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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

LIVRO: "Estocolmo"



LIVRO: “Estocolmo”,
de Sérgio Godinho
Edição | Lúcia Pinho e Melo
Ed. Quetzal Editores, Fevereiro de 2019


Diria que há livros que se revelam pouco merecedores do tempo que lhes dispensamos e “Estocolmo”, de Sérgio Godinho, só vem reforçar esta convicção. Não que não se consigam vislumbrar méritos nos seus pressupostos – uma ficção onde avulta a bizarra relação entre um jovem em cativeiro e uma mulher, com o dobro da idade, que o mantém cativo -, mas porque há maneiras e maneiras de se contar uma história. Ora, no caso em apreço, há toda uma história contada tibiamente, que dá voltas sobre si mesma sem sair do sítio, incapaz de despertar qualquer interesse, a emoção no grau zero.

Das páginas iniciais, retém o leitor breves traços das duas personagens, ficando na expectativa de que o livro as vá alimentando, até se oferecerem por inteiro no seu enviesamento doentio ou na sua sordidez. Mas o que sobressai é uma narrativa que cedo se revela pouco prometedora, falha de ideias, repetitiva e maçadora, pródiga em tiradas cuja moralidade cresce em bicos de pés para logo se reduzir à sua pequenez. Preponderante, a sensação de vazio avoluma-se com o final da história, uma patine cor-de-rosa de mau gosto a invadir pessoas e lugares, distorcendo e deformando até aos limites do suportável.

Por aquilo que é enquanto escritor de canções e pelo lugar que a sua música ocupa no nosso imaginário colectivo, Sérgio Godinho é merecedor do meu mais profundo respeito. Mas porque vibro, ainda e sempre, com os seus temas maiores, também sinto que não devo “fechar os olhos” a “Estocolmo”, ainda que a minha opinião seja profundamente negativa. Tentasse o autor uma abordagem pura e dura aos contornos psicológicos de cada uma das personagens e, ainda que incoerente ou repleto de lacunas, desculpar-se-ia o “atrevimento”. Fosse mais “íntimo” deste casal improvável e assumisse, do princípio ao fim, o erotismo apenas sugerido e talvez tudo fosse bem diferente. Agora este “nem sim nem sopas”, sensaborão e enfadonho, é que não.

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