CONCERTO: Mallu Magalhães
Cine-Teatro de Estarreja
30 Mai 2018 | qua | 21:30
“Pode falar que nem ligo / Agora eu
sigo / O meu nariz / Respiro fundo e canto / Mesmo que um tanto
rouca”. Extraídas de “Velha e Louca”, canção que faz parte
de “Pitanga” (2011), o terceiro álbum de estúdio da cantora,
estas palavras poderiam muito bem definir os estados de alma de Mallu
Magalhães quando, na noite de ontem, subiu ao palco do Cine-Teatro
de Estarreja para duas horas de emoção e magia em torno da sua voz
e das suas melodias. Leve e descontraída, descomprometida, solta e
imensamente feliz, gargalhada espontânea, um sorriso cativante, a
cantora mostrou-se em palco como se estivesse em casa. Brindou o
público com quase duas horas de música, percorreu os sucessos
maiores da sua carreira, passou do intimismo à euforia com a
naturalidade das coisas simples e deixou a nota duma imensa
felicidade por estar ali a cantar para um público caloroso e
generoso. Mas estou em crer que, se àquela mesma hora, estivesse na
sala da sua casa enfiada num pijama flanelado azul com desenhos de
cegonhas, viola no colo, a cantar só para si, a felicidade não seria menor.
Fazendo incidir o alinhamento do
concerto nas músicas que compõem “Vem” (2017), o seu mais
recente álbum, a cantora não quis deixar de fora um conjunto de
músicas igualmente marcantes, ao encontro das expectativas do
público. Foi assim com “Sambinha Bom”, também do álbum
“Pitanga”, lançado ainda na fase inicial do concerto e que
resultou na primeira grande ovação da noite. Mantendo-se num
registo Bossa Nova, a cantora interpretou de seguida “Casa Pronta”,
um dos singles do álbum “Vem” e uma das bonitas - “As flores
na sala de estar / E os detalhes que você gosta / Eu fiz um quarto
pra você / Decorei até a sua porta” -, a letra toda ela uma
declaração de amor. Mudando para um registo mais pop, Mallu
Magalhães recordou “Seja Como For”, do projecto “Banda do Mar” (2014), do qual fazem também parte Marcelo Camelo e Fred Pinto Ferreira, regressando de seguida
a “Vem” e a outro dos hits do álbum, “Navegador” - “Quero
nadar nas ondas da felicidade / Tenho o tronco forte de navegador /
Quero provar o mel da liberdade / Tenho os pés descalços de
pescador” -, carta de intenções emotiva, firmada no seu mais
fundo.
O concerto seguia agora nos traços do
intimismo e “Olha Só, Moreno”, do álbum “Pitanga”, mostrava
como “juntinho”, “devagarinho” e “cabelo enroladinho”
podem rimar de forma mais encantadora quando entoados numa voz rouca,
cada palavra uma carícia. Seguiu-se “Linha Verde”, também
do álbum “Vem”, uma canção com um significado muito especial
para a cantora, repartida entre o Brasil onde nasceu e o Portugal onde
vive há cinco anos e onde nasceu a sua filha Luísa. Um tema onde
saudade e felicidade passeiam de mãos dadas “na multidão (…),
num fim de tarde”, um cheirinho de fado a realçar o encantamento.
De seguida, Mallu interpretou “Quando Você Olha Pra
Ela”, canção escrita para a voz de Gal Costa e que a Diva
transformou num enorme sucesso ao incluí-la no seu álbum
“Estratosférica” (2015), ao lado de outras canções de
compositores tão famosos como Milton Nascimento, Marisa Monte,
Arnaldo Antunes ou Caetano Veloso.
Até ao final, o alinhamento baseou-se
essencialmente no Álbum “Vem”, desde “Gigi”, um delicado e
poético tributo à sua mãe, a paisagista Gigi Arruda Botelho, a “São Paulo”, passando por “Você Não Presta”, “Será Que Um Dia”,
“Love You” ou “Vai e Vem”, estes dois últimos já no
“encore”. Tempo ainda para um regresso ao registo Bossa Nova com
“Cena” - “Vou fazer cena amor / Pra ver / Se vale a pena a dor
/ Só pr'eu ser tema desse teu compor” -, e também para um recuo ao
primeiro álbum da cantora, “Mallu Magalhães” (2009), com um
muito country “Shine Yellow”. Finalmente, de novo “Banda do
Mar” a encerrar o alinhamento com “Mais Ninguém” e depois,
fechando o Concerto, com o divertido “Muitos Chocolates”, a mais doce das despedidas. Para uns uma surpresa, para muitos a confirmação duma cantora e compositora de excepção, Mallu Magalhães foi gigante na noite de ontem. O seu concerto fez vibrar o público mas acredito que as palavras e a música da paulista tocaram ainda mais de perto os corações dos muitos irmãos brasileiros presentes na sala. Portugal e Brasil assim unidos, resta-me pôr um bocadinho de canela na voz e exclamar: Foi bonita a festa, pá!
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