LIVRO: “As Mulheres do Meu Pai”,
de José Eduardo Agualusa
Ed. Quetzal Editores, 1ª edição
2007, 1ª edição Quetzal Maio de 2017
O “pai” a que se refere o título
deste romance de José Eduardo Agualusa é Faustino Manso, lendário
contrabaixista que deixou a sua marca nos mais importantes salões de
baile da África austral, mas também nas mulheres que com ele se
cruzaram ao longo de uma vida de aventura e sedução. As mulheres,
como veremos, serão sete e a herança ascenderá a dezoito filhos. É
na expectativa de saber um pouco mais acerca desse pai que não
chegou a conhecer em vida, que Laurentina, a filha mais nova, se faz
à estrada na companhia de três homens, no velho carro de um deles.
Juntos irão refazer um caminho recheado de surpresas e que se
revelará, acima de tudo, de descoberta interior.
Mesclando, assumidamente, a realidade e
a ficção, Agualusa oferece-nos um “road book” vivo de imagens e
bem humorado, onde partilha com o leitor um conjunto de apontamentos
de viagem de cariz pessoal, tornados universais pela qualidade da sua
escrita e pela sua imaginação excepcional. Sem nunca perder de
vista a figura de Francisco Manso, é sobre cada uma das suas
mulheres que Agualusa mais faz incidir a atenção, compondo com elas uma
paleta de emoções tão forte e rica que é como se condensassem em
si todo o viver e o sentir africano. Em simultâneo, abraça os
quatro viajantes num processo catártico de confidências e
revelações, mostrando que, tal como o patriarca, ninguém é
verdadeiramente quem aparenta ser. Ou, fazendo uso da última frase
do livro, que o fecha de forma absolutamente genial: “Nada é tão
verdadeiro que não mereça ser inventado”.
Se em termos de conteúdo estamos
falados, já dum ponto de vista formal o livro não merecerá nota
tão elevada. E isto porque as várias entradas das personagens no
livro, as suas reflexões, perspectivas, juízos e contemplações,
surgem “sem aviso prévio”, gerando alguma dificuldade em
perceber quem é quem, sobretudo numa fase inicial do livro. À
confusão segue-se a dúvida e, não raramente, o leitor vê-se
obrigado a recuar alguns capítulos para retomar o fio à meada. Para
usar uma linguagem cinematográfica, diria que estamos perante um bom
filme mas como uma montagem no mínimo discutível. Vencidos os
“obstáculos”, é o prazer da boa leitura que vem ao de cima, o
humor de Agualusa e o seu olhar irónico sobre uma certa realidade
africana (sobretudo angolana) a pontuar cada capítulo, ora
fazendo-nos sorrir, ora obrigando-nos a engolir em seco.
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