TERTÚLIA: “Conversas Úteis”,
com Eugénia Rico
Museu de Ovar
26 Mai 2018 | sab | 21:30
Eugenia Rico foi a convidada de Maio das “Conversas Úteis”, conjunto de
tertúlias literárias promovidas pelo Museu de Ovar e
particularmente vocacionadas para o campo das letras. Como
habitualmente, a moderação esteve a cargo de Carlos Nuno Granja e,
uma vez mais, o saldo foi deveras positivo, de tal forma a escritora abriu ao público a sua cumplicidade e encanto, o seu
requintado sentido de humor e a sua visão clara e acutilante sobre o
mundo actual, e em particular no que à literatura diz respeito.
Nascida em Oviedo, Eugenia descobriu
que queria ser escritora com cinco anos de idade, tendo publicado o
seu primeiro conto aos onze. Os estudos em Direito e Relações
Internacionais levaram-na a França e à Bélgica, mas os livros
acabaram por falar mais alto e, em 2000, publica o seu primeiro
romance, “Los Amantes Tristes”, o primeiro duma trilogia que
prosseguiria com “La Muerte Blanca” (2002) e “La Edad Secreta”
(2004). Tem, até hoje, nove livros publicados, quatro dos quais
traduzidos para português, sendo “Los Amantes Tristes” / “Os
Amantes Tristes”, a sua publicação mais recente no nosso País.
Apresentado na Fundação José Saramago no passado dia 23 de Maio de
2018, “Os Amantes Tristes” estiveram na origem da vinda da
escritora a Portugal e, num programa recheado de grandes acontecimentos, a passar pela nossa cidade para uma
agradável troca de impressões e partilha de algumas curiosidades e
experiências com o público ovarense. A acompanhá-la esteve Marcelo Teixeira, dirigindo
também ele algumas palavras ao público e enriquecendo a tertúlia
com a sua visão de tradutor e editor desta obra.
“Há muitas maneiras de matar um
homem, mas uma das mais tremendas é impedi-lo de dormir. O homem não
morre por não poder descansar, mas sim por não poder sonhar. Sempre
que uma Nação conquista a sua independência, é dos artistas que
se socorre para que sonhem os seus jovens ideais. Precisamos de
artistas que sonhem o sonho dos povos.” Com estas palavras, Eugenia
Rico começou por colocar-se a si e ao conjunto da sua obra no campo
dos sonhos e explicou por que é que pensa poder oferecer-se a si
própria o “luxo” de escrever: “Durante muito tempo não me foi
fácil entender o sentido de escrever quando há tanta gente que não
sabe sequer ler. Com o tempo acabei por perceber que tudo o que
escrevemos é para sempre, existirá para lá de nós. Escrever é
parte dum caminho de evolução para a Humanidade.”
Quanto à sua escrita, dum ponto de
vista formal, Eugenia Rico gosta de se comparar a um argumentista
(talvez ao facto não sejam alheios os seus estudos em Arte Dramática
e Guionismo para Cinema, que cursou sob a direcção de Fernando
Trueba). “O escritor faz o guião mas é ao leitor que cabe o papel
de realizador. É ele quem determina que os tempos sejam mais lentos
ou mais breves, quem faz o casting. Quando escrevo, deixo espaços no
livro para que o leitor os possa completar. O verdadeiro detective é
o leitor porque só o leitor sabe o que acontece verdadeiramente”,
revela a escritora. Particularmente em relação a “Os Amantes
Tristes”, Eugenia Rico confessou que, antes de o publicar, tinha
páginas e páginas escritas guardadas na gaveta, associando a
decisão de avançar com a sua publicação a um episódio marcante
na sua vida, uma infeção num pé que resultou num delicado regresso
a Madrid e numa intervenção complexa. Num mercado enorme e
particularmente competitivo como o espanhol, foram muitas as portas
que, no início, se fecharam à escritora. Mas a sua persistência
acabou por dar frutos e ela é hoje um dos nomes importantes das
letras no país vizinho, com obra editada na Alemanha, Itália,
Grécia, Bulgária, Holanda, Rússia, Estados Unidos, México e
Brasil.
P. S. - Para a parte final da tertúlia
estava guardada uma enorme surpresa, a da descoberta em Ovar do
primeiro leitor português de “Os Amantes Tristes”. Importará
aqui referir que o leitor sou eu e que a minha recensão crítica ao
romance de Eugenia Rico será publicada já de seguida. Aí se
desvendará um pouco daquilo que constituiu uma particular conversa
com a escritora, um momento privilegiado de partilha e conhecimento e
que guardarei com especial carinho.
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