TEATRO: “Tchekhov É Um Cogumelo”
Direção, concepção e adaptação
| André Guerreiro Lopes
Texto | Extractos de “As Três
Irmãs”, de Anton Tchekhov
Interpretação | Djin Sganzerla,
Helena Ignez, Michele Matalon, Samuel Kavalerski, Fernando Rocha e
Cleber D’Nuncio
Participação especial | Grupo
Embatucadores
Cenário e figurinos | Simone Mina
Direcção musical e instalação
sonora | Gregory Slivar
Preparação de canto e músicas
tradicionais | Roberto Moura
Direcção de produção | Djin
Sganzerla
90 Minutos | Maiores de 12
FITEI – Festival Internacional de
Teatro de Expressão Ibérica
Teatro Nacional de S. João
19 Mai 2019 | dom | 16:00
Em 1995, o então estudante de teatro
André Guerreiro Lopes e mais três colegas marcaram uma
video-entrevista com o director teatral José Celso Martinez Corrêa. O
tema seria a peça “Três Irmãs” de Anton Tchekhov, abordando a
montagem do Oficina de 1972. Nesse encontro, Zé Celso relata os
bastidores de um processo criativo único, radical na trajectória do
Oficina. As experiências com substâncias alucinógenas permitiram
uma compreensão original da obra de Tchekhov, mas o espectáculo
representou a ruptura do grupo, dividido entre a busca por um teatro
sagrado e um teatro profano. O vídeo, que é exibido para o público
pela primeira vez, serve de ponto de partida para “Tchekhov É um
Cogumelo”. Na actual montagem, Lopes dialoga com o estilo do mentor
do Teatro Oficina e mescla diferentes temas e linguagens — dos
alucinógenos à neurociência, da instalação à dança — para
abordar estas três mulheres confrontadas com a passagem do tempo.
O tempo é a matéria-prima deste
espectáculo. Há o tempo-memória, essa memória do encontro com Zé
Celso em 1995. Há o tempo das três irmãs, espaço mental que é
simultaneamente refúgio e prisão: o sonho por um futuro grandioso
que seria a volta a um passado perdido. Há o tempo da mente,
indistinto, o movimento invisível do pensamento interferindo na
acção. Eléctrodos que em tempo real captam ondas cerebrais –
pensamentos, emoções, estados meditativos - e as transformam em
matéria teatral, impulsos eléctricos que accionam uma instalação
sonora e visual, o mundo invisível tornado visível. E há também o
tempo de celebrar a força do teatro, avivando o que parece
descaracterizado, compondo o que parece cindido, agitando o que
parece anestesiado.
Todavia, não há um tempo fora de
nós. O que a peça nos dá a ver é que nós somos o tempo. Como
disse Eihei Dogen (1200-1253), o tempo não passa, não foge, somos a
existência-tempo. Que bela percepção. Não há existência fora do
tempo, não existe tempo fora da existência. Coabitamos o tempo
presente, este exacto instante. Dancemos, portanto, este fluxo
contínuo do agora, sem nada fixo ou permanente, que é o eterno
tempo do teatro. O urgente e necessário tempo-teatro, espaço do
rito, do encontro, da reinvenção simbólica de nós mesmos.
[Adaptação livre do texto escrito por Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes para esta peça]
[Adaptação livre do texto escrito por Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes para esta peça]
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