TEATRO: “Nathan, O Sábio”,
de Gotthold Ephraim Lessing
Tradução | Yvette K. Centeno
Encenação | Rodrigo Francisco
Cenografia | Pedro Calapez
Interpretação | André Gomes, André
Pardal, Guilherme Filipe, João Farraia, João Tempera, Leonor
Alecrim, Luís Vicente, Maria Rueff, Tânia Guerreiro
Produção | Companhia de Teatro de
Almada
Teatro Nacional S. João, Porto | 25
Mar 2018 | dom | 16:00
Estamos na Jerusalém do século XII,
acabada de conquistar pelo muçulmano Saladino, e onde vivem o judeu
Nathan e a sua filha adoptiva, a cristã Recha. A jovem acaba de ser
salva de um incêndio por um jovem cruzado, que a pede em casamento.
Mas nem o tolerante Nathan – que demonstra ao sultão Saladino,
através da célebre parábola dos anéis, que a religião perfeita é
aquela que torna os homens melhores – pode aceitar essa união. Na
verdade, existem outros laços a unir as duas jovens personagens
apaixonadas: laços fraternos, como se as diferentes religiões
tivessem, no fundo, a mesma origem.
Publicado em 1779, “Nathan, O Sábio”
é um dos textos basilares do teatro ocidental, através do qual o
seu autor veicula alguns dos princípios em que assentou o iluminismo
alemão, como o da tolerância religiosa e civilizacional. A sua
estreia absoluta em Portugal, na tradução de Yvette K. Centeno,
representa mais um passo importante na divulgação das
peças-matrizes da dramaturgia mundial junto do público português,
algo para o qual a Companhia de Teatro de Almada muito tem contribuído ao longo do
seu percurso artístico de quarenta anos.
Mais de dois séculos volvidos sobre a
sua redacção, “Nathan, O Sábio” revela-se duma actualidade e acutilância extraordinárias ao interrogar o espectador sobre a forma como entende e sente aqueles
que pensam de maneira diferente da sua. Demonstrando uma enorme
convicção em palco, os actores contribuem de forma brilhante para reforçar este propósito, cativando o público e levando-o a aderir à peça com o interesse que
ela merece. Destes, destacaria André Pardal, no papel do templário
perturbado e, naturalmente, Maria Rueff, representando Daya, a ama. A
forma como os quadros se vão sucedendo, ora deixando tudo em aberto, ora
resolvendo as várias situações, revela-se deveras inteligente. A
apropriação do espaço do palco é dinâmica e muito valorizada
pelo excelente trabalho de luz. A completar o todo, as telas de Pedro
Calapez, servindo de fundo a um palco despido de adereços – à
excepção dum tabuleiro de xadrez, numa das cenas -, conferem a nota
certa de intimidade ou distanciamento. Embora não responda a todas as questões - nem será essa, por certo, a sua intenção -, a peça despe-se de falsos moralismos, apontando os caminhos do livre pensamento e do respeito pelo outro, algo tão raro nos dias que correm.
[Foto: Companhia de Teatro de Almada /
ctalmada.pt/new/nathan-o-sabio-2/]
Sem comentários:
Enviar um comentário