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domingo, 25 de março de 2018

TEATRO: "Nathan, O Sábio"



TEATRO: “Nathan, O Sábio”,
de Gotthold Ephraim Lessing
Tradução | Yvette K. Centeno
Encenação | Rodrigo Francisco
Cenografia | Pedro Calapez
Interpretação | André Gomes, André Pardal, Guilherme Filipe, João Farraia, João Tempera, Leonor Alecrim, Luís Vicente, Maria Rueff, Tânia Guerreiro
Produção | Companhia de Teatro de Almada
Teatro Nacional S. João, Porto | 25 Mar 2018 | dom | 16:00


Estamos na Jerusalém do século XII, acabada de conquistar pelo muçulmano Saladino, e onde vivem o judeu Nathan e a sua filha adoptiva, a cristã Recha. A jovem acaba de ser salva de um incêndio por um jovem cruzado, que a pede em casamento. Mas nem o tolerante Nathan – que demonstra ao sultão Saladino, através da célebre parábola dos anéis, que a religião perfeita é aquela que torna os homens melhores – pode aceitar essa união. Na verdade, existem outros laços a unir as duas jovens personagens apaixonadas: laços fraternos, como se as diferentes religiões tivessem, no fundo, a mesma origem.

Publicado em 1779, “Nathan, O Sábio” é um dos textos basilares do teatro ocidental, através do qual o seu autor veicula alguns dos princípios em que assentou o iluminismo alemão, como o da tolerância religiosa e civilizacional. A sua estreia absoluta em Portugal, na tradução de Yvette K. Centeno, representa mais um passo importante na divulgação das peças-matrizes da dramaturgia mundial junto do público português, algo para o qual a Companhia de Teatro de Almada muito tem contribuído ao longo do seu percurso artístico de quarenta anos.

Mais de dois séculos volvidos sobre a sua redacção, “Nathan, O Sábio” revela-se duma actualidade e acutilância extraordinárias ao interrogar o espectador sobre a forma como entende e sente aqueles que pensam de maneira diferente da sua. Demonstrando uma enorme convicção em palco, os actores contribuem de forma brilhante para reforçar este propósito, cativando o público e levando-o a aderir à peça com o interesse que ela merece. Destes, destacaria André Pardal, no papel do templário perturbado e, naturalmente, Maria Rueff, representando Daya, a ama. A forma como os quadros se vão sucedendo, ora deixando tudo em aberto, ora resolvendo as várias situações, revela-se deveras inteligente. A apropriação do espaço do palco é dinâmica e muito valorizada pelo excelente trabalho de luz. A completar o todo, as telas de Pedro Calapez, servindo de fundo a um palco despido de adereços – à excepção dum tabuleiro de xadrez, numa das cenas -, conferem a nota certa de intimidade ou distanciamento. Embora não responda a todas as questões - nem será essa, por certo, a sua intenção -, a peça despe-se de falsos moralismos, apontando os caminhos do livre pensamento e do respeito pelo outro, algo tão raro nos dias que correm.

[Foto: Companhia de Teatro de Almada / ctalmada.pt/new/nathan-o-sabio-2/]

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