CONCERTO: “Giesta”, de Miguel
Araújo
Centro de Arte de Ovar
29 Jun 2018 | sex | 22:00
Em noite de casa cheia para um dos
concertos mais aguardados do ano, Miguel Araújo chegou ao Centro de
Arte de Ovar com “Giesta”, o seu mais recente álbum. Não veio
sozinho, trazendo com ele Joana Almeirante, na guitarra e na voz,
Diogo Santos, nas teclas e na voz e ainda Pedro Santos, no baixo, um
agrupamento que o ajudou a exprimir-se de forma ora intimista, ora
mais “mexida”, fazendo sobressair a sua extraordinária capacidade
vocal e multi-instrumental. Passava pouco das dez da noite
quando uma luz ténue se acendeu sobre o lado esquerdo do palco,
deixando adivinhar o cantor ao piano - uma quase novidade. Os primeiros acordes fizeram-se
ouvir e, com eles, a voz a dar corpo ao tema que abre o novo álbum,
“Valsa em Espiral”, uma canção que nos fala “daquilo que mói,
daquilo que dói” numa vida “com contas por acertar”. Ainda ao
piano, Miguel Araújo recuou a 2014, ao álbum “Crónicas da Cidade
Grande”, do qual repescou “Canção de Salomão”, para de
seguida regressar a “Giesta” com os nostálgicos “Lurdes Valsa
Lenta” e “Via Norte”.
Depois deste início de Concerto que,
convenhamos, se revelou um pouco “morno”, as coisas começaram a
aquecer com “Romaria das Festas de Santa Eufémia” e com “Terra
de Ninguém”, este último escrito por Carlos Tê para a voz de
Sérgio Godinho em “Voz & Guitarra”, um álbum de 1997. Com “Fizz
Limão” e “Reader's Digest”, o cantor revisitou o álbum “Cinco
Dias e Meio” (2012), oferecendo de seguida “5 Minutos de
Whiskey”, uma música tocada pela primeira vez aquando da
apresentação deste álbum no grande concerto do Coliseu do Porto,
em Novembro de 2017, e que homenageia um dos “companheiros de
estrada” do cantautor.
“E Tu Gostavas de Mim”, canção
com letra e música de Miguel Araújo, popularizada na voz Ana Moura,
no seu álbum “Desfado” (2013), pôs o público a vibrar,
“dava-se outro caso assim / e tu gostavas de mim”. “Axl Rose”
e “Sangemil”, do álbum “Giesta”, constituiu um sentimental regresso aos gloriosos tempos da juventude, com a banda
dos tios e um concerto falhado dos Guns N' Roses em Alvalade, em
Julho de 1992 chamados à liça. Em “Recantiga”,
novamente das “Crónicas da Cidade Grande”, ouviu-se a plateia a
entoar “e era eu, um passarinho caído no ninho à espera do fim /
e eras tu, até que enfim, a voltar para mim”, mote intimista para
escutar de seguida “Será Amor”, um tema incluído na banda
sonora do filme “A Canção de Lisboa”, originalmente para as
vozes de César Mourão e Luana Martau, esta última aqui brilhantemente
substituída por Joana Almeirante.
O adeus a “Giesta” fez-se com
“1987”, uma das canções mais badaladas deste novo álbum e que
puxou novamente pela voz da plateia, o mesmo acontecendo com “Balada
Astral” e “Dona Laura”, temas incluídos no álbum “Crónicas
da Cidade Grande” e que encerraram o Concerto. Miguel Araújo
voltaria ao palco, já no “encore”, para, de novo ao piano,
interpretar “Ai Margarida”, um poema de Álvaro de Campos com
música de Mário Laginha, tudo a terminar em apoteose, primeiro com
um pulinho aos “Azeitonas” e a “Anda Comigo Ver os Aviões” e
finalmente com “Os Maridos das Outras”, um tema sempre aguardado
e, aqui, cantado por todos a plenos pulmões. Foram quase duas horas
de Concerto ao longo do qual ficou particularmente patente a
excelência dos poemas de Miguel Araújo e a sua presença em palco,
em interacção constante com o público, numa demonstração de
grande entrega e profissionalismo. Não se podia pedir mais!
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