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sábado, 25 de maio de 2019

LIVRO: "Eliete - A Vida Normal"



LIVRO: “Eliete – A Vida Normal”,
de Dulce Maria Cardoso
Ed. Edições Tinta-da-china, Novembro de 2018


Findas as últimas linhas de “Eliete”, ficou-me uma interjeição a bailar na mente, uma das muitas que “herdei” do meu pai: “Essa é boa!”. De facto, apesar das pistas que vão surgindo ao longo do livro (e Dulce Maria Cardoso é extremamente cuidadosa na forma como gere a informação que vai dispensando ao leitor), nada faria prever uma revelação tão surpreendente. Desde já, aqui fica o meu elogio rasgado à qualidade da escrita da autora e à sua inspirada veia ficcional, exímia em levar o leitor por caminhos que tão bem servem o propósito de contar uma história, dando a “estocada final” no sítio e no momento certos. O meu lamento – e certamente o dos leitores que têm o livro em mãos – é que não esteja ainda disponível a segunda parte deste “Eliete - A Vida Normal”, o enredo em suspenso, uma vontade irreprimível de perceber os passos seguintes, a descoberta adiada.

Mas o livro não acabou? A resposta é “sim” e “não”. “Eliete - A Vida Normal” é apenas uma parte da história duma mulher que, como todas as mulheres, é feita de encanto pronto a ser decifrado. Eliete é essa mulher que se quer livre de estereótipos. Uma mulher pronta a romper amarras em busca da sua auto-estima, a rejeitar o medo e a pressão duma sociedade sexista, a assumir a livre escolha sobre si e sobre o seu corpo, a lutar com todas as forças para driblar o “não” que se lhe oferece apenas pelo facto de ser mulher e a sentir o que só ela sabe que sente dentro de si. Eliete é a mulher que se descobre, que se define, que se reformula e se transforma. Acima de tudo, é a mulher que aprende a amar-se enquanto mulher.

O tempo da leitura de “Eliete” foi, para mim, um tempo de descoberta. É duma extrema doçura e subtileza a forma como Dulce Maria Cardoso compõe a figura desta mulher, como vai alargando o seu espaço, como a vai tornando mais viva e concreta, mais consistente com a forma de se reconhecer e aceitar. “Eliete” é o tempo de um tempo em que a individualidade se assume e a consciência se torna, em que as máscaras caem e com elas o preconceito (o preconceito de género, entenda-se, essa que é uma das nódoas mais negras da nossa sociedade). Entender e amar Eliete é entender e amar todos as mulheres. Pela sua qualidade intrínseca e pelo que representa enquanto espaço de combate e de liberdade, este é um livro que deve merecer da parte de todos uma atenção muito particular. Diria mesmo que deveria ser de leitura obrigatória para todos os homens. Talvez, então, o mundo fosse um bocadinho melhor!

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