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quinta-feira, 23 de maio de 2019

TEATRO: "Tchekhov É Um Cogumelo"



TEATRO: “Tchekhov É Um Cogumelo”
Direção, concepção e adaptação | André Guerreiro Lopes
Texto | Extractos de “As Três Irmãs”, de Anton Tchekhov
Interpretação | Djin Sganzerla, Helena Ignez, Michele Matalon, Samuel Kavalerski, Fernando Rocha e Cleber D’Nuncio
Participação especial | Grupo Embatucadores
Cenário e figurinos | Simone Mina
Direcção musical e instalação sonora | Gregory Slivar
Preparação de canto e músicas tradicionais | Roberto Moura
Direcção de produção | Djin Sganzerla
90 Minutos | Maiores de 12
FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica
Teatro Nacional de S. João
19 Mai 2019 | dom | 16:00


Em 1995, o então estudante de teatro André Guerreiro Lopes e mais três colegas marcaram uma video-entrevista com o director teatral José Celso Martinez Corrêa. O tema seria a peça “Três Irmãs” de Anton Tchekhov, abordando a montagem do Oficina de 1972. Nesse encontro, Zé Celso relata os bastidores de um processo criativo único, radical na trajectória do Oficina. As experiências com substâncias alucinógenas permitiram uma compreensão original da obra de Tchekhov, mas o espectáculo representou a ruptura do grupo, dividido entre a busca por um teatro sagrado e um teatro profano. O vídeo, que é exibido para o público pela primeira vez, serve de ponto de partida para “Tchekhov É um Cogumelo”. Na actual montagem, Lopes dialoga com o estilo do mentor do Teatro Oficina e mescla diferentes temas e linguagens — dos alucinógenos à neurociência, da instalação à dança — para abordar estas três mulheres confrontadas com a passagem do tempo.

O tempo é a matéria-prima deste espectáculo. Há o tempo-memória, essa memória do encontro com Zé Celso em 1995. Há o tempo das três irmãs, espaço mental que é simultaneamente refúgio e prisão: o sonho por um futuro grandioso que seria a volta a um passado perdido. Há o tempo da mente, indistinto, o movimento invisível do pensamento interferindo na acção. Eléctrodos que em tempo real captam ondas cerebrais – pensamentos, emoções, estados meditativos - e as transformam em matéria teatral, impulsos eléctricos que accionam uma instalação sonora e visual, o mundo invisível tornado visível. E há também o tempo de celebrar a força do teatro, avivando o que parece descaracterizado, compondo o que parece cindido, agitando o que parece anestesiado.

Todavia, não há um tempo fora de nós. O que a peça nos dá a ver é que nós somos o tempo. Como disse Eihei Dogen (1200-1253), o tempo não passa, não foge, somos a existência-tempo. Que bela percepção. Não há existência fora do tempo, não existe tempo fora da existência. Coabitamos o tempo presente, este exacto instante. Dancemos, portanto, este fluxo contínuo do agora, sem nada fixo ou permanente, que é o eterno tempo do teatro. O urgente e necessário tempo-teatro, espaço do rito, do encontro, da reinvenção simbólica de nós mesmos.

[Adaptação livre do texto escrito por Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes para esta peça]

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