o espectador pelos caminhos da tradição, da cultura lendária indígena e do seu imaginário secular, mas também pela perda de valores devido à contaminação cultural, consubstanciada na substituição de cultivos, tráfico de drogas, crime, mercados ilegais, cultura do dinheiro fácil, tráfico de armas, institucionalidade estatal corrupta, ganância, violência e morte. Uma viagem repleta de histórias já vistas e percorridas, tanto na Colômbia como em muitas outras partes do mundo, e que conferem ao filme a força suficiente para entender os mecanismos que subvertem a cultura e a “alma” dos povos, por muito enraizadas que elas possam estar.

Não se pode acusar Cristina Gallego e Ciro Guerra de falta de ambição: “Pássaros de Verão” finge ser uma história épica sobre o início de nossa maldição social. É por isso que há um narrador cego, a remeter para uma espécie de tribunal homérico, que narra os factos da história em tom poético, é por isso que o filme é dividido em cantos e é por isso que não cessam de surgir referências à literatura de Gabriel García Márquez. A mistura final dos múltiplos elementos em questão revela-se feliz. A capacidade dos realizadores em narrar os factos e o bem sucedido projeto de produção face às complexas condições de filmagem em locais inóspitos, contribuem para que “Pássaros de Verão” resulte num belíssimo filme. Não é um ensaio antropológico nem pretende ser. Tomou como marco de referência um grupo étnico ancestral e em torno dele construiu um trágico relato que reflecte, sobretudo, aquilo em que nos tornámos. Um dos grandes filmes desta temporada. Para ver e meditar!

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