DANÇA CONTEMPORÂNEA: “Dance” /
“Set and Reset / Reset”,
de Lucinda Childs / Trisha Brown
Ballet de l'Opéra de Lyon
Rivoli – Teatro Municipal do Porto
17 Fev 2019 | dom | 17:00
O Ballet de l'Opéra de Lyon trouxe ao
palco do Rivoli, na tarde do passado domingo, um espectáculo de
Dança Contemporânea absolutamente inolvidável. Fundadas no
experimentalismo da década de 60 do século passado e, em
particular, na Judson Dance Theatre, uma dos mais importantes escolas da história da
dança, as duas peças interpretadas
recuperaram os trabalhos de duas enormes coreógrafas, Lucinda Childs
e Trisha Brown (esta última recentemente falecida), ambos com muitas
dezenas de anos em cima e milhares de interpretações por
variadíssimas companhias do mundo inteiro ao longo do tempo.
Com assinatura de Lucinda Childs,
“Dance” foi criada em 1979 e assenta num minimalismo obsessivo,
que a música de Philip Glass ajuda a reforçar. Trata-se duma peça
aparentemente simples, mas que exige do bailarino uma extraordinária
concentração face aos sucessivos movimentos repetitivos que lhe são
impostos. Aliando a graciosidade e elegância do gesto à energia e
rapidez de execução, os intérpretes formam como que correntes que invadem o
palco e se dispersam nas mais variadas direcções, para se voltarem a
juntar e de novo a partir e assim sucessivamente. Esta ideia de
movimento pendular, rigoroso e profundamente síncrono, é ampliada
pela projecção em simultâneo de um filme concebido por Sol LeWitt,
que ilustra a mesma coreografia, multiplicando as figuras em palco e
projectando-as sob diferentes ângulos. O efeito é hipnotizante e os
dezassete bailarinos mereceram em absoluto a enorme ovação
que o público lhes prestou antes de se ir para intervalo.
Coreografada por Trisha Brown em 1983,
“Set and Reset / Reset” tem em comum com a peça anterior a mesma
tensão entre a precisão de um movimento e a sua replicação em
contextos muito próximos, bem como a forma como cada indivíduo pode
contribuir para a concretização de uma experiência de movimento.
Mas são grandes as diferenças, a começar desde logo pela
cenografia, reduzida à nudez do palco em “Dance” e aqui
belíssima, da autoria do artista visual Robert Rauschenberg. E
depois a história de “Dance” é a própria peça, enquanto “Set
and Reset / Reset” esconde uma história que vai deixando
transparecer, a cada momento, essa ideia de improvisação
estruturada, apenas parcialmente coreografada. Plasticamente muito
bela, a peça tem música de Laurie Andersen e constitui um monumento
à dança contemporânea que os seis intérpretes em palco souberam
elevar ao mais alto nível.
[Foto: Blandine Soulage /
dansercanalhistorique.fr]
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