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sexta-feira, 19 de abril de 2019

EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO: "Júlio Resende. A Palavra e a Mão"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO: “Julio Resende. A Palavra e a Mão”
Museu Nacional de Soares dos Reis
22 Mar > 19 Maio 2019


A Exposição “A Palavra e a Mão” apresenta as múltiplas articulações que a obra de Júlio Resende (1917 – 2011) estabeleceu com a escrita. Na amizade do artista com escritores, como Eugénio de Andrade, Fernando Namora, Mário Cláudio, Vasco Graça Moura ou Vergílio Ferreira, radica esta exposição que parte da palavra para a imagem e da imagem para a palavra. Nela se traça um itinerário da pintura de Júlio Resende definido pelos escritos dos vários autores sobre a sua obra. Inversamente, nela se propõe um itinerário da ilustração literária que Júlio Resende criou para livros de variadíssimos autores.

Foi o próprio Julio Resende quem reconheceu, nas palavras dos escritores portugueses sobre a sua obra, aquela qualidade de desocultação de que só a literatura é capaz, bem diferente dos discursos da história e da crítica. É esta revelação que aqui se recupera. São diversas as circunstâncias em que surgiu o diálogo entre o texto literário e a pintura, mas todas provam a amizade e a cumplicidade que se estabeleceu entre o pintor e os escritores. Alguns textos constituem prefácios de catálogos de exposições, outros destinaram-se a publicações, mas todos eles concentram definições lapidares e sínteses expressivas da presença do artista na arte e na cultura portuguesas.

Outras articulações entre texto e desenho são contempladas nesta exposição, como a da banda desenhada e do desenho humorístico, a que Júlio Resende se dedicou desde os 10 anos de idade. Os primeiros jornais ilustrados que produz, em versão manuscrita e dactilografada, de exemplar único, datam desse período, em co-autoria com o seu irmão, António Resende Dias. Posteriormente escreveu e ilustrou secções humorísticas de semanários infantis, como “Tic-Tac” e “O Papagaio”, e de periódicos portuenses como “Jornal de Notícias” e “O Primeiro de Janeiro”. Às legendas, aos diálogos e às narrativas curiosas que escreveu sobre os mais diversos temas, associou a criação de personagens que a sociedade portuense recorda ainda, casos de “Matulinho e Matulão” ou do “Senhor Arrepiado”.

A ilustração para texto literário desenrolou-se ao longo de mais de 70 anos e nela Julio Resende evidencia enorme versatilidade. A adequação aos desafios do texto literário revela-se na multiplicidade de técnicas, materiais e suportes a que recorreu, bem como na força expressiva de cada registo, dos mais delicados aos de carácter expressionista, dos mais sintéticos aos de representação minuciosa. Exemplos desta capacidade e qualidade são as ilustrações de “História de Mulheres” de José Régio, “Aparição” de Vergílio Ferreira, “Retalhos da Vida de um Médico” de Fernando Namora” ou “O Rapaz de Bronze” de Sophia de Mello Breyner Andresen.

O discurso escrito foi igualmente fonte de criação visual associada às artes performativas, tendo originado estudos de figurinos e de espaços cénicos para textos dramáticos, levados à cena por companhias como o Teatro Experimental de Cascais, o Teatro Experimental do Porto ou a companhia portuense Seiva Trupe. Teve ainda oportunidade de assinar a direcção visual do “Espectáculo de Portugal para a Exposição Mundial de Osaka”, coordenado por Carlos Avilez.

As experiências e os trabalhos agora apresentados nesta exposição constituem um património em que palavra e imagem não estão em mera vizinhança, mas são consubstanciais e ajudam a definir Júlio Resende e o seu modo de entender o mundo. Redescobrir o seu trabalho é o que propõe o Museu Naciol de Soares dos Reis, a que, nos meados dos anos 30, quando se iniciava na pintura, o artista chamou, sintomaticamente, lugar de descoberta.

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