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sábado, 24 de março de 2018

FILME: "O Capitão"



CINEMA: “O Capitão” / “Der Hauptmann”
Realização | Robert Schwentke
Argumento | Robert Schwentke
Fotografia | Florian Ballhaus
Montagem | Michal Czarnecki
Interpretação | Max Hubacher, Milan Peschel, Frederick Lau, Bernd Hölscher, Waldemar Kobus, Alexander Fehling, Samuel Finzi
Produção | Frieder Schlaich e Irene von Alberti
França, Alemanha, Polónia, Portugal | 2017 | Guerra, Drama, Histórico | 118 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
23 Mar 2018 | sex | 21:30


A duas semanas do final da Segunda Guerra Mundial, o exército alemão encontra-se resumido a um grupo de homens desbaratado, desmoralizado, esfomeado, perdido dos seus ideais, sem liderança e que tenta sobreviver a todo o custo. É neste cenário caótico, de verdadeiro “salve-se quem puder”, que o jovem cabo Willi Herold, desertor em fuga, encontra uma farda de capitão. Sem pensar, veste o uniforme e apresenta-se como oficial, reunindo de imediato à sua volta um grupo de soldados prontos a segui-lo. Com receio de ser desmascarado, Herold assume gradualmente o papel de capitão sem escrúpulos, acabando por sucumbir à intoxicação do poder.

Rodado praticamente todo ele a preto e branco, com uma soberba fotografia de Florian Ballhaus (filho de Michael Ballhaus), “O Capitão” é uma fortíssima metáfora do poder, do fascínio que exerce e da forma como toma conta do ser humano. Adaptado de um livro baseado em documentos que provam diversas barbaridades cometidas por alemães contra alemães, nomeadamente os desertores, o filme evidencia o desdém sobre a condição humana, ou, se quisermos, a superioridade mesmo para além da raça. É um filme que confronta o espectador com a amoralidade dos actos quando assentes no embuste e na fraude, caucionados, em grande medida, pela ausência de referências.

Nesta abordagem dum mais que sombrio passado da Alemanha e dum momento particularmente negro da sua história, Robert Schwentke disseca, de forma brutal, as questões do poder, da autoridade e da obediência. Com a violência e a crueldade a subirem de tom à medida que o filme avança, é impossível ao espectador não sentir, de forma brutal, o estertor do regime nazi. E, no entanto, o alcance do filme prolonga-se muito para lá do 7 de Maio de 1945, como as últimas imagens, já com os créditos finais a passarem, evocam. Levando a farsa às últimas consequências, Schwentke convida o “capitão” e o seu grupo a atravessarem um caminho de sete décadas para prosseguirem com a sua prepotência e com os seus abusos nos dias de hoje, chocando uma sociedade incapaz de reagir adequadamente às ameaças que lhe são feitas, alheada, amorfa, acrítica. Nesta medida, “O Capitão” vem-nos dizer que os ciclos da história provam que os terríveis acontecimentos de ontem são a realidade do amanhã. Os discursos populistas da direita xenófoba, cuja ascensão nas democracias da Velha Europa não pode deixar de ser vista como um sinal de alarme, aí estão a prová-lo.

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