EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Uma
Noite no Mar”,
de Alfredo Cunha
Museu Marítimo de Ilhavo
19 Mai > 30 Set 2018
Alfredo Cunha dispensa apresentações.
É ele o autor de algumas das fotos mais emblemáticas do 25 de Abril
e do pós-revolução, nomeadamente do período da descolonização.
“Raízes da Nossa Força”, “Vidas Alheias”, “A Norte”,
“Os Rapazes dos Tanques” ou “Fátima – Enquanto Houver
Portugueses” são relatos a preto e branco que têm a sua
assinatura e constituem peças fundamentais para se compreender a
essência do ser português. Mas o seu trabalho ultrapassa as
fronteiras e, com “Toda a esperança do Mundo”, mostra-nos, de
forma pungente, a luta dos escravos nas terras áridas do Níger, o
inconformismo dos habitantes dos bairros de lata do Bangladesh, os
pescadores no Sri Lanka – os mesmos a quem o mar que os alimenta
tudo levou num tsunami apocalíptico -, crianças que sobrevivem no
limbo surreal do Haiti, meninas que lutam contra a tradição na
Guiné-Bissau eoucurdos encurralados no Iraque pelo Estado Islâmico,
resistindo à barbárie e à extinção. São ainda dele, entre
outros, os incontornáveis “A Cortina dos Dias” e “Felicidade”,
viagens a muitos tons pelas últimas quatro décadas de Portugal e do
mundo.
De Alfredo Cunha aporta agora, ao Museu
Marítimo de Ilhavo, a exposição “Uma Noite no Mar”. Trata-se
dum conjunto de quatro dezenas de retratos que ilustram, com a força
do olhar do artista – por umas horas pescador e tripulante –, o
trabalho a bordo da traineira Henrique Cambola, acompanhando o mestre
e os pescadores na faina da sardinha. É o mar e são as pessoas que
andam em cima do mar o objecto desta mostra, como o são as histórias
dentro de cada uma das fotografias, marcas identitárias duma
comunidade de homens com um sentido do colectivo particularmente
vincado, assente nos laços de solidariedade e camaradagem que se
reforçam a cada saída para o mar. Mas é também a experiência
pessoal de Alfredo Cunha, a forma como consegue conciliar essa
capacidade de ver para além do óbvio e a forma como tira partido da
luz, que marca o sentido desta mostra.
Fechando um ciclo de eventos dedicados
a assinalar o Dia Internacional dos Museus, “Uma Noite no Mar” é
uma proposta particularmente sugestiva num Museu que tem por missão
a preservação da memória do trabalho no mar e a promoção da
cultura e da identidade marítima dos portugueses. A exposição é
acompanhada dum magnífico catálogo que pode ser adquirido na Loja
do Museu a um preço quase simbólico e que traduz o cuidado com que
o Museu trata os seus convidados. Importa não esquecer que as
mostras passam mas os catálogos, testemunhos da sua passagem,
permanecem. Agora que o Museu se prepara para assinalar a presença
do visitante número 1.000.000, é tempo de dirigir para lá os
passos e, a pretexto desta exposição, (re)visitar um espaço ímpar.
Como ímpar é “Uma Noite no Mar”, de Alfredo Cunha.
Li, e o mais importante, direccionou-me.
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