CONCERTO: “Trilogia”,
de Fausto Bordalo Dias
Centro das Artes e do Espectáculo
de Sever do Vouga
19 Mai 2018 | sab | 21:30
Com a publicação, em 2011, de “Em
Busca das Montanhas Azuis”, composto por canções em torno da
exploração de África pelos portugueses, Fausto Bordalo Dias
concluiu uma das obras fundamentais da música popular portuguesa. O
álbum duplo foi o terceiro e final capítulo da intitulada trilogia
“Lusitana Diáspora” – depois de “Por Este Rio Acima”
(1982, a partir da “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto) e
“Crónicas da Terra Ardente” (1994, debruçado sobre as viagens
marítimas dos navegadores portugueses). Baseando-se nestes trabalhos, foi para rever e reviver a
vida dum povo que, afinal, somos nós, que o músico e a sua banda
subiram ontem ao palco do Centro das Artes e do Espectáculo de Sever
do Vouga para uma noite absolutamente memorável.
Com as guitarras de “É o Mar Que Nos
Chama” em fundo, Fausto foi recebido pelo público que esgotava o
espaço com uma ovação estrondosa e que se perpetuou ao longo dum
concerto que foi de festa e celebração. “Por Este Rio Acima”,
considerado por muitos como o melhor álbum conceptual de música
portuguesa de sempre, está a soprar 36 velas e foi ele quem primeiro
saiu à liça. “O Barco Vai de Saída”, “A Voar por Cima das
Águas”, “A Guerra é a Guerra”, “Porque não me Vês” e
“Lembra-me um Sonho Lindo” fizeram gritar as gargantas do público
e resultaram em momentos únicos, a revisitação destes temas a
provar a sua força e actualidade. Saltou-se para as “Crónicas da
Terra Ardente”, mas a batida manteve-se... e o entusiasmo também.
Os ritmados “Ao Som do Mar e do Vento” e “A Deriva Porto Rico”
e o intimista “Todo Este Céu” deram o mote para “Na Ponta do
Cabo”, os oito músicos à frente do palco, só bombos e paus e
vozes, um dos momentos mais altos do concerto.
Ao último álbum da trilogia, “Em
Busca das Montanhas Azuis”, foi Fausto Bordalo Dias buscar cinco
temas para fechar o alinhamento do concerto... ou quase. “Velas e
Navios Sobre as Águas”, “E Viemos Nascidos do Mar”, “Fascínio
e Sedução”, “Bárbaras Iguarias” e “Por Altas Serras de
Montanhas” foram interpretados com a mesma garra e determinação
dos anteriores, colocando em evidencia a extraordinário uniformidade
do trabalho do cantautor. Tempo ainda para “Lusitana”, do Álbum
“Para Além das Cordilheiras”, um tema perfeitamente integrado
nestas histórias, crónicas e acontecimentos na vida de um povo que
foi alvo do fenómeno da diáspora. E, já no “encore”,
recordou-se “Foi Por Ela”, do mesmo álbum, colocando da melhor
forma um ponto final num concerto único.
Alguns dirão que ficaram por cantar
“Por Este Rio Acima”, “Navegar, Navegar” ou “Olha o Fado”;
outros lembrarão “Diluídos Numa Luz” ou “Ao Longo dum Claro
Rio de Água Doce”; outros, ainda, mais revivalistas, não
desdenhariam ter escutado “Uns vão Bem e Outros Mal”, “Atrás
dos Tempos Vêm Tempos” ou “Se tu Fores Ver o Mar (Rosalinda)”.
E isto só prova a qualidade e a vastidão da obra de Fausto Bordalo
Dias, uma obra que não cabe num concerto. Nem em dois... nem em três
(só os três álbuns da trilogia contemplam, no seu conjunto, 59
temas). Ontem foi-nos dado a ouvir um pedacinho do seu magnífico
trabalho. E foi um privilégio poder ter lá estado para o viver e
sentir!
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