CONCERTO: “Do Natal aos Reis”,
com César Prata, Ariel Ninas e
Catarina Moura
Igreja das Carmelitas, Aveiro
05 Jan 2019 | sab | 21:30
“Levante-se daí minha senhora dessa
cadeira de cortiça / Venha-nos dar as Janeiras, a morcela ou a
chouriça”. À voz da cantora, segue-se o refrão, o público em
uníssono a responder: “S. José se alevantou e uma vela se acendeu
/ A adorar o Deus Menino que à meia-noite nasceu!”. Não terá
sido com esta espontaneidade toda, implicou explicação prévia,
exigiu dois ou três ensaios, mas o resultado pareceu bom a todos.
Desta forma alegre e harmoniosa chegava ao fim o concerto “Do Natal
aos Reis” que lotou por completo a Igreja das Carmelitas, em
Aveiro, embalando músicos e público no sabor da tradição.
César Prata, Ariel Ninas e Carolina
Moura foram os “três reis magos” que, na voz e num conjunto de
intrumentos tradicionais – da guitarra à harmónica, dos sinos ao
adufe -, ofereceram este concerto temático sobre canções
tradicionais da quadra do Natal da Galiza e Portugal. Os dois
primeiros são “companheiros de estrada”, à dupla se devendo o
singular projecto “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, que deu
lugar a uma série de concertos ao longo de 2018 e ainda à edição
dum disco com o mesmo nome (ed. aCentral Folque, da Galiza). A eles
se juntou Catarina Moura, um dos sete elementos do colectivo feminino
“Segue-me à Capela” e cuja voz, harmoniosa e doce, teve o condão
de aquecer o espaço deste magnífico exemplar do Barroco e penetrar
nos corações das gentes.
Percorrendo espaços que unem,
culturalmente, o norte e o sul do Rio Minho, o trio foi ao encontro
da mais profunda tradição, propondo cantigas de louvor a um Deus
Menino acabadinho de nascer. Em português, mirandês e galego,
fizeram-se escutar Hinos, Janeiras, Entradas e Aguinaldos,
recordando-se temas populares - “Oh Bento Airoso”, que a Brigada
Vitor Jara popularizou, ou “Beijai o Menino”, que conhecemos na
voz de Né Ladeiras – e escutando-se outros menos conhecidos. Do
Minho (“Eu hei-de ir ao Presépio”) ao Alentejo (“Esta Noite é
de Janeiras”), por veredas de pastores (“Oh Meu Menino Jesus”)
ou no coração da Galiza (“Entrada de Aninovo” ou “Reis das Mozas”),
convivendo com uma “traiçoeira” língua mirandesa (“Cantar de
ls Reis”, onde “có-có” significa “truz-truz”) ou saudando
Fernando Pessoa (“Chove. É dia de Natal”), foi esta uma viagem
por um tempo outro, tornado nosso graças à excelência da música
oferecida pelo trio. Uma música que vai dar lugar a um novo álbum,
prometido para breve. Vamos estar atentos!
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