[Clicar na imagem para ver mais fotos]
CERTAME: FIMO 2018
Festival Internacional de Marionetas
de Ovar
07 > 10 Jun 2018
A peça seguia agora por um caminho mais triste e o actor via-se
obrigado, em nome da amizade que o unia à carpa, a avisá-la
que teria de fugir, sob pena de vir a ser capturada, salgada e servir de alimento para o Inverno.
A carpa partiria e nunca mais se iriam ver, é certo, o que os
deixava completamente desolados. É então que, do meio do público
mais jovem, se faz ouvir uma voz de menina, muito doce, naturalmente
solidária com o actor na dor da despedida: “Não fiques
preocupado, ela volta!” É, sobretudo, desta partilha entre os
actores e o público, de momentos de espontaneidade e de cumplicidade únicos, que se faz o FIMO, um certame de enorme qualidade e que continua a
afirmar-se como um verdadeiro ponto de encontro de marionetistas
portugueses e estrangeiros. A prová-lo estão os números desta 12ª edição, com o Festival a
estender-se por quinze palcos onde actuaram companhias de Portugal,
Espanha, Itália, Holanda, República Checa, Brasil, Reino Unido,
França, Grécia e Austrália, para um total de mais de 40 horas de
espectáculos.
Apesar de marcado pelas condições
atmosféricas adversas, o FIMO não deixou de ser uma festa. Activado o plano B, uma boa
parte dos espectáculos de ar livre teve de ser deslocalizada para
espaços interiores, mas a magia e encantamento das marionetas não se desvaneceu. “Este Rio Tem um Segredo”, da Sol d'Alma – Associação
de Teatro (Ovar) falou da amizade entre um peixe e um rapaz, mas
também das estações do ano, dos ciclos das colheitas, das árvores
com os seus frutos ou da poluição. Com uma história mais clássica,
ao encontro dum velho ganancioso e duma moira encantada que se toma
de amores por um aguadeiro, “Bzzzoira Moira”, pela Companhia
Teatro e Marionetas de Mandrágora, foi igualmente um momento mágico,
com um cenário muito bonito e versátil e uma enorme qualidade na
forma de manipular as marionetas e de se servir delas para contar uma
história.
A grande família dos “robertos”
esteve em grande neste FIMO, desde logo com “O Boneco de Cor” e o
Teatro do Maleiro (Goiania, Brasil), numa versão “light” mas não
menos interessante que incluiu, ainda, marionetas de fio e marionetas de luva. Sem surpresas, Clive Chandler (Reino Unido)
ofereceu, com “The Punch and Judy Show”, um enorme espectáculo
onde o lema poderia muito bem ser “Keep Calm and
Carry a Slapstick”. Da Grécia veio uma extraordinária surpresa
com a Companhia Ayusaya! Puppet Theatre e o espectáculo “Fassoulis,
The Dead Love Story”, no qual Stathis Markopoulos se mostrou brilhante na forma imaginativa como desenvolveu uma história
hilariante, revelando ao mesmo tempo um excelente
domínio da “voz de palheta”. Quem também trouxe “um
cheirinho” dos “robertos” foram os italianos do Teatro Dodici
Lune, com a peça “Transilvania Circus”, sequência de histórias
onde o tétrico e o divertido se passearam de mãos dadas por
florestas sombrias, lobos a uivar à lua, dragões a cuspir fogo e
bonecos sem cabeça.
Totalmente apoiado em marionetas de fio, Alex Piras (Itália) trouxe-nos “Tic Tac”, uma história
muito simples mas muito bela sobre esses dois tempos que marcam a
nossa existência, a vida e a morte. Também de Itália, a Companhia
FolleMente apresentou “Leggero”, um espectáculo musical a fazer recordar a magia de Claudio Cinelli, vivendo apenas da representação de
formas com o uso das mãos e a ajuda de alguns adereços simples. Para o final deixaria os dois espectáculos que mais me
entusiasmaram neste FIMO, do total de dez a que tive o gosto de
assistir. Começaria por “Está aí alguém?”, da Contacto –
Companhia de Teatro Água Corrente, com quarenta minutos de Teatro
Negro muito bem conseguido do ponto de vista cénico, os quatro
actores em palco a revelarem um bom domínio da técnica
e a oferecerem aquele que foi, visualmente, o mais impactante espectáculo do FIMO. Finalmente, “Ginodrama”, da italiana
Carolina Khoury, uma história lindíssima que nos fala da solidão
na velhice e de como os sonhos da juventude nos assolam com a força
das coisas presentes. A simbiose entre a actriz e a(s) marioneta(s) revelou-se perfeita e o momento de teatro oferecido foi, realmente, o que de
mais belo vi neste FIMO. E para o ano há mais (sem chuva, espero)!
Sem comentários:
Enviar um comentário