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terça-feira, 9 de abril de 2019

TEATRO: "Banda Sonora"




TEATRO: “Banda Sonora”
Texto e encenação |Ricardo Neves-Neves
Composição e orquestração | Filipe Raposo
Interpretação | Ana Valentim, Joana Campelo, Márcia Cardoso, Rita Cruz, Sílvia Figueiredo, Tânia Alves com Orquestra Académica Metropolitana
Maestro | Cesário Costa
Cenografia | Henrique Ralheta
Figurinos | Rafaela Mapril
Caracterização | Cidália Espadinha
Coreografia e movimento | Sónia Baptista
Coprodução | São Luiz Teatro Municipal, Cine-Teatro Louletano e Teatro do Eléctrico
Rivoli - Teatro Municipal do Porto
06 Abr 2019 | sab | 19:00


Inteligente, divertido, inspirador. Todos os adjectivos são insuficientes para classificar o extraordinário momento de teatro que é “Banda Sonora”, um musical cuja concepção teve o seu ponto de partida nos acordes saídos da mente inspirada de Filipe Raposo, aos quais Ricardo Neves-Neves acrescentou uma ideia de texto e de encenação, num processo criativo verdadeiramente invulgar. Depois foi “só” trabalhar um cenário engenhoso, uma fenomenal caracterização e figurinos, a justeza e harmonia da coreografia e do movimento, ainda a música tocada ao vivo por uma orquestra jovem e competente e, naturalmente, a interpretação notável das actrizes em palco, o todo arquitectado num ambiente deliciosamente fantástico e irreal, a fazer lembrar o universo delirante de Tim Burton ou de algumas das mais belas histórias da Disney.

“Banda Sonora” conta a história de três meninas, de 8, 12 e 16 anos, que se vêem sozinhas na floresta, mais ou menos entregues à sua sorte. O passado de todas elas coincide em vários aspectos, desde a perda dos progenitores em contextos absolutamente dramáticos, ao processo natural de crescimento, feito de traquinice, muita curiosidade em perceber o mundo que as rodeia e algumas experiências que tendem a não correr lá muito bem. São três meninas que foram ensinadas a distinguir o que está certo do que está errado, mas que parecem não perceber muito bem que fumar ou namorar não é exactamente o mesmo que espetar uma faca na barriga de alguém. E assim, qual Adão e Eva depois de provarem o fruto proibido, sofrem o castigo de se verem apartadas do “paraíso”, obrigadas a viver o resto da sua existência num mundo subterrâneo onde, apesar de tudo, é ainda possível ver desabrochar uma flor.


Estreada no Teatro S. Luiz em Março de 2018, “Banda Sonora” precede no tempo “Alice no País das Maravilhas”, outro trabalho de encenação notável de Ricardo Neves-Neves, aqui em parceria com Maria João Luís. Ambas as peças prendem pela sua musicalidade e ritmo, o ambiente misterioso e sombrio da floresta a impor-se, tal como a figura do espelho – em “Alice no País das Maravilhas”, recorde-se, ele é elemento fulcral da cenografia, enquanto em “Banda Sonora” ele está presente na “duplicação” das três meninas (são, na verdade, seis actrizes em palco), cada uma espelho da outra. Há ainda o imaginário do cinema, com Burton e Disney à cabeça quando pensamos na envolvência e ambientes da peça, mas também essa notável partitura de Filipe Raposo, a remeter para o Danny Elfman de “Eduardo Mãos de Tesoura”, “O Estranho Mundo de Jack” ou “A Noiva Cadáver”. Genial!

[Foto: Ricardo Neves-Neves / facebook.com/ricardo.neves.neves]

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