CONCERTO: “Respeitosa Mente”
Ricardo Ribeiro, com João Paulo
Esteves da Silva e Jarrod Cagwin
Casa da Música – Sala Gulhermina
Suggia
22 Mai 2019 | qua | 21:30
Após cinco trabalhos de autor que
tiveram no fado o denominador comum, Ricardo Ribeiro mudou de
registo. Numa Casa da Música praticamente esgotada, “Respeitosa
Mente” constituiu uma viragem surpreendente e radical no trajecto
do artista, sublinhando a sua extraordinária dimensão enquanto
escritor de poemas sensível, autor inspirado de músicas e dono duma
voz absolutamente única. Com o pianista João Paulo Esteves da Silva
e o percussionista Jarrod Cagwin ao seu lado, Ricardo Ribeiro rompe amarras e estende
agora os braços a toda a bacia mediterrânica, levando o público
numa viagem pelas toadas berberes e pelo canto gitano, pelos ritmos
italianos e, incontornavelmente, pelo cante alentejano e pelo fado
também.
“Depois de Ti”, com letra de Tiago
Torres da Silva e música de Ricardo Ribeiro, foi o tema escolhido
para abrir o concerto e o mínimo que se pode dizer é que, se as
coisas se ficassem por aqui, já teria valido a pena a deslocação à
Casa da Música. Estou a falar duma pérola, uma composição sublime
assente num poema belo e sensível, absolutamente arrebatador. À
qualidade invulgar das letras que percorrem este trabalho, não serão
alheios os nomes de Pedro Homem de Mello, António Ramos Rosa ou José
Carlos Ary dos Santos, mas importa destacar João Paulo Esteves da
Silva, autor da maior parte das músicas que se puderam ouvir e, não
menos importante, das letras de temas tão belos como “Envoi”,
“Atraso” e “O Sítio”.
Num concerto recheado de momentos de
enorme intensidade e emoção, destacaria a estreia absoluta de
“Estrada Azul”, um poema de Ricardo Ribeiro musicado por João
Paulo Esteves da Silva, o instrumental “Naná”, que Ricardo
Ribeiro escreveu e dedicou à sua mãe, o arrepiante “As
Mondadeiras”, com letra de Francisco Torrão e música de Zeca
Torrão e, já no “encore”, o “Canto Franciscano”, baseado no
Fado Menor (popular) e com poema de José Carlos Ary dos Santos. Este
foi, aliás, um momento muito especial, já que o artista
dedicou este fado a uma espectadora que, no decorrer do concerto,
protagonizou um dos momentos mais lamentáveis de que tenho memória,
ao vaiar o artista e o seu trabalho. Evidenciando um extraordinário “fair
play”, Ricardo Ribeiro foi ao encontro do pedido, mostrando que, acima do artista, está uma pessoa com um
enorme carácter e um coração do tamanho do mundo. Um senhor!
[Foto: Jarrod Cagwin |
facebook.com/jarrodcagwinmusic/]
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