LIVRO: “Estocolmo”,
de Sérgio Godinho
Edição | Lúcia Pinho e Melo
Ed. Quetzal Editores, Fevereiro de
2019
Diria que há livros que se revelam
pouco merecedores do tempo que lhes dispensamos e “Estocolmo”, de
Sérgio Godinho, só vem reforçar esta convicção. Não que não se
consigam vislumbrar méritos nos seus pressupostos – uma ficção
onde avulta a bizarra relação entre um jovem em cativeiro e uma
mulher, com o dobro da idade, que o mantém cativo -, mas porque há
maneiras e maneiras de se contar uma história. Ora, no caso em
apreço, há toda uma história contada tibiamente, que dá voltas
sobre si mesma sem sair do sítio, incapaz de despertar qualquer
interesse, a emoção no grau zero.
Das páginas iniciais, retém o leitor
breves traços das duas personagens, ficando na expectativa de que o
livro as vá alimentando, até se oferecerem por inteiro no seu
enviesamento doentio ou na sua sordidez. Mas o que sobressai é uma
narrativa que cedo se revela pouco prometedora, falha de ideias,
repetitiva e maçadora, pródiga em tiradas cuja moralidade cresce em
bicos de pés para logo se reduzir à sua pequenez. Preponderante, a
sensação de vazio avoluma-se com o final da história, uma patine
cor-de-rosa de mau gosto a invadir pessoas e lugares, distorcendo e
deformando até aos limites do suportável.
Por aquilo que é enquanto escritor de
canções e pelo lugar que a sua música ocupa no nosso imaginário
colectivo, Sérgio Godinho é merecedor do meu mais profundo
respeito. Mas porque vibro, ainda e sempre, com os seus temas
maiores, também sinto que não devo “fechar os olhos” a
“Estocolmo”, ainda que a minha opinião seja profundamente
negativa. Tentasse o autor uma abordagem pura e dura aos contornos
psicológicos de cada uma das personagens e, ainda que incoerente ou
repleto de lacunas, desculpar-se-ia o “atrevimento”. Fosse mais
“íntimo” deste casal improvável e assumisse, do princípio ao
fim, o erotismo apenas sugerido e talvez tudo fosse bem diferente.
Agora este “nem sim nem sopas”, sensaborão e enfadonho, é que
não.
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