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EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO:
“Julio Resende. A Palavra e a Mão”
Museu Nacional de Soares dos Reis
22 Mar > 19 Maio 2019
A Exposição “A Palavra e a Mão”
apresenta as múltiplas articulações que a obra de Júlio Resende
(1917 – 2011) estabeleceu com a escrita. Na amizade do artista com
escritores, como Eugénio de Andrade, Fernando Namora, Mário
Cláudio, Vasco Graça Moura ou Vergílio Ferreira, radica esta
exposição que parte da palavra para a imagem e da imagem para a
palavra. Nela se traça um itinerário da pintura de Júlio Resende
definido pelos escritos dos vários autores sobre a sua obra.
Inversamente, nela se propõe um itinerário da ilustração
literária que Júlio Resende criou para livros de variadíssimos autores.
Foi o próprio Julio Resende quem
reconheceu, nas palavras dos escritores portugueses sobre a sua obra,
aquela qualidade de desocultação de que só a literatura é capaz,
bem diferente dos discursos da história e da crítica. É esta
revelação que aqui se recupera. São diversas as circunstâncias em
que surgiu o diálogo entre o texto literário e a pintura, mas todas
provam a amizade e a cumplicidade que se estabeleceu entre o pintor e
os escritores. Alguns textos constituem prefácios de catálogos de
exposições, outros destinaram-se a publicações, mas todos eles
concentram definições lapidares e sínteses expressivas da presença
do artista na arte e na cultura portuguesas.
Outras articulações entre texto e
desenho são contempladas nesta exposição, como a da banda desenhada e do desenho
humorístico, a que Júlio Resende se dedicou desde os 10 anos de idade. Os
primeiros jornais ilustrados que produz, em versão manuscrita e
dactilografada, de exemplar único, datam desse período, em
co-autoria com o seu irmão, António Resende Dias. Posteriormente escreveu e ilustrou secções
humorísticas de semanários infantis, como “Tic-Tac” e “O
Papagaio”, e de periódicos portuenses como “Jornal de Notícias”
e “O Primeiro de Janeiro”. Às legendas, aos diálogos e às
narrativas curiosas que escreveu sobre os mais diversos temas,
associou a criação de
personagens que a sociedade portuense recorda ainda, casos de
“Matulinho e Matulão” ou do “Senhor Arrepiado”.
A ilustração para texto literário
desenrolou-se ao longo de mais de 70 anos e nela Julio Resende
evidencia enorme versatilidade. A adequação aos desafios do texto
literário revela-se na multiplicidade de técnicas, materiais e
suportes a que recorreu, bem como na força expressiva de cada
registo, dos mais delicados aos de carácter expressionista, dos mais
sintéticos aos de representação minuciosa. Exemplos desta
capacidade e qualidade são as ilustrações de “História de
Mulheres” de José Régio, “Aparição” de Vergílio Ferreira,
“Retalhos da Vida de um Médico” de Fernando Namora” ou “O
Rapaz de Bronze” de Sophia de Mello Breyner Andresen.
O discurso escrito foi igualmente fonte
de criação visual associada às artes performativas, tendo
originado estudos de figurinos e de espaços cénicos para textos
dramáticos, levados à cena por companhias como o Teatro
Experimental de Cascais, o Teatro Experimental do Porto ou a
companhia portuense Seiva Trupe. Teve ainda oportunidade de assinar a
direcção visual do “Espectáculo de Portugal para a Exposição
Mundial de Osaka”, coordenado por Carlos Avilez.
As experiências e os trabalhos agora
apresentados nesta exposição constituem um património em que
palavra e imagem não estão em mera vizinhança, mas são
consubstanciais e ajudam a definir Júlio Resende e o seu modo de
entender o mundo. Redescobrir o seu trabalho é o que propõe o Museu
Naciol de Soares dos Reis, a que, nos meados dos anos 30, quando se
iniciava na pintura, o artista chamou, sintomaticamente, lugar de
descoberta.
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