CINEMA: “Pássaros de Verão” / “Pájaros de Verano”
Realização | Cristina Gallego,
Ciro Guerra
Argumento | Maria Camila Arias,
Jacques Toulemonde Vidal
Fotografia | David Gallego
Montagem | Miguel Schverdfinger
Interpretação | Carmiña Martínez,
José Acosta, Natalia Reyes, Jhon Narváez, Greider Meza, José
Vicente, Juan Bautista Martínez, Miguel Viera, Sergio Coen, Aslenis
Márquez, José Naider
Produção | Cristina Gallego,
Katrin Pors
Colômbia, Dinamarca, México,
Alemanha, Suiça, França | 2018 | Drama | 125 Minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
03 Ago 2019 | sab | 16:00
Baseado numa história real que explica
a origem do narcotráfico na Colômbia, o filme situa-se nos anos 70,
momento em que a juventude norte-americana abraça a cultura hippie
e, com ela, a marijuana. Tal facto, fez com que os agricultores
colombianos se convertessem, do dia para a noite, em empresários de
sucesso. No deserto de Guajira, uma família indígena Wayuu vai
assumir um papel de liderança neste negócio completamente novo e
cheio de riscos. Mas a inesperada riqueza e a sede de poder irão
desencadear uma guerra fratricida, colocando em perigo as tradições
ancestrais, os valores da família e as vidas de cada um.
Com ponto de partida num aturado
trabalho de investigação, “Pássaros de Verão” é uma viagem à
cultura colombiana, levando o espectador pelos caminhos da tradição,
da cultura lendária indígena e do seu imaginário secular, mas
também pela perda de valores devido à contaminação cultural,
consubstanciada na substituição de cultivos, tráfico de drogas,
crime, mercados ilegais, cultura do dinheiro fácil, tráfico de
armas, institucionalidade estatal corrupta, ganância, violência e
morte. Uma viagem repleta de histórias já vistas e percorridas,
tanto na Colômbia como em muitas outras partes do mundo, e que
conferem ao filme a força suficiente para entender os mecanismos que
subvertem a cultura e a “alma” dos povos, por muito enraizadas
que elas possam estar.
Não se pode acusar Cristina Gallego e
Ciro Guerra de falta de ambição: “Pássaros de Verão” finge
ser uma história épica sobre o início de nossa maldição social.
É por isso que há um narrador cego, a remeter para uma espécie de
tribunal homérico, que narra os factos da história em tom poético,
é por isso que o filme é dividido em cantos e é por isso que não
cessam de surgir referências à literatura de Gabriel García
Márquez. A mistura final dos múltiplos elementos em questão
revela-se feliz. A capacidade dos realizadores em narrar os factos e
o bem sucedido projeto de produção face às complexas condições
de filmagem em locais inóspitos, contribuem para que “Pássaros de
Verão” resulte num belíssimo filme. Não é um ensaio
antropológico nem pretende ser. Tomou como marco de referência um
grupo étnico ancestral e em torno dele construiu um trágico relato
que reflecte, sobretudo, aquilo em que nos tornámos. Um dos grandes filmes desta temporada. Para ver e
meditar!
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