CINEMA: “O Capitão” / “Der
Hauptmann”
Realização | Robert Schwentke
Argumento | Robert Schwentke
Fotografia | Florian Ballhaus
Montagem | Michal Czarnecki
Interpretação | Max Hubacher,
Milan Peschel, Frederick Lau, Bernd Hölscher, Waldemar Kobus,
Alexander Fehling, Samuel Finzi
Produção | Frieder Schlaich e
Irene von Alberti
França, Alemanha, Polónia,
Portugal | 2017 | Guerra, Drama, Histórico | 118 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
23 Mar 2018 | sex | 21:30
A duas semanas do final da Segunda
Guerra Mundial, o exército alemão encontra-se resumido a um grupo
de homens desbaratado, desmoralizado, esfomeado, perdido dos seus
ideais, sem liderança e que tenta sobreviver a todo o custo. É
neste cenário caótico, de verdadeiro “salve-se quem puder”, que
o jovem cabo Willi Herold, desertor em fuga, encontra uma farda de
capitão. Sem pensar, veste o uniforme e apresenta-se como oficial,
reunindo de imediato à sua volta um grupo de soldados prontos a
segui-lo. Com receio de ser desmascarado, Herold assume gradualmente
o papel de capitão sem escrúpulos, acabando por sucumbir à
intoxicação do poder.
Rodado praticamente todo ele a preto e
branco, com uma soberba fotografia de Florian Ballhaus (filho de
Michael Ballhaus), “O Capitão” é uma fortíssima metáfora do
poder, do fascínio que exerce e da forma como toma conta do ser
humano. Adaptado de um livro baseado em documentos que provam
diversas barbaridades cometidas por alemães contra alemães,
nomeadamente os desertores, o filme evidencia o desdém sobre a
condição humana, ou, se quisermos, a superioridade mesmo para além
da raça. É um filme que confronta o espectador com a amoralidade
dos actos quando assentes no embuste e na fraude, caucionados, em
grande medida, pela ausência de referências.
Nesta abordagem dum mais que sombrio
passado da Alemanha e dum momento particularmente negro da sua
história, Robert Schwentke disseca, de forma brutal, as questões do
poder, da autoridade e da obediência. Com a violência e a crueldade
a subirem de tom à medida que o filme avança, é impossível ao
espectador não sentir, de forma brutal, o estertor do regime nazi.
E, no entanto, o alcance do filme prolonga-se muito para lá do 7 de
Maio de 1945, como as últimas imagens, já com os créditos finais a
passarem, evocam. Levando a farsa às últimas consequências,
Schwentke convida o “capitão” e o seu grupo a atravessarem um
caminho de sete décadas para prosseguirem com a sua prepotência e
com os seus abusos nos dias de hoje, chocando uma sociedade incapaz
de reagir adequadamente às ameaças que lhe são feitas, alheada,
amorfa, acrítica. Nesta medida, “O Capitão” vem-nos dizer que
os ciclos da história provam que os terríveis acontecimentos de
ontem são a realidade do amanhã. Os discursos populistas da direita xenófoba, cuja ascensão nas democracias da
Velha Europa não pode deixar de ser vista como um sinal de alarme, aí estão a prová-lo.
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