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domingo, 4 de março de 2018

CONCERTO: Mário Laginha e Pedro Burmester


CONCERTO: Mário Laginha e Pedro Burmester
Cine-Teatro de Estarreja
03 Mar 2017 | Sab | 21:30


De dois nomes tão grandes como são os de Mário Laginha e Pedro Burmester espera-se sempre o melhor, momentos únicos de contemplação por paisagens interiores raramente visitadas, a emoção à flor da pele em cada nota dedilhada, a música a invadir-nos e a fazer-nos sorrir, felizes. E, todavia, não foi exactamente isso que aconteceu na noite de ontem, em Estarreja. Os dois pianistas pautaram as suas intervenções pela correção técnica, mas foi só. O diálogo que se esperaria numa execução a dois pianos e a enorme cumplicidade de mais de 20 anos de carreira (e de amizade) não foram a nota dominante, carregando o concerto de razão mas tornando-o quase vazio de emoção.

A força interpretativa dos dois pianistas ficou bem patente na primeira parte do programa, primeiro numa composição de Astor Piazzolla e depois numa peça composta por Mário Laginha e que, ao longos dos seus três andamentos, se revelou sublime na descrição de paisagens profundamente humanizadas – o ruído de passos na calçada molhada, a animação duma praça, o ruído duma fábrica ou o repicar dos sinos na igreja – ou mais intimistas. Sem dúvida, o grande momento da noite.

Após um curto intervalo, a segunda parte do concerto abriu com interpretações a solo, primeiro de Mário Laginha, impondo novos ritmos a uma revisitação de Chopin e aproximando-o das sonoridades do Jazz, e depois de Pedro Burmester – de novo Chopin, agora com a sua Balada nº 1 em Sol menor, Op. 23 -, naquela que foi a interpretação mais “classicista” da noite e, seguramente para muitos, a mais bela. Prelúdio à Sesta de um Fauno, de Claude Debussy, dispensava bem um dos pianos e a Valsa de Maurice Ravel pareceu ser uma escolha pouco feliz para encerrar o programa, com os seus momentos mais nervosos, mesmo caóticos e pouco musicais a não deixarem a melhor das impressões. Aquilo que se esperaria do concerto acabou por surgir já nos dois “encores”, primeiro com uma música toda ela samba-enredo, tocada num piano a quatro mãos, e depois numa composição melancólica e muito bela, que poderia muito bem ser uma homenagem a Bernardo Sasseti, com quem os pianistas desenvolveram o projecto “3 Pianos” e que deu origem a um CD + DVD com o mesmo nome. Pouco, muito pouco para quem tanto ansiava!

[Foto: Amin Chaar / jn.pt]

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