[Clicar na imagem para ver mais fotos]
EXPOSIÇÃO: “O Papel na Pele”,
de Ana Maria Pintora
Museu do Papel Terras de Santa
Maria, Paços de Brandão
24 Nov 2018 > 31 Jan 2019
Como muitos outros mundos, também o da moda não
dispensa o papel. Da ideia à prática, é rabiscando no papel que se
desenvolve uma das etapas mais importantes de todo o processo
criativo, sendo a partir daqui que as roupas ou as jóias começam
a ganhar forma. Ana Maria Pintora quis ir mais além, fazendo do
papel não um meio para o desenho e construção de modelos, mas um
fim em si mesmo. “Queimando etapas”, ousou conceber na origem o
objecto acabado e pronto para se “colar à pele”. Propondo-se
“criar roupa de papel para um corpo humano dinâmico, inventivo e
contemporâneo”, a artista desenvolveu um workshop distribuído por
seis sessões, envolvendo doze participantes, ao longo do qual foram
nascendo e crescendo trabalhos com tanto de imaginativo como de belo
e cujo resultado pode ser agora apreciado no Museu do Papel das
Terras de Santa Maria, em Paços de Brandão, numa exposição muito
justamente designada “O Papel na Pele”.
Neste regresso a uma casa que conhece
bem – há cerca de um ano, culminando uma residência artística,
brindou-nos aqui com a sensibilidade e harmonia de “A Alma do
Papel” -, a pintora Ana Maria prossegue a sua pesquisa em torno
duma matéria-prima que, de tão arreigada no nosso quotidiano, é
frequentemente desvalorizada. Ao fazê-lo num espaço privilegiado,
reminiscência duma certa “revolução industrial” que marcou
toda uma época e teve nesta região um forte impacto económico e
social, a artista lembra-nos que, nos primórdios, na génese do
fabrico de papel, estava a fibra, o tecido (o chamado “farrapo”)
e que, simbolicamente, a construção de roupa de papel, mais do que
o seu carácter experimental ou lúdico, deve ser entendida como o
fechar de um ciclo sobre si mesmo. Mas há nesta exposição outro
aspecto relevante e que se prende com o carácter efémero do papel e
com o paralelismo que necessariamente se estabelece com a própria
moda, fenómeno social que dita comportamentos e costumes e cujas
tendências se fazem e desfazem da noite para o dia. Paradoxalmente,
por mais frágil que possa ser, o papel resiste à efemeridade das
sucessivas criações, continuando presente no processo e “a
cumprir o seu papel”.
Regressando à exposição, é deveras
interessante perceber o quanto de criatividade e labor artístico
se concentra em cada trabalho. À imaginação junta-se o génio, permitindo
que estas peças possam ser entendidas como objectos artísticos de
reconhecidos méritos. As formas da arte estendem-se ao próprio
espaço expositivo, a sala transformada numa singular “passerelle”,
os pormenores de cada trabalho realçados por discretos efeitos de
luz e sombra. Complementarmente, pode ser apreciado um conjunto de
fotografias da autoria de Rui Morão, intervencionadas pela pintora
Ana Maria, ilustrativas do “papel na pele” ou de que forma as
criações se ajustam ao corpo. Ainda um pequeno mas
significativo aparte: O breve programa que acompanha a exposição – na
verdade, um conjunto de informações básicas impressas numa
finíssima folha de papel em tamanho A5 – é, também ele,
intervencionado e, assim, elevado à condição de objecto artístico.
Ou de como um pormenor, aparentemente insignificante, pode dizer
tanto acerca do cuidado, da sensiblidade e delicadeza, do amor que
sustenta esta exposição. Para sempre na moda!
Sem comentários:
Enviar um comentário