CONCERTO: Mário Laginha e
Pedro Burmester
Cine-Teatro de Estarreja
03 Mar 2017 | Sab | 21:30
De dois nomes tão grandes como são os de Mário Laginha e Pedro Burmester espera-se sempre o melhor, momentos únicos de contemplação
por paisagens interiores raramente visitadas, a emoção à flor da
pele em cada nota dedilhada, a música a invadir-nos e a fazer-nos sorrir, felizes. E, todavia, não foi exactamente isso que aconteceu na noite
de ontem, em Estarreja. Os dois pianistas pautaram as suas
intervenções pela correção técnica, mas foi só. O diálogo que se
esperaria numa execução a dois pianos e a enorme cumplicidade de
mais de 20 anos de carreira (e de amizade) não foram a nota dominante,
carregando o concerto de razão mas tornando-o quase vazio de emoção.
A força interpretativa dos dois pianistas ficou bem patente na primeira parte do
programa, primeiro numa composição de Astor Piazzolla e depois
numa peça composta por Mário Laginha e que, ao longos dos seus três
andamentos, se revelou sublime na descrição de paisagens
profundamente humanizadas – o ruído de passos na calçada molhada,
a animação duma praça, o ruído duma fábrica ou o repicar dos
sinos na igreja – ou mais intimistas. Sem dúvida, o grande momento
da noite.
Após um curto intervalo, a segunda
parte do concerto abriu com interpretações a solo, primeiro de
Mário Laginha, impondo novos ritmos a uma revisitação de Chopin e
aproximando-o das sonoridades do Jazz, e depois de Pedro Burmester –
de novo Chopin, agora com a sua Balada nº 1 em Sol menor, Op. 23 -,
naquela que foi a interpretação mais “classicista” da noite e,
seguramente para muitos, a mais bela. Prelúdio à Sesta de um Fauno,
de Claude Debussy, dispensava bem um dos pianos e a Valsa de Maurice
Ravel pareceu ser uma escolha pouco feliz para encerrar o programa, com os seus
momentos mais nervosos, mesmo caóticos e pouco musicais a não
deixarem a melhor das impressões. Aquilo que se esperaria do concerto
acabou por surgir já nos dois “encores”, primeiro com uma música toda
ela samba-enredo, tocada num piano a quatro mãos, e depois numa
composição melancólica e muito bela, que poderia muito bem ser uma
homenagem a Bernardo Sasseti, com quem os pianistas desenvolveram o
projecto “3 Pianos” e que deu origem a um CD + DVD com o mesmo
nome. Pouco, muito pouco para quem tanto ansiava!
[Foto: Amin Chaar / jn.pt]
Sem comentários:
Enviar um comentário