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domingo, 25 de março de 2018

CONCERTO: "Nome Próprio", de Ana Bacalhau



CONCERTO: “Nome Próprio”, 
de Ana Bacalhau
Cine-Teatro Estarreja
24 Mar 2018 | sab | 21:30


“Tenho bichos-carapinteiros. Também são carpinteiros, claro, mas, sobretudo, carapinteiros. Quando era miúda, ouvia os graúdos a apontar-me o excesso de energia e inquietação e, sem perceber nada de carpintaria, convenci-me que o que me diagnosticavam era um caso bicudo de bichos que cara-pintavam. Foi assim que tive a ideia de pintar um sorriso na cara para ninguém notar que algo me moía por dentro. Resultou e lá fui eu, vida fora, sempre com os meus bichos-carapinteiros a roer-me as entranhas.” As palavras de Ana Sofia Dias da Costa Bacalhau dizem muito de si própria e do seu percurso, ela que começou a tocar guitarra e a cantar com 15 anos de idade e se tornou célebre como voz do Deolinda, um grupo inspirado pelo fado e pela música tradicional portuguesa.

Num momento de pausa do Deolinda, Ana Bacalhau chega até nós com o seu primeiro trabalho a solo, “Nome Próprio”, um álbum que apetece rotular de conceptual, de tal forma música, arte e narrativa se congregam para nos oferecerem uma imagem lúcida e divertida da cantora. Lançado em Outubro de 2017 e com passagem por várias salas do país, “Nome Próprio” apresentou-se enérgico e provocador no Cine-Teatro Estarreja, para mais um “Concerto Íntimo”. E foi de forma intimista que a cantora fez questão de partilhar as suas inquietações e os seus medos, as suas memórias, algumas fantasias, ainda esses mundos imaginários onde se esconde do mundo real. É isso que perpassa em “Só Eu” - uma expressão que a avó materna da cantora usava e que a inspirou a escrever esta canção - ou em “Menina Rabina”, ambas com música de Janeiro. Mas também em “Deixo-me Ir”, escrita e composta pela própria, a falar sobre a importância que cantar tem na sua vida.

O desejo que sempre a impeliu a desbravar novos terrenos, a assumir riscos e a partir à descoberta, parece ter sido assimilado por todos aqueles que com ela colaboraram neste álbum, como o demonstram Capicua, nessa verdadeira biografia “A Bacalhau”, mas também Nuno Figueiredo em “Vida Nova”, Samuel Úria em “Só Querer Buscar”, Nuno Prata em “Passo a Tratar-me por Tu”, Jorge Cruz em “Leve Como Uma Pena” ou Afonso Cruz em “Respirar”. Mas não se pense que este trabalho aponta apenas ao umbigo da cantora. A contrariar essa ideia estão “Ciúme”, de Miguel Araújo, a “Dama da Noite”, de António Zambujo e João Monge, a lindíssima “Maria Jorge”, de Márcia ou a divertido e inteligente “Debaixo da Mosca”, de Carlos Guerreiro. E ainda uma série de influências, de Carlos do Carmo aos Trovante, de Fausto a António Variações, a cujo universo a cantora fez questão de “roubar” uma ou outra canção que interpretou em palco. A estima, o amor, as aparas de tristeza e alegria, soube transformá-las Ana Bacalhau na música que foi possível escutar ao longo do concerto, correspondendo o público de forma generosa com a sua presença e as suas palmas. Nas palavras da artista e nos seus gestos é evidente uma enorme felicidade por ter conseguido aquietar os seus bichos-carapinteiros. Ainda que apenas momentaneamente!...

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