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terça-feira, 21 de maio de 2019

CONCERTO: "Carla Bley Trios"



CONCERTO: “Carla Bley Trios”
Auditório de Espinho – Academia
18 Mai 2019 | sab | 21:30


Numa altura em que prepara a gravação do seu terceiro álbum com o selo da ECM Records, a pianista Carla Bley apresentou-se no passado sábado no Auditório de Espinho para um concerto que designou por “Trios”, remetendo para o álbum com o mesmo nome, editado em 2013. Ao seu lado estiveram os habituais companheiros de palco, o baixista Steve Swallow e o saxofonista Andy Sheppard, que ofereceram ao público um conjunto de sete peças absolutamente deliciosas, cobrindo um período de quase três décadas de actividade incessante do emblemático trio.

O concerto abriu com “Copy Cat”, um novíssimo tema dividido em três partes e que se estende por quinze deliciosos minutos, a suavidade do piano a sustentar um saxofone que se desdobra em acordes lânguidos antes de dar lugar a uma seção mais ritmada e melódica, o diálogo entre os instrumentos ancorado no baixo pulsante de Swallow. Seguiram-se “Ups and Downs” e “Beautiful Telephones” - o título deste último tema inspirado numa célebre tirada de Donald Trump, da primeira vez que visitou a Casa Branca -, o saxofone de Sheppard a sobressair ainda mais, os tempos de silêncio a alternarem com uma ampla gama de articulações dinâmicas e a oferecerem-nos um conjunto de solos harmoniosos e de enorme intensidade.

Do álbum “Trios” escutou-se em seguida o imensamente belo “Utviklingssang” e também “Wildlife”, duas composições onde os particulares diálogos entre os vários instrumentos se revelam pequenas jóias duma pureza comovedora. Em “Three Banana” lembrou-se ainda o encontro do grupo com o trompetista Paolo Fresu, o concerto encerrando com o arranjo livre de Bley para “Misterioso” de Thelonious Monk, a melodia central colocada num cenário quase de “tema e variações”, o espaço para a improvisação a surgir com surpreendente graça e leveza. Concerto memorável, este, pela possibilidade de escutar alguns dos nomes que ajudaram a construir a história do jazz, mas também pela música em si, o complexo tornado simples. Simplesmente inebriante!

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