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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

DANÇA CONTEMPORÂNEA: "Dance" / "Set and Reset / Reset"



DANÇA CONTEMPORÂNEA: “Dance” / “Set and Reset / Reset”,
de Lucinda Childs / Trisha Brown
Ballet de l'Opéra de Lyon
Rivoli – Teatro Municipal do Porto
17 Fev 2019 | dom | 17:00


O Ballet de l'Opéra de Lyon trouxe ao palco do Rivoli, na tarde do passado domingo, um espectáculo de Dança Contemporânea absolutamente inolvidável. Fundadas no experimentalismo da década de 60 do século passado e, em particular, na Judson Dance Theatre, uma dos mais importantes escolas da história da dança, as duas peças interpretadas recuperaram os trabalhos de duas enormes coreógrafas, Lucinda Childs e Trisha Brown (esta última recentemente falecida), ambos com muitas dezenas de anos em cima e milhares de interpretações por variadíssimas companhias do mundo inteiro ao longo do tempo.

Com assinatura de Lucinda Childs, “Dance” foi criada em 1979 e assenta num minimalismo obsessivo, que a música de Philip Glass ajuda a reforçar. Trata-se duma peça aparentemente simples, mas que exige do bailarino uma extraordinária concentração face aos sucessivos movimentos repetitivos que lhe são impostos. Aliando a graciosidade e elegância do gesto à energia e rapidez de execução, os intérpretes formam como que correntes que invadem o palco e se dispersam nas mais variadas direcções, para se voltarem a juntar e de novo a partir e assim sucessivamente. Esta ideia de movimento pendular, rigoroso e profundamente síncrono, é ampliada pela projecção em simultâneo de um filme concebido por Sol LeWitt, que ilustra a mesma coreografia, multiplicando as figuras em palco e projectando-as sob diferentes ângulos. O efeito é hipnotizante e os dezassete bailarinos mereceram em absoluto a enorme ovação que o público lhes prestou antes de se ir para intervalo.

Coreografada por Trisha Brown em 1983, “Set and Reset / Reset” tem em comum com a peça anterior a mesma tensão entre a precisão de um movimento e a sua replicação em contextos muito próximos, bem como a forma como cada indivíduo pode contribuir para a concretização de uma experiência de movimento. Mas são grandes as diferenças, a começar desde logo pela cenografia, reduzida à nudez do palco em “Dance” e aqui belíssima, da autoria do artista visual Robert Rauschenberg. E depois a história de “Dance” é a própria peça, enquanto “Set and Reset / Reset” esconde uma história que vai deixando transparecer, a cada momento, essa ideia de improvisação estruturada, apenas parcialmente coreografada. Plasticamente muito bela, a peça tem música de Laurie Andersen e constitui um monumento à dança contemporânea que os seis intérpretes em palco souberam elevar ao mais alto nível.

[Foto: Blandine Soulage / dansercanalhistorique.fr]

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