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domingo, 13 de maio de 2018

EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: "Figurado de Estremoz"



EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: “Figurado de Estremoz”,
de Jorge da Conceição
Museu de Ovar
12 Mai > 02 Jun 2018


Patente numa das salas do Museu de Ovar, a exposição “Figurado de Estremoz “, do ceramista Jorge da Conceição, proporciona ao visitante momentos únicos de fruição e deleite por vários motivos. Desde logo, pelo próprio tema da mostra, o “Figurado de Estremoz”, cuja produção está classificada pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, o que constitui um motivo de orgulho mais a acrescentar ao nosso vasto e riquíssimo património. Depois, pela técnica inerente à feitura de cada uma das peças – modeladas à mão, em barro vermelho, cozido e policromado -, um processo minucioso e que se prolonga no tempo por largos dias. Mas sobretudo pela paixão que o artista coloca em cada uma das peças que produz, peças únicas, de expressões únicas, umas vezes mais alegres, outras vezes mais sérias, circunspectas, mas sempre diferentes, como diferentes são os homens entre si.

É esta a base do trabalho de Jorge da Conceição e do qual uma parte nos rende agora visita, numa mostra constituída por 65 figuras de diferentes tipologias. Contrariando a ideia feita de que o Figurado de Estremoz são só “Primaveras” e “O Amor é Cego”, Jorge da Conceição traz-nos igualmente presépios, imagens de Santo António, de Nossa Senhora e da vida e paixão de Cristo, figuras alegóricas e contemporâneas, ofícios rurais e tradicionais, quotidiano doméstico, portugalidades e mesmo assobios. Extasiados, demoramo-nos em cada uma das peças, atentamos nos pequenos detalhes, admiramos a riqueza de pormenores, a delicadeza dos elementos compositivos de cada um dos quadros, a simplicidade e pureza que se derramam dumas mãos postas, duns joelhos em terra, duns braços que se estendem e se dão. E percebemos que não é todos os dias que temos a oportunidade única de ver quanta beleza se derrama duma superior inspiração e... dum par de mãos!

Admirável e tocante, o trabalho de Jorge da Conceição vem das mãos – as suas! - que modelam o barro e que, com o pincel, desenham delicadas linhas e formas de cores subtis. Mas vem, sobretudo, do coração. E isso sente-se. Há nele muito do que havia já no seu avô, Mestre Mariano da Conceição, um homem que na década de 30 do século passado contribuiu decisivamente para recuperar a arte, nessa época quase perdida, de produzir os “Bonecos de Estremoz”. E que se prolongou depois na avó Liberdade (que nome delicioso para quem trabalha estas peças, e não só), mas também na sua tia Sabina Santos e na sua mãe, Maria Luísa da Conceição. Embora S. Tomé não integre o lote de peças patentes ao público, apetece dizer que esta exposição de “Figurado de Estremoz” é “ver para crer”. Mas porque o tempo voa e três semanas passam a correr, o melhor é não deixar para amanhã o que pode ver e crer (ou querer) ainda hoje. Vá ao Museu de Ovar, admire o trabalho de Jorge da Conceição e confirme que há coisas neste mundo que valem verdadeiramente a pena!

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