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quarta-feira, 22 de maio de 2019

CINEMA: "Ayka"



CINEMA: “Ayka”
Realização | Sergei Dvortsevoy
Argumento | Sergei Dvortsevoy, Gennadiy Ostrovskiy
Fotografia | Jolanta Dylewska
Montagem | Sergei Dvortsevoy, Petar Markovic
Interpretação | Samal Yeslyamova, Zhipara Abdilaeva, Sergey Mazur, David Alaverdyan, Andrey Kolyadov, Slava Agashkin, Azamat Satimbaev, Galina Kravets
Produção | Sergei Dvortsevoy, Martin Hampel, Thanassis Karathanos, Anna Wydra
Russia, Alemanha, Polónia, Cazaquistão, China e França | 2018 | Drama | 100 minutos | M/16
Cinema Dolce Espaço
22 Mai 2019 | qua | 16:00


“Em 2010, mães oriundas do Quirguistão abandonaram nas maternidades de Moscovo um total de 248 recém-nascidos". Foi ao tomar conta desta fria e irrevogável estatística, que o realizador cazaque Sergei Dvortsevoy decidiu debruçar-se sobre o assunto, daí nascendo “Ayka”, a segunda longa-metragem da sua carreira. Que angústia tão grande pode abater-se sobre todas estas mulheres, levando-as a abandonar os seus filhos num país tão distante? Procurando responder a esta questão, Dvortsevoy narra o destino de Ayka, uma jovem quirguiz cujo sonho é abrir uma pequena loja de costura com a sua irmã. Para tal, contrai uma dívida com a máfia local e, sem meios que lhe permitam ir pagando o que deve, não tem outra opção senão partir clandestinamente para Moscovo em busca de trabalho e do dinheiro que lhe permita um dia regressar.

Ayka é uma daquelas mulheres que abandonaram o bebé na maternidade imediatamente após o parto. Este acto de abandono é também o ponto de partida da história: é quando Ayka deixa para trás os muros da maternidade, ultrapassando um ponto sem retorno, que o drama cresce. Rapidamente se percebe que a vida desta mulher retoma rapidamente o seu curso, o parto e posterior abandono da criança sendo apenas um percalço. Aquilo que regressa em força são os projectos brutalmente abalados por gente sem escrúpulos, a situação de ilegalidade num novo país, o ambiente hostil que a rodeia, a exploração de trabalho escravo, o desespero para arranjar o dinheiro. Com o intuito de mais fortemente inscrever na tela o drama de Ayka, a câmera acompanha-a até ao mais ínfimo pormenor, tanto quando é obrigada às tarefas mais degradantes sem ter a certeza de vir a ser paga, como quando o sofrimento físico toma conta de si por causa do aumento do leite ou da hemorragia pós-natal.

Tal como a principal protagonista (Samal Yeslyamova, premiada em Cannes na categoria de Melhor Actriz), o filme não cede a pausas, seguindo em frente contra todas as adversidades e sem nunca recuar. Os únicos gestos de solidariedade que recebe vêm de outras pessoas na mesma situação de ilegalidade e de uma médica habituada a lidar com casos semelhantes. Prestes a desmaiar de dor, ela prefere entrar sem se fazer notar na casa de banho de uma Clínica Veterinária do que pedir ajuda. Esse mesma Clínica onde, na sala ao lado, um veterinário trata de uma cadela acabada de parir uma ninhada e que está com uma hemorragia. Dois pesos e duas medidas, tal é a ideia que Sergei Dvortsevoy devolve de um mundo atormentado pelas novas lutas de classes e pelo tráfico de seres humanos. De visão obrigatória!

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