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EXPOSIÇÃO: “I’m Your Mirror”,
de Joana Vasconcelos
Museu e Parque de Serralves
19 Fev > 24 Jun 2019
Com a honestidade intelectual que lhe é
reconhecida, Helena Mendes Pereira publicou um texto na sua página pessoal no facebook intitulado “O que é a arte?”. Nele, com enorme clareza,
desenvolve uma reflexão pessoal sobre o fenómeno da arte
contemporânea e, entre outras coisas, sobre quem dita “o que é e o que não é”, para concluir
que “o público, que é soberano, exerce o poder do gosto e da
intuição e (...) poderá simplesmente dizer 'não gosto!' ”. Já
no espaço de comentários, um leitor responde à questão colocada
por Helena Mendes Pereira numa perspectiva deveras interessante: “O
que é a arte? Penso que será o que fica depois de extrair tudo
aquilo que não é...”.
Mais do que exaltar o valor da reflexão
desta curadora e investigadora, é no comentário que me detenho,
fazendo dele um ponto de partida para a minha apreciação crítica à
exposição de Joana Vasconcelos, patente por estes dias no Museu e
Parque de Serralves. De notar que este é um espaço artístico que
não me canso de visitar, que constantemente põe à prova o meu
espírito crítico, que me tem ajudado a crescer naquilo que é a
minha concepção da arte em variadíssimos vectores e que me tem
trazido enormes surpresas, ainda que nem sempre as mais agradáveis.
Mas que, neste caso, me ofereceu uma das mais extraordinárias
experiências no campo da arte de que tenho memória. É, pois, com
enorme entusiasmo que falo de “I'm Your Mirror”, porque “o que
fica depois de extrair tudo aquilo que não é” é, seguramente,
mais do que alguma vez terá ficado até hoje.
Há no trabalho da artista um forte
vínculo de conceptualidade que se descobre na forma como se apropria
da cultura popular portuguesa e dela parte para a criação das suas
peças, seja na cerâmica de Bordalo Pinheiro, seja no filigranado do
coração de Viana do Castelo. Recorrendo a materiais que são
parte menor do nosso quotidiano, a artista prende de imediato
a atenção do público que não tem como não se identificar com uma
parte substantiva da sua obra. Medicamentos, talheres de plástico,
ferros de engomar, telefones ou tachos e panelas são, graças à
genialidade de Joana Vasconcelos, transformados em objectos
artísticos de grande impacto e significado, quer pela sua dimensão
e exuberância, quer pelo diálogo que estabelecem com o espectador.
Só pela verdade absoluta que se
esconde por detrás do título desta exposição, já valeria a pena
uma deslocação a Serralves. Mas há depois toda uma série de obras
– cerca de quatro dezenas, no seu conjunto – que parecem dotadas
de um magnetismo especial, que atraem e questionam, que interferem
com modelos dados como adquiridos, que abalam o preconceito e fazem o
espectador descer à terra, o “luxo” desmascarado. Se dúvidas
houver, atente-se em obras como “Cama Valium”, “Fátima Shop”,
“Call Center”, “Coração Independente Vermelho”,
“Candelabro”, “Solitário” ou “Marilyn” e veja-se como os
objectos mais banais são dignos de uma atenção que, de outra
forma, não teriam. É toda uma história de desconstrução e, em
grande medida, de redenção, que a artista nos conta, uma história
com tanto de desconcertante como de empolgante, que nos ensina e
diverte, que nos obriga a olhar para a Arte Contemporânea com a
atenção que ela merece.
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